segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ENERGIA - Fósseis e renováveis na disputa pela Casa Branca

Fósseis e renováveis na disputa pela Casa Branca


Por Renato Queiroz
A imprevisibilidade da disputa presidencial americana vem mexendo com os analistas em política energética e os consultores dos portfólios da indústria mundial de energia, sobretudo com a possibilidade da volta de um governo republicano. Está no ar a seguinte questão no ambiente energético global: quais energéticos vencerão as eleições americanas?
As discussões sobre os programas de governo e os discursos e as entrevistas dos candidatos Obama e Romney são analisados nos seus pormenores pela “comunidade energética mundial” na busca de sinais sobre que energéticos poderão ter prioridades em seus usos indicando, assim, os negócios promissores da indústria energética que movimenta centenas de milhões de dólares pelo mundo.
A crescente demanda mundial por energia, em conjunto com as políticas dos governos para diversificar as fontes de energia – seja por razões de redução de emissões de gases de efeito estufa, seja pela busca de uma maior segurança energética ou na estratégia de alavancar as economias em tempos de crise – têm impulsionado a demanda de energéticos não convencionais.
Nesse bojo não se encontram somente os renováveis, mas também o gás natural como um representante de respeito entre o time dos fósseis. Afinal, o peso do gás natural na agenda energética dos Estados Unidos vem crescendo em ritmo acelerado nos últimos 10 anos, e o gás não convencional vem puxando esse movimento.
O candidato Mitt Romney usa o termo de independência americana em sua agenda de governo para defender uma maior produção de petróleo no país. Esse jargão “projeto de independência americana” foi usado pelos políticos americanos nas crises do petróleo nas décadas de 70. Parece, a princípio, uma gíria um pouco fora de moda, já que desde a era Nixon os americanos a escutavam frequentemente de vários políticos. Mas uma coisa é certa: os Estados Unidos não gostariam de depender de uma unidade de energia, sequer, de regiões politicamente instáveis, como o Norte de África e/ou Médio Oriente.
Os americanos importam 56% do petróleo que consomem, sendo que 22% do Canadá, 12% do México e 22% do Iraque. O candidato Romney, de posse desses números, sinaliza na sua plataforma que a indústria de petróleo e gás será a base de sua política energética. O republicano declarou que, se eleito, vai aprovar imediatamente o polêmico projeto do oleoduto “Keystone XL Pipeline” que vem gerando muitas discussões entre ambientalistas, políticos e jornalistas, entre outros. Esse projeto é uma espécie de Belo Monte brasileiro. Frequentemente novas polêmicas surgem.[1] Esse projeto que traria o óleo extraído das areias betuminosas de Alberta possui um forte apelo popular, pois traz expectativas de criação de muitos postos de trabalho. Vários analistas estimam que as reservas canadenses de areias betuminosas (Oil Sands) e petróleo pesado (crude – heavy) sejam bem superiores às reservas da Arábia Saudita e estão localizadas praticamente na província de Alberta.
Esse projeto é defendido pelos republicanos que acrescentam que o oleoduto provocará a queda do preço da gasolina. Romney já declarou, em seus discursos, que vai reduzir o preço da gasolina para US$ 2,50 dólares o galão (3,78 litros) que hoje ultrapassa US$ 4 o galão em certos estados.
Mas nem tudo parece negro e sem um tom de verde na plataforma republicana. O documento intitulado “Agricultural Prosperity-Mitt Romney’s Vision for a Vibrant Rural America” aponta que serão mantidos os padrões de combustíveis renováveis, trazendo a perspectiva aos produtores de biocombustíveis e refinadores de que eles devem continuar a investir em tecnologias inovadoras e promissoras, pois o governo federal vai manter os compromissos definidos no documento.
O que se depreende das análises de articulistas de várias mídias é que a vitória republicana pode representar a vitória das “majors” do petróleo. E há ainda um entendimento de que, no cenário energético de Romney, haverá cortes nos subsídios das chamadas “energias da economia verde”. No primeiro debate entre os 2 candidatos, o republicano atacou o investimento do pacote de estímulo para a pesquisa sobre painéis solares e carros elétricos, lançado por Obama em 2009.
Analisando o que o democrata Obama vem afirmando no campo da energia, o entusiasmo não parece ser o mesmo de 2008, em se tratando de renováveis. De fato, Obama naquela época anunciava grandes conquistas econômicas com o desenvolvimento da indústria verde. Os objetivos de Obama eram audaciosos, visando eliminar a dependência do petróleo importado e combater o aquecimento global. A meta era clara: reduzir o uso de combustíveis fósseis, base da matriz energética americana. No entanto, seu programa “verde” que empolgava os ambientalistas, quando da sua chegada à Casa Branca, necessitou de um freio. Afinal seus anseios não estavam no mesmo nível que o dos congressistas americanos.
Mas deve ser reconhecido que os Estados Unidos dobraram a produção de energia solar e eólica nos últimos anos. Contudo a promessa de que essa indústria traria abundância para a economia americana, como foi anunciada, é contestada por analistas econômicos. Já se escuta do atual presidente que o mix energético é a solução. Ou seja, a energia renovável terá de conviver com o petróleo e o gás americano.
Vale lembrar que o presidente Obama, em maio de 2011, propôs a realização de leilões anuais para a exploração de novos lotes na Reserva Nacional Petrolífera do Alasca e ainda acelerar os estudos sismológicos e de impacto ambiental à perfuração na costa Sul e Central do Atlântico.
Quanto ao polêmico projeto Keystone XL o presidente, no entanto, vem alegando que há grandes problemas ambientais em sua rota tendo, inclusive, confrontado com republicanos no Congresso sobre o assunto. O projeto total exige autorização presidencial por se tratar de uma construção entre Canadá e EUA. Mas há também que se destacar a pressão do governo do Canadá para a viabilização desta obra, pois as empresas canadenses necessitam de alternativas para distribuir ao mercado americano seus bilhões de barris das reservas de petróleo do litoral de Alberta. E se considerarmos os avanços na tecnologia, essas reservas podem se multiplicar. Adicionando a essas expectativas do país vizinho, há também pressões do Congresso americano, para que o país dependa cada vez menos do Oriente Médio. Tais fatos podem mudar o pensamento de Obama, se eleito, em relação ao oleoduto.
No governo democrata atual, houve avanços no setor de transporte voltados à redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. Foram estabelecidas medidas definindo que os novos modelos de veículos devem ser menos poluentes e com menor consumo de combustível.
A indústria do carvão recebeu, também, um ânimo na atual disputa à Casa Branca. Como as atividades dessa indústria estão concentradas em estados onde a disputa eleitoral é acirrada, os candidatos buscam o tema nos discursos nesses locais. A queda de geração térmica a carvão caiu na administração Obama, repercutindo na oferta de empregos. Nessa busca de votos surgem os compromissos e as promessas dos candidatos. Obama, nessa reta final, já admite desenvolver tecnologias limpas para uso de carvão (OPEU 2012b).
Um energético importante é o gás não convencional que deve continuar a ser um ator importante na segurança dos Estados Unidos e em seu planejamento energético e econômico em qualquer administração. Os Estados Unidos correram na frente e dominam as técnicas de sua exploração e certamente têm uma grande quantidade de patentes. Isso traz certa dependência econômica de outros países aos EUA, pois as reservas mundiais desse energético são grandes. Neste contexto os candidatos não vão agir contra essa indústria. O republicano, inclusive, já declarou que vai incentivar o uso de terras do Estado para a exploração desse energético.
Nesse sentido uma sinalização evidente, no caso do retorno de um governo republicano, é um maior fortalecimento para a indústria de fósseis. Mitt Romney tem afirmado que estimularia a produção doméstica de combustíveis fósseis e diminuiria as regulações ambientais (OPEU 2012a). Percebe-se que a Casa Branca daria aos estados mais liberdade para perfurar e explorar óleo em novos territórios norte-americanos como o Alasca; retomaria, ainda, a exploração ao longo da costa Leste, na Flórida, Carolina do Norte e Virgínia e Golfo do México. A perda de espaço das renováveis com cortes dos subsídios também é uma sinalização evidente, quando se analisam os discursos e debates de Mitt Romney.
Em uma continuidade do governo democrata, o programa energético deve ser diferente do primeiro governo, com mais pragmatismo do que em 2008. As ações para que os americanos vivam sob uma economia energética de baixo-carbono seriam menos emocionais. As metas para uma matriz “verde” deverão ser desenvolvidas gradualmente sob um prazo mais longo. Obama parece ter entendido que a sociedade americana não muda seus hábitos culturais de viver com abundância e fartura em 4 anos de governo. E, ainda, que há um jogo de negócios entre as indústrias energéticas. Um verdadeiro cabo de guerra. Afinal são milhões de dólares em jogo.
A plantação de “sementes energéticas verdes” deve continuar se Obama for eleito. Mas os frutos serão colhidos com mais lentidão, até que novos hábitos sejam incorporados pelas gerações. Isto é, em um governo democrata não deve haver um plano de substituições de energéticos por outros. Todas as oportunidades para desenvolvimento de uso de fósseis e de renováveis poderão estar no campo do jogo energético americano sob o comando de Barack Obama e seu time.
A resposta final sobre quais energéticos vencerão as eleições americanas será dada agora em Novembro, quando ocorrerá a 57ª eleição presidencial dos Estados Unidos.
Referência Bibliográfica
LESNES, Corine. Pétrole contre énergies vertes: une bataille au cœur de la présidentielle américaine. Le Monde. Disponível em < file:///I:/Infopetro%20Artigo%2015/Artigo/petrole-contre-energies-vertes-une-bataille-au-c-ur-des-presidentielles-americaines_1776035_3210.html> Acessado em 16 de outubro de 2012.
OPEU [2012a]- Observatório Político dos Estados Unidos de 29/02/2012 – A Casa Branca apóia a construção parcial do oleoduto Keystone XL. Disponível em <http://www.opeu.org.br/>. Acessado em 15 de outubro de 2012.
OPEU [2012b] Observatório Político dos Estados Unidos de 22/10/2012-Carvão ganha importância em corrida presidencial. Acessado em 25 de outubro de 2012. Disponível em http://www.opeu.org.br/
ROSENTHAL, Elisabeth. Canadá procura alternativas para transportar reservas de petróleo. The New York Times. Disponível em <http://nytsyn.br.msn.com/negocios>. Acessado em 15 de outubro de 2012.
ROMNEY, M; RYAN, P. Agricultural Prosperity: Mitt Romney’s Vision For A Vibrant Rural America. Disponível em: < http://www.mittromney.com/blog/agricultural-prosperity-mitt-romneys-vision-vibrant-rural-america>. Acessado em 15 de outubro de 2012.

[1] A rede de dutos Keystone transporta petróleo do Canadá para os Estados Unidos. Existem vários ramais existentes do oleoduto, que se estendem ao sul de Alberta, no Canadá e em toda a fronteira EUA e Canadá para terminais em Illinois, Nebraska e Oklahoma.

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