sábado, 23 de janeiro de 2016

ECONOMIA - Ainda sobre a reação dos parasitas do capitalismo.



         

É preciso combater os altos juros como grande problema nacional

A reação dos porta-vozes do mercado financeiro contra a decisão tomada ontem (20) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) beirou ao rancor. Houve quem dissesse que foi uma espécie de armação a divulgação, na terça-feira (19), véspera da reunião de uma nota oficial do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comentando a previsão pelo FMI de um desempenho desastroso para a economia brasileira em 2016. Tombini teria jogado para manter-se no cargo, disseram aqueles maledicentes da mídia. Alegaram que perdeu sua autonomia em relação ao governo. Isso é um absurdo. Tombini faz parte de uma equipe de governo, seu cargo é equivalente a ministro.

Mas os porta-vozes do “mercado” – isto é, do grande capital financeiro, do rentismo e da especulação – insistem em sua versão própria do que seja o poder público. À presidenta Dilma Rousseff cabe a administração e a política. Às autoridades financeiras (como queriam antes com Joaquim Levy, e insistem com a tese da autonomia do Banco Central) caberia, na expectativa desses sabichões do grande capital, administrar as finanças do governo.

Querem um governo esquizofrênico – a política de um lado, e a economia de outro, sob o mando do grande capital financeiro.

Ora! O presidente do Banco Central faz parte de um governo com o qual deve estar em sintonia, e não com o chamado “mercado”.

A reação contra a decisão tomada pelo Copom reflete a força do rentismo, contrário ao “empate” que ocorreu na reunião. “Empate” não pelo resultado da votação dos conselheiros (seis a favor de manter a taxa Selic no nível atual, e dois por sua alteração).

Não. “Empate” por seu significado – a taxa não subiu, mas também não foi reduzida – foi mantida em 14,25% ao ano.

Isto é, os especuladores rentistas não viram a taxa subir, como quer o mantra neoliberal e conservador, traduzido em “ciência” econômica, que preconiza o aumento dos juros para controlar a inflação. E os protagonistas do setor produtivo (trabalhadores e empresários da produção), que defendem sua queda, não viram isso acontecer.

A taxa foi mantida.
O Brasil mantém a incômoda posição de ser campeão mundial em juros reais. Descontada a inflação, os juros rendem, no Brasil, inacreditáveis 6,78% ao ano, acompanhado de longe pela Rússia (onde os juros reais são de 2,78%) e pela China (com taxa real de 2,61%).

“Empate”, neste quadro, não significa equilíbrio entre duas tendências, como se poderia pensar, mas a continuidade do favorecimento à especulação e ao rentismo por manter os juros em taxas estratosféricas.

É este o sentido da nota divulgada pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro-CUT (Contraf-CUT), Roberto von der Osten. “Manter a taxa básica de juros só serve para manter a economia em recessão, com impactos negativos na geração de empregos”, diz. “Aprofunda a crise brasileira, aumenta a dívida pública e drena recursos da sociedade para o rentismo, ou seja, para os banqueiros.” Ele considerou a manutenção da Selic – pela quarta vez consecutiva – como sendo um “erro gravíssimo”, que pode “piorar o cenário econômico do país” “diante de uma perspectiva de recessão” e empurrar “a economia brasileira para o abismo”.

A crise econômica está se agravando mundo afora. Está longe de seu fim – e dados recentes divulgados pela organização britânica Oxfam Internacional mostram que a concentração de renda no mundo se agravou mesmo durante a crise.

O Brasil faz parte do mundo e, sendo assim, os reflexos da deterioração mundial se refletem por aqui, como está acontecendo e o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece.

É um quadro que precisa ser enfrentado, e a falência do receituário ortodoxo tradicional para isso é reconhecida historicamente.

Os juros precisam, urgentemente, baixar. O velho dogma ortodoxo e neoliberal de cortar despesas do governo e aumentar juros para segurar a inflação agrava a crise, cuja solução exige exatamente medidas contrárias. Foi o que indicaram as medidas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro desde 2007/2008 e que permitiram ao país enfrentar a crise e sair dela em situação melhor do que estava quando ela começou.

São medidas que provocam urticária nos representantes do grande capital mas têm o sentido de conter a ganância do capital especulativo e usar a capacidade do governo para fomentar o crescimento e proteger o emprego.

O combate à escandalosa alta dos juros praticada no Brasil é urgente. É preciso fazer girar a economia, e não congelá-la com doses maciças de juros! Cabe ao governo olhar para o país em seu conjunto, e não apenas para os “agentes econômicos”, isto é, para os rentistas especuladores que canibalizam a economia nacional, e seus ventríloquos da mídia conservadora que pedem, à exaustão, mais e mais juros. Já passou da hora de enfrentar estas altas taxas como um grande problema nacional – e é necessário enfrentá-las, com a mobilização dos setores produtivos da nação, para o país reencontrar a rota do crescimento.

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