sábado, 27 de maio de 2017

ECONOMIA - A subordinação ao capital financeiro.




A subordinação do trabalho produtivo e de serviços ao capital financeiro
por Rui Daher
Este samba vai para Betty Friedan, Gloria Steinem e Germaine Greer. Aquele abraço!
Este um assunto que não precisaria ser discutido no Brasil. Vivemos séculos de predomínio selvagem do capital sobre o trabalho. No início, pelo extrativismo e depois, em sequência, pela agricultura e pastoreio por escravos, industrialização e mercantilismo exportador sem leis de proteção ao trabalho que, depois de regulamentado por Getúlio Vargas e reforçado pela Constituição de 1988, se tornou inimigo na formação de um capitalismo avançado quando, pelo contrário, deveria ser seu maior aliado.
Há pelo menos três décadas, entre os vários benefícios, inclusive para países produtores e exportadores de bens primários, aqui chegaram os “produtos” oferecidos pela especulação financeira.
Daí em diante, em cadeia (hoje literal) acobertada por arranjos que unem a aristocracia política e os coronéis da economia em busca de interesses próprios contrários aos do País, o pacto se fortaleceu, e do extrativismo exportador às FEBRABAN e FIESP, se sobrepôs aos direitos do trabalho, aí incluídos não apenas a paga pelo aluguel da mão-de-obra, mas a cidadania.
Esse pacto, na verdade, nunca soçobrou ou foi quebrado, mesmo durante o período 2003/2016, quando se ensaiou implantar mecanismos de melhor distribuição de renda e consumo, liquidados assim que a elite econômica percebeu seus ganhos não mais suficientes para o derrame de migalhas à base da pirâmide social.
Deu-se o golpe sem que se poupasse qualquer tipo de canalhice. Outros virão, dentro e fora do atual, e eternos enquanto durem.
O estrangulamento da classe trabalhadora, em sua pobreza, no entanto, não é mais exclusividade nossa, contrariando a opinião de quem se exila em Miami, Lisboa, Cingapura. Ou de quem parte para ser açougueiro em Nova York.
Vários estudiosos têm-se debruçado sobre o tema e dizem tal situação generalizada pelo planeta. Vocês devem ter lido livros e artigos afirmando aquilo que ao neoliberalismo econômico brasileiro não interessa entender.
Em 40 anos, nos EUA, a diferença entre os 10% que ganham mais e os 10% que ganham menos cresceu quase 6 vezes. Assim: a relação do salário semanal de jornada integral dos primeiros, que era de US$ 500 versus US$ 200, passou, em 2016, para US$ 2.200 versus US$ 385. São dados do Departamento do Trabalho norte-americano.
Muitos brasileiros assalariados gostariam de ser pobres nos EUA. Ganhariam R$ 1.300/semana e poderiam ir ao Maraca ver o Mengo jogar. Mas tudo é diferente aqui e lá, inclusive os preços relativos. Interessa que, mesmo sem considerar os ganhos financeiros e patrimoniais, a desigualdade aumenta nos EUA e em todo o planeta-Piketty. Não há como contestar e explica muito da eleição de Donald Trump.
Declaradamente, o direcionamento político do presidente pele-laranja é o de governar para o 1% mais rico. Suas propostas enviadas ao Congresso revelam tesão por voltar aos tempos da Reaganomics, sem notar que hoje o mundo não é mais o mesmo.
Entre os anos 1980 e a crise 2007/2008, o índice de produção nos EUA foi de 45 para 100. Regozijo. Sete anos depois, em 2015, mal beirou 104. Manteve-se com as conquistas realizadas no período pós-Segunda Guerra, incluídos negócios e guerras em terras alheias. Mas ralentou feio, apesar do incremento em tecnologia e automação. Com isso, os empregos fabris, em milhões, caíram de 20 para 13,8, agora 12,3.
Trump justificou isso com os movimentos de outsourcing e a imigração, legal e não. Como se Juanito e Johnnie não fossem os mesmos personagens de uma opereta recessiva. Mentiu na campanha e duvida-se que conseguirá algo nesse sentido. A não recuperação do emprego pela baixa qualificação pega tanto mexicanos como descendentes de irlandeses.
Fato é que enquanto no Brasil passamos os dias tentando adivinhar as próximas traquinagens de Rodrigo, Gilmar, Temer e Joesley, o planeta se rearranja para novo salto nos ciclos do capitalismo.

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