quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Quem tem medo do Barbosão?



Carlos Chagas

A melhor resposta a essa pergunta seria dizer: “todo mundo”. Claro que uns mais, outros menos. O medroso mais recente parece ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, menos porque as  pesquisas revelam o presidente do Supremo Tribunal Federal com percentuais superiores a Aécio Neves e a Eduardo Campos, perdendo apenas para Dilma, mais porque a vaidade do sociólogo continua monumental.
Referindo-se como uma aventura  a hipotética candidatura de Barbosa ao palácio do Planalto, FHC negou-lhe “as características necessárias para conduzir o Brasil sem causar grandes crises”. Acrescentou faltar ao  ministro traquejo para a vida partidária, “pois uma coisa é ser juiz e outra ter a capacidade de liderar um país”.
Mesmo elogiando sua performance como relator do mensalão, “tendo atuado com perseverança e clareza”, agrediu possíveis    eleitores de Barbosa como despreparados que desejam um “salvador da pátria”, coisa que “não dá bom resultado e mostra que a nossa democracia ainda não está consolidada. É perigoso”.
Dispensa-se um diploma de psicólogo ou de psiquiatra para perceber nas palavras de Fernando Henrique três motivações: ressentimento, frustração e medo. Primeiro porque até hoje o ex-presidente da República não admite possa governar alguém  mais capaz do que ele. Assim pensa do Lula e de Dilma, com respingos para Aécio. Depois porque apesar de entrado nos anos, conserva aquele recôndito desejo de que ainda o venham buscar como candidato. Por último, revela o receio de Barbosa emplacar e chegar ao segundo turno, sufocando o sonho dos tucanos.
Mas não é apenas o ex-presidente que teme a candidatura do presidente do Supremo. No PT, os partidários da reeleição de Dilma não se assustam com a perspectiva do segundo turno,  caso o adversário venha a ser Aécio. Mas tremem diante  da hipótese de Barbosa, senão como “salvador da pátria”, ao menos como alguém desvinculado dos partidos e das práticas vigentes no mundo político. A tal  “coisa nova” que de vez em quando atropela as campanhas presidenciais, como se verificou com Jânio Quadros e, depois, com Fernando Collor.
Existem, no entanto, entre os companheiros, aqueles que torcem pela candidatura de Barbosa. São os adversários de Dilma, buscando a alternativa de fazer do Lula o candidato. Face a um crescimento do ministro, por certo que na dependência de sua decisão de concorrer,  só o Lula para garantir a preservação do poder.
Sintomático na entrevista de Fernando Henrique, voltando-se a ela, foi a sugestão que deu: Barbosa deveria começar na política candidatando-se a vice-presidente. Seria manobra para o PSDB apropriar-se da popularidade dele? Mas se não serve para presidente, como serviria para  substituto ou sucessor?
Em suma, o ano se inicia com o nome do presidente da mais alta corte nacional de justiça ocupando manchetes. Até  agora ele se mantém calado, sem alimentar especulações. Dispõe de três meses e pouco para meditar,  porque em abril encerra-se o prazo para magistrados se candidatarem, quando então precisarão filiar-se a partidos políticos. Barbosa já criticou todos  num só comentário, tempos atrás.  Partidos, porém, não lhe faltarão…

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