sábado, 28 de julho de 2012

ECONOMIA - "Viemos para aprender da América Latina".

“Viemos para aprender da América Latina”, diz economista europeu. O economista Costas Lapavitsas, professor da Universidade de Londres e assessor do Syriza, partido grego de esquerda, estima que seu país declare moratória e deixe o euro. Disse que somente Alemanha e – um pouco – França se beneficiam com a crise. A reportagem é de Javier Lewkowicz, publicada no jornal Página/12. O PIB poderia cair de 7 a 9% neste ano, e em 2013, 10%. A dívida pública, que representa 160% do Produto, apesar de um violento ajuste fiscal, chegará a 170% no próximo ano. A Grécia, então, entrará em moratória num período que vai dos próximos seis meses a doze meses e, posteriormente, abandonará a zona do euro, após ter passado, em apenas cinco anos, de um país com rendimentos médios a um em vias de desenvolvimento. Sua saída fará com que a moeda regional corra perigo de desaparecer. Esse panorama trouxe o prestigioso economista grego Costas Lapavitsas, professor da Universidade de Londres e assessor do Syriza, partido grego de esquerda, ao seminário “Crise internacional: seu desdobramento na Europa e potenciais impactos na América Latina”, organizado ontem pelo Cefid-Ar [Centro de Economia e Finanças para o Desenvolvimento da Argentina]. Após sua exposição sobre a União Europeia, compreendeu-se melhor a frase que deu início à sua apresentação: “Ao contrário de como era antes, hoje os analistas da Europa, especialmente dos países do Sul, vêm para aprender da América Latina”. Lapavitsas ganhou destaque na economia heterodoxa, a partir do estouro da crise internacional, cuja atual segunda fase tem o epicentro na União Europeia. O economista publicou numerosos trabalhos sobre a falácia que supõe adjudicar a crise europeia a uma excessiva expansão fiscal. Ao contrário, propõe se enforcar nos desequilíbrios comerciais gerados pela união monetária, que são aproveitados pela Alemanha e – em menor medida – pela França, e padecidos pela Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal e Itália. Em paralelo, há uma gigantesca expansão que permite sustentar os déficits através do crescimento da dívida pública e privada. O economista heleno alimenta que uma característica central do euro é que cumpre a forma de dinheiro de aceitação global, sustento do valor de enormes volumes de ativos, meio de troca de pagamentos internacionais e principal competidor do dólar nessa lógica. No entanto, além disso, a moeda europeia tem as funções de dinheiro doméstico, que é unidade de conta em contratos locais e meio de pagamento em transações internas. “Da forma como está concebida a União Europeia, esses dois papéis são incompatíveis, disso vem a instabilidade. E as mudanças necessárias para compatibilizá-los são impossíveis de se realizar, dadas as atuais condições”, explicou. Inflação, desequilíbrios em conta corrente e nos fluxos de capital, em países que fazem parte do euro, complicam as funções do dinheiro mundial. Para combater esses fenômenos, em nível regional, existe somente o Banco Central Europeu, que possui uma única política monetária para todos os países. “O fracasso foi total. Houve inflação alimentada pela periferia europeia em relação com a Alemanha, que obteve um persistente superávit em conta corrente contra estes países. Para financiar esse desequilíbrio em conta corrente, os bancos alemães aumentaram seus empréstimos até antes da crise e, posteriormente, os bancos centrais fizeram isso, gerando desequilíbrios de fluxos capitais”, apontou Lapavitsas. A União Europeia, na busca em manter o caráter de dinheiro mundial do euro, aplicou uma política homogênea para realidades diferentes, segundo cada país, uma contradição que faz cambalear o grupo regional. “Agora, a política do bloco é estabilizar as condições internacionais do euro, com maior austeridade, privatização e liberalização. O papel da moeda doméstica ficou subordinado e gerou o colapso da demanda, mais dívida e altos custos sociais”, destacou. “Para que coexistam as funções de dinheiro mundial e doméstico seria necessário um Plano Marshall para a periferia, que melhore sua competitividade, e que a Alemanha suba salários e possua maior demanda interna. Além de um repúdio total da dívida, em muitos países, reestruturação das finanças e uma melhor distribuição de rendimentos. Antes que isso aconteça, é mais provável que a união monetária se rompa, e acredito que a Grécia dará o primeiro passo nesse sentido”, vaticinou. Lapavitsas, assessor do Syriza, partido opositor grego de esquerda, sustenta que o país helênico “declarará moratória e deixará o euro nos próximos seis meses ou um ano”. “O gasto público continua caindo, da mesma maneira que o investimento, diante da falta de liquidez, e o consumo, afogado pelo crescente peso das dívidas num cenário de deflação. As exportações não crescem mais, há uma enorme onda de quebras e os bancos perdem depósitos”, descreveu. Ao mesmo tempo, analisou que, desde o início da crise, o PIB grego caiu 30%; e, desde o início de 2011, os salários reais caíram até 23% em alguns casos. “A resposta neoliberal são sucessivos resgates que não servem para nada, são como o “megacanje” [operação financeira no governo argentino de Fernando de la Rúa] do fim da convertibilidade”, comparou Lapavitsas.

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