Operação marca ponto de encontro de visões de mundo das diferentes elites brasileiras
Jornal GGN – A Lava Jato é mais do que uma
operação para desvendar um esquema de corrupção revelando, desde seu
início, um viés de cunho ideológico para conseguir destituir do governo
central do país um partido mais correspondente aos anseios das classes
populares.
Essa tese é defendida pelo colunista do GGN, historiador e relações
internacionais Fernando Horta, em entrevista para Luis Nassif. "O
objetivo da Lava Jato sempre foi construir ou reconstruir uma narrativa
sobre os últimos 13 anos. Isso ficava muito claro a partir do momento em
que o juiz [Sérgio] Moro diz muito abertamente que não investigaria
nada antes de 2003", pontua o pesquisador da UnB.
Segundo Horta, o argumento do juiz que coordena a Lava Jato para
realizar esse corte é que os crimes antes daquele ano estariam
prescritos. Mas para o professor a alegação não se sustenta pelo caráter
impetuoso das ações da megaoperação que, em muitos momentos, não seguiu
o processo jurídico correto.
Outro ponto que pesa contra a idoneidade da Lava Jato é a simbiose
com os meios de comunicação, com indícios de que os constantes
vazamentos de informações podem ter partido do alto comando da operação
para manter sua popularidade frente a opinião pública.
Horta também chama atenção para o frequente discurso dos operadores
da Lava Jato de que o esquema de corrupção desvendado nos últimos 13
anos é o maior da história do país. "Isso não está de todo correto para
quem conhece a história do Brasil como um conjunto", destacou o
historiador.
O intenso uso dos meios de comunicação expondo para a população
esse discurso de forma incisiva e constante levou os brasileiros a terem
uma percepção distorcida não entendendo os últimos 13 anos como um
momento de crescimento do produto interno brasileiro, diminuição das
desigualdades e aumento da inclusão social, mas sim como o ápice da
corrupção em todas as instituições brasileiras.
A grande imprensa, com uma visão institucional muito mais afiada
que os atores da Lava Jato, aproveitou a operação para, junto com outros
agentes da elite nacional, orquestrar a retomada do poder executivo,
culminando com o impeachment da presidente Dilma. Dessa forma a Lava
Jato foi um ponto de encontro de visões de mundo das diferentes elites
brasileiras, especialmente da direita elitista, "mais contrária às
modificações sociais que vinham sendo feitas no Brasil".
Horta também levanta uma tese de que a visão da elite atual replica
a visão da corrente positivista no Brasil, que influenciou a
proclamação da república, e que defendia para o Estado a função de
mediador do conflito entre as classes sociais, e não como um ente
regulador dos direitos e responsável pela redução das diferenças de
classe.
"[Para eles] a função do Estado é mitigar conflitos, e não importa
como isso deve ser feito, mesmo que seja necessária a imposição pela
violência".
*Fernando Horta, é colunista do Jornal GGN, graduação em
história pela UFRGS e mestre em Relações Internacionais pela UnB.
Atualmente é doutorando da UnB, com experiência na área de História,
ênfase em História da Ciência, Epistemologia e Teoria de História e de
Relações Internacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário