segunda-feira, 29 de maio de 2017

POLÍTICA - Visões de mundo das diferentes elites brasileiras.

Operação marca ponto de encontro de visões de mundo das diferentes elites brasileiras
 
 
Jornal GGN – A Lava Jato é mais do que uma operação para desvendar um esquema de corrupção revelando, desde seu início, um viés de cunho ideológico para conseguir destituir do governo central do país um partido mais correspondente aos anseios das classes populares.
 
Essa tese é defendida pelo colunista do GGN, historiador e relações internacionais Fernando Horta, em entrevista para Luis Nassif. "O objetivo da Lava Jato sempre foi construir ou reconstruir uma narrativa sobre os últimos 13 anos. Isso ficava muito claro a partir do momento em que o juiz [Sérgio] Moro diz muito abertamente que não investigaria nada antes de 2003", pontua o pesquisador da UnB.
 
Segundo Horta, o argumento do juiz que coordena a Lava Jato para realizar esse corte é que os crimes antes daquele ano estariam prescritos. Mas para o professor a alegação não se sustenta pelo caráter impetuoso das ações da megaoperação que, em muitos momentos, não seguiu o processo jurídico correto. 
 
Outro ponto que pesa contra a idoneidade da Lava Jato é a simbiose com os meios de comunicação, com indícios de que os constantes vazamentos de informações podem ter partido do alto comando da operação para manter sua popularidade frente a opinião pública.
 
Horta também chama atenção para o frequente discurso dos operadores da Lava Jato de que o esquema de corrupção desvendado nos últimos 13 anos é o maior da história do país. "Isso não está de todo correto para quem conhece a história do Brasil como um conjunto", destacou o historiador. 
 
O intenso uso dos meios de comunicação expondo para a população esse discurso de forma incisiva e constante levou os brasileiros a terem uma percepção distorcida não entendendo os últimos 13 anos como um momento de crescimento do produto interno brasileiro, diminuição das desigualdades e aumento da inclusão social, mas sim como o ápice da corrupção em todas as instituições brasileiras.
 
A grande imprensa, com uma visão institucional muito mais afiada que os atores da Lava Jato, aproveitou a operação para, junto com outros agentes da elite nacional, orquestrar a retomada do poder executivo, culminando com o impeachment da presidente Dilma. Dessa forma a Lava Jato foi um ponto de encontro de visões de mundo das diferentes elites brasileiras, especialmente da direita elitista, "mais contrária às modificações sociais que vinham sendo feitas no Brasil".
 
Horta também levanta uma tese de que a visão da elite atual replica a visão da corrente positivista no Brasil, que influenciou a proclamação da república, e que defendia para o Estado a função de mediador do conflito entre as classes sociais, e não como um ente regulador dos direitos e responsável pela redução das diferenças de classe.
 
"[Para eles] a função do Estado é mitigar conflitos, e não importa como isso deve ser feito, mesmo que seja necessária a imposição pela violência".    
 
*Fernando Horta, é colunista do Jornal GGN, graduação em história pela UFRGS e mestre em Relações Internacionais pela UnB. Atualmente é doutorando da UnB, com experiência na área de História, ênfase em História da Ciência, Epistemologia e Teoria de História e de Relações Internacionais.

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