terça-feira, 17 de abril de 2012

POLÍTICA - Santayana, Noblat e o cachoeiroduto.

CPI do Cachoeiroduto: análise de Santayana desintegra a de Noblat

Artigo de Noblat camufla nas entrelinhas sérias ameaças a Dilma: como "conselheiro e amigo" do governo, o colunista aconselha a presidenta a intervir na base para recuar desta ideia de instalar CPI do Cachoeira
A imprensa colocou em prática a operação abafa do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Veja, a estratégia, compartilhada por jornalões, jornalistas renomados e pela Globo é afirmar que a criação da CPI que investiga os malfeitos cometidos em associação ao contraventor Carlinhos Cachoeira só existe para encobrir o mensalão e eximir de culpa seus envolvidos em julgamento no STF.

Cada coisa a seu tempo e com seu juízo e valor.

O esforço mais impressionante de fazer a opinião pública crer nesta tese partiu de Ricardo Noblat, colunista de O Globo, titular de um dos blogs institucionais mais lidos do jornal carioca.

A maneira como se atreve a entrar na linha tênue entre aquilo que é real e ficção pode criar ciumeiras com seu colega imortal, Merval Pereira.

Noblat brinda a seus leitores com uma frase de Romero Jucá, senador do PMDB de Roraima e ex-líder do governo no senado, para persuadir opinião pública e Dilma de que esta idéia de CPI é prejudicial ao governo e ao país. Segundo o senador Jucá, uma investigação no Congresso sobre o envolvimento de políticos da oposição, maioria, da situação, alguns, e profissionais da grande imprensa, principalmente da Veja, perturbaria o governo e aliados. Às suas palavras, aceitas e defendidas por Noblat: "acho que era preciso aguardar um pouco. Acho uma temeridade abrir uma metralhadora giratória agora que vai perturbar tudo. Há um ambiente de preocupação. Quem tem experiência de CPI sabe que pode ser um instrumento de perturbação para o governo.”


O blogueiro de O Globo nunca cansou de girar sua metralhadora contra o governo e Jucá, baseadas em informações de "assessores próximos" ou "pessoas ligadas ao senador" entre outros sujeitos indeterminados para corroborar teses que não se confirmaram, com o único objetivo de criar boatos e gerar ruídos na relação do governo e sua base parlamentar.

Noblat nunca preocupou-se em fazer análises do que poderia ser bom ou não para o governo, não neste papel que arroga para si neste momento, o de conselheiro político em nome do bem de Dilma e de sua administração.

Tamanha dedicação e amizade políticas não se encaixam na figura de um dos maiores plantadores de crises do Planalto, um crítico contundente de todas ações públicas que foram desenvolvidas desde que Lula assumiu o comando do país em 2003.

Percebendo que a situação agora desanda e que a CPI pode representar a possibilidade de uma depuração dos modos políticos e de alguns personagens deste meio e da imprensa, Noblat desanca críticas pesadas contra Dilma em seu artigo.

Para ele Dilma não manda no governo, Lula seria o seu mentor, a quem serve agora para proporcionar uma vingança do ex-presidente e de Dirceu contra aqueles que os acusaram em 2005.
O problema, segundo o colunista de O globo, foi a cura da laringe de Lula, de certo aguardava que o ex-presidente não se recuperasse mais.

A cura de Lula pode ter criado o ânimo para sua executar sua vendeta, o que para Noblat pode causar grande rebuliço e desestabilização do governo, segundo o jornalista "o Congresso estava relativamente em paz – salvo uma marolinha ou outra, o que é natural".


Oras, quem acompanha o noticiário nacional já deve ter lido dezenas de artigos deste sujeito condenando o modo operante da base aliada e a constante eclosão de crises no Congresso, que até hoje eram, por suas análises, graves e comprometiam seriamente a continuidade deste governo e o sucesso dos partidos aliados nas eleições de outubro. Quanta desfaçatez...


Resumindo a ópera, Noblat acha uma temeridade que Dilma chancele esta iniciativa ou não entre no circuito para brecar seus apoiadores no congresso sobre esta CPI para investigar o cachoeiroduto e seus associados, que teria sido arquitetada "há duas semanas em São Paulo com José Dirceu, Lula(...) que nasceu a ideia de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as bandidagens cometidas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e quem mais tenha se relacionado com eles."


Noblat concorda que houve bandidagem na relação de um contraventor com um senador importante da oposição, amigo da imprensa conservadora brasileira e aclamado por estes como um legítimo "menestrel da ética".
Mas então por que não investigar, nobre jornalista?
As bandidagens originadas por estas relações escusas não seriam motivos mais do que suficientes para merecer a atenção dos parlamentares, da imprensa e da sociedade em uma comissão parlamentar?
Não há aí uma contradição, fruto do desespero de quem age em nome de interesses que, por ora, se mostram vulneráveis e ameaçados pelo poder de fogo de uma CPI?
Noblat defendeu, a exceção da CPI da Privataria e esta agora, que todas as outras investigações solicitadas pela oposição contra o governo fossem instaladas e chegassem a raiz dos desvios para apontar culpados e defenestrá-los de suas posições?
Por que este recuo agora?

São muitas questões, mas uma certeza sólida: não é por admiração ao governo Dilma e a tudo que representa que Noblat se deu ao trabalho de escrever um artigo tão torto, em seu blog em O Globo, para defender que a presidenta intervenha politicamente para abafar a CPI que o Congresso criou e seguir governando em paz, como na certeza de suas palavras que "Dilma está empenhada em abortar a CPI de Lula. Com delicadeza."

Noblat age, desta forma, como preposto das forças conservadoras que, ameaçadas, rangem os dentes e ladram ameaças camufladas nas entrelinhas, ou muito claramente: se vier com CPI vamos desestabilizar o governo de vocês.

Santayana, colunista do JB, talvez tenha tocado no ponto que desagrada a Noblat e a grande imprensa neste enredo de incertezas, ilações e envolvimentos suspeitos: "Se há órgãos de imprensa mancomunados com o corruptor goiano, que sejam conhecidos. Nesse caso, mais do que o rigor da lei, se a lei lhes puder ser aplicada, pesará o juízo da opinião pública. À imprensa cabe, nas democracias, a desagradável tarefa de fiscalizar as instituições políticas, a serviço da cidadania. Será muito grave se se descobrir que esse ou aquele jornalista tenha agido como o Senador Demóstenes Torres parece ter atuado: em público, ao posar Catão usticense; nas sombras, recebendo ordens, como obediente assalariado do contraventor goiano."


Apesar da ostentação dos milhares de leitores diários que Noblat usa para conferir-se importante, fico com a análise criteriosa e, principalmente, coerente de Santayana.
 
Fonte: Palavras Diversas.

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