Mentiras de Natal, por Janio de Freitas
dom, 25/12/2016 - 13:53
Atualizado em 25/12/2016 - 13:54
Progresso que não é progresso, Natal que não é Natal e desentendimentos na Lava Jato
Jornal GGN - A forma como a imprensa retrata o
Natal, reduzindo a data a um evento economicista de "bom ou ruim" para o
comércio, e o impacto da mercantilização dessa festividade na vida das
famílias, tornando o evento a cada ano menos criativo e próprio em cada
lar. E, ainda, os passos contraditórios da Lava Jato, após a comprovação
de que o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, fez a
doação de R$ 1 milhão à Temer, e não para Dilma, como intuíam
erradamente os investigadores, são os assuntos da coluna de hoje de
Janio de Freitas.
As notícias começam com quatro, cinco meses de antecedência. Ano a
ano. Não que falte coisa melhor para o mesmo espaço em jornais ou tempo
nas tevês. É o domínio da burocracia: "Comércio espera Natal bom/ruim",
"Natal será mais caro/barato", e outras embromações que nada significam.
O que rege esse noticiário não são os fatos, é o calendário. Com a
aproximação de dezembro, "Importações de Natal crescem/diminuem";
"Indústria de calçados aposta no Natal", e por aí vai. E então vêm as
bobices sobre o movimento de compras, o que a professora comprou, "e
você está comprando muito?", "está tudo muito caro", "o comércio aposta
no 13º", e as imagens sempre iguais.
Depois são as especulações sobre resultados e os resultados de fato. O Natal é só economia.
É mesmo o Natal? É, desde que Natal se tornou nome de um período da
atividade comercial. O sentido de Natal ficou posto na formalidade das
"vendas e compras de Natal". Sim, a ceia resiste ainda. Mas já exala os
formalismos de uma programação comercial, com os novos produtos
industriais da publicidade, as ceias em bares e restaurantes, em clubes.
E as vendas de ceias prontas, e não mais a obra típica de cada família,
memórias remotas do paladar e da infância.
O progresso traz também mudanças que não são progresso. O Natal não
escaparia aos ímpetos mudancistas e às maneiras que lhes dá a
subcultura norte-americana difundida no mundo. À parte o uso que a
religiosidade dele pudesse fazer, o Natal foi a mais bela das
cerimônias. Quem a perdeu não foi o Natal, fomos nós.
AS MENTIRAS
À falta de resposta no Painel do Leitor, volto aos depoimentos
contraditórios do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.
Seu advogado, Juliano Breda, disse em carta à Folha que "a mudança
no seu [de Azevedo] depoimento perante o TSE ocorreu em razão da análise
de uma prestação de contas dos partidos que se mostrou equivocada, e
não em razão de um fato do qual ele teria conhecimento direto".
O despacho 84/2016 da Procuradoria Geral Eleitoral, de 16.12.2016,
diz que no depoimento para a Justiça Eleitoral em 17.11.2016 Azevedo
"apresentou versão com traços divergentes em relação às afirmações
feitas no depoimento prestado em 19.9.2016", à Lava Jato.
Neste depoimento, Azevedo apresentou a história de um encontro seu
com Edinho Silva e outro petista para acertar a doação de R$ 1 milhão à
campanha de Dilma. Nas palavras da Procuradoria Geral Eleitoral (PGE),
está claro que são duas declarações explícitas e contraditórias.
A segunda, quando em novembro Azevedo foi indagado pela PGE sobre a
divergência, depois que a defesa de Dilma desmentiu-o e apresentou
cópia do cheque de R$ 1 milhão nominal a Michel Temer. A Azevedo só
restava desdizer-se.
Breda diz ainda que "os encontros com Edinho Silva realmente aconteceram, fato que o próprio ex-ministro já admitiu".
O plural não estava no artigo. E o encontro para Edinho Silva pedir
(e receber) R$ 1 milhão foi inventado por Otávio Azevedo: Edinho e seu
acompanhante o negaram e, mais importante, a negação está implícita no
reconhecimento de Azevedo de que o dinheiro não foi dado para Dilma, mas
a Temer.
O despacho 84 foi mais longe, ao questionar a possibilidade de
"desatendimento aos termos daquele acordo" (de delação premiada, com a
Lava Jato). Por isso, e por ser assunto criminal, não eleitoral, remeteu
a ação contra Otávio Azevedo "à Procuradoria da República em Brasília,
para a adoção das medidas que entender cabíveis", e à Procuradoria Geral
da República.
Ainda há o caso da declaração de Otávio Azevedo, aos procuradores
da Lava Jato, de doação a Aécio Neves de R$ 12,6 milhões, que depois
reconheceu serem, na verdade, R$ 19 milhões. O primeiro valor dava
cobertura ao declarado na (também falsa) prestação de contas da campanha
de Aécio.
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