O delegado adivinhão e a prisão pré-datada de Lula
Há poucos dias o delegado-chefe da equipe da PF na Lava Jato, Maurício Moscardi, em entrevista à revista Veja, admitiu que haviam perdido o “timing” para a prisão de Lula. Confessou, portanto, que tal prisão é um objetivo, sujeito a variáveis políticas e às conjunturas, e não um imperativo legal, decorrente da obtenção de provas e indícios. Foi uma estocada nos procuradores, dentro da guerra de egos entre PF e MPF, Moscardi responsabilizou o vazamento dos áudios Dilma-Lula pelo juiz Sergio Moro pela perda do timing.
Este outro delegado responde ao colega, dizendo que a hora não foi perdida e que virá dentro de 30 a 60 dias. Como Lula não foi julgado nem condenado, nem mesmo em primeira instância, só poderá ser preso se surgirem evidências de ocultação de provas, obstrução das investigações, risco de fuga ou perigo para a sociedade. E como como o delegado não tem poderes adivinhatórios para assegurar que tais evidências vão surgir, o que ele faz ao anunciar a hora da prisão é confirmar que contra Lula existe uma perseguição, a determinação em prendê-lo seja como for. O que a PF investiga são fatos, e não pessoas, o que também realça a natureza persecutória dos inquéritos contra Lula.
Mas, deixando de lado os aspectos morais e (des) humanos da ameaça, nas circunstâncias vividas por Lula, ou por qualquer outro em seu lugar, a declaração do delegado assanhado devia ser avaliada por seus superiores, em observância dos códigos de ética e conduta dos policiais e da própria busca de eficiência das investigações. Anunciar prisões sem indicar as razões fortalece argumentos da defesa e fragiliza a Lava Jato, reforçando a percepção nacional e global de que Lula enfrenta no Brasil um assédio violento, uma cruzada, uma caçada.
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