Kennedy Alencar: “EUA são mais rigorosos com a corrupção dos outros”
É bom ver que, em meio ao vendaval de mediocridade da imprensa brasileira, sobra vida inteligente que, nos limites do possível, sai da vala comum e não bajula o acordo dos EUA com a Odebrecht como a santificação do país que se arroga ser a polícia do Mundo.
Leia e ouça a coluna de Kennedy Alencar, hoje, na CBN, publicada em seu blog, ode ele chama a atenção para algo que ninguém, na grande imprensa, tem considerado: a quem interessa destruir a capacidade brasileira de disputar o mercado mundial de obras e serviços. Onde, claro, há uma total escassez de santos.
EUA são mais rigorosos com a corrupção dos outros
O Departamento de Justiça dos Estados
Unidos revelou a amplidão da corrupção praticada globalmente por uma
empresa multinacional brasileira. Segundo o órgão americano, a Odebrecht
pagou US$ 1 bilhão em propinas no Brasil e em outros 11 países.
Ao trazer à luz muita coisa que
estava na sombra, a revelação tem um efeito pedagógico importante que o
Brasil precisa conhecer e tomar como lição para que não se repita mais.
Um destaque importante é o rito
processual legal impessoal e pragmático utilizado na parte americana da
investigação. Não houve sistemáticos vazamentos seletivos, como ocorre
com frequência no Brasil.
Apesar de os processos aqui correrem
em segredo de Justiça, há inúmeros vazamentos ao longo das
investigações, como acontece com a maioria das delações negociadas no
âmbito da Lava Jato, o que está à margem da lei. A forma de investigação
e de divulgação nos EUA é mais cuidadosa e eficiente.
Apesar disso, devem ser
responsabilizadas todas as instituições utilizadas nessa cadeia global
de corrupção. Bancos americanos e suíços foram usados nessas operações.
Paraísos fiscais também. Devem ser cobradas satisfações e implementadas
punições a instituições que serviram de ponte para a corrupção em escala
planetária.
É importante a cooperação entre
países para investigar a corrupção. No entanto, os Estados Unidos veem a
corrupção dos outros como uma ameaça à segurança nacional deles. Na
indústria militar, por exemplo, empresas americanas não são santas. Por
razões de segurança nacional, os EUA sempre alimentaram ilegalmente com
armas e dinheiro aliados pelo mundo que, no final das contas, atendem
aos interesses americanos.
A lavagem de dinheiro no planeta
serviu a propósitos diversos, que se confundiram, como corrupção e
terrorismo, por exemplo. Ou seja, os EUA agem como polícia do mundo em
relação à corrupção dos outros. Mas, apesar de uma lei rigorosa
anticorrupção, não usam o mesmo critério em relação à corrupção deles,
sobretudo quando essa corrupção se confunde com o que julgam a defesa da
segurança nacional dos Estados Unidos.
Há um ingrediente geopolítico, com
fortes reflexos econômicos, que deve ser levado em conta. Empresas
multinacionais brasileiras como a Odebrecht competiam com companhias
americanas na África, na América Latina e até mesmo dentro dos EUA,
como, por exemplo, em Miami.
É necessário que o Brasil e suas
autoridades deem satisfação aos seus cidadãos a respeito da forma como
cooperam com os Estados Unidos, que são ferozes na defesa dos seus
interesses porque não têm complexo de vira-lata, como diria Nelson
Rodrigues.
O Brasil precisa defender os seus
interesses também. Facilitar e direcionar processos contra grandes
empresas multinacionais brasileiras, como é o caso da Petrobras, assim
como outras grandes companhias nacionais, poderá ser danoso ao país no
médio e longo prazo. Uma derrocada de empresas multinacionais
brasileiras não interessa ao Brasil, mas aos seus adversários no mercado
global.
Na crise de 2008/2009, vimos uma ação
do governo americano para evitar a quebra de bancos que tinham sido
responsáveis pelo começo da confusão com o chamado subprime. Houve
punições, mas também uma preocupação em manter de pé bancos fundamentais
para a economia americana, que hoje se recuperou e está crescendo de
forma significativa.
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