Janio: Moro e MP perderam o controle das delações
Janio de Freitas, hoje, na Folha, faz um retrato esclarecedor sobre o que está se passando no submundo das delações e vazamentos, a rigor um único processo, porque dirigidas as primeiras e selecionados os segundos.
Os que se aliaram a um projeto político-judicial de natureza obscura vão sendo devorados pelo caldeirão de feitiços que ajudaram a conjurar.
Levando o País junto.
Gente do Governo
Janio de Freitas, na Folha
“Não podemos deixar que isso paralise
o país” –eis uma frase interessante de Michel Temer. Não por ser contra
os “vazamentos”. Ou Lava Jato, isso não ficou claro. O país só não está
paralisado porque se move, veloz, para trás e para baixo.
E, nos últimos sete meses, não “por
interferência” da Lava Jato ou dos “vazamentos”, arrefecidos desde que
cumprido o seu papel no afastamento de Dilma.
Nem se pode dizer que haja crise
política, propriamente, com a Câmara e o Senado em seus estados
habituais, e os novos “vazamentos” produzindo efeitos pessoais, não
parlamentares ou partidários. O país desmorona porque em sete meses o
governo Temer não produziu uma só medida em contrário.
Fruto da reunião de apavorados, convocada
por Temer no fim de semana, o pacote anunciado para esta quinta-feira
(15) é uma farsa. Sua finalidade é criar “manchetes positivas”. Feito às
carreiras por pressão ansiosa de Temer sobre Henrique Meirelles, repete
a leviandade na divulgação do projeto da Previdência, depois de queixas
paulistas no encontro de Temer com o Conselhão privado.
Na agenda de Eliseu Padilha, esse projeto
estaria pronto no próximo ano. Incapaz para o governo, Temer só se
ocupa do seu interesse. Não estamos distantes da simples vigarice
administrativa.
Temer considerou que os novos
“vazamentos”, além do mais, “são ilegítimos”, reclamando ao
procurador-geral que acelere os processos. Por conta própria, Rodrigo
Janot já informara de uma investigação a respeito.
Gilmar Mendes, claro, atacou logo de
“criminosos”, para fundamentar sua ideia de que as respectivas delações
sejam invalidadas. Nada disso lhes ocorreu quando os ocupantes de
manchetes eram outros, e não as eminências peessedebistas e
peemedebistas que circundam a superestrela do “vazamento” (não é
qualquer um que pode ser acusado de negociar suborno nos luxos
recônditos de um palácio, e não em mesa visível de restaurante).
Na Alemanha, Sergio Moro deu ênfase às
menções, nos “vazamentos”, a políticos do PMDB, do PP e do PSDB como
negação de seletividade facciosa da Lava Jato. Menos internacional, aqui
o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José
Robalinho Cavalcanti, voltou ao mesmo argumento. Beiram, porém, a
apropriação indébita.
Geraldo Alckmim, José Serra, Geddel
Vieira Lima, José Agripino e outros do time só apareceram porque citados
espontaneamente em delações preliminares do pessoal da Odebrecht. Por
dois anos e meio, a Lava Jato deixava passar quando citado um daqueles
nomes. Referências à corrupção na Petrobras do governo FHC estão há dois
anos em vã gravação na Lava Jato.
O que se passou agora está bem
perceptivo: os procuradores da Lava Jato e Sergio Moro perderam o
controle das delações. Vêm daí os nomes inovadores e, ao menos em parte,
o problema para a delação premiada de Léo Pinheiro, ex-presidente da
OAS. Também ele não cede a sugestões.
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