Pesquisa em ato aponta que bolsonarismo consolida sua identidade política
Leonardo Sakamoto
27/05/2019 12h06
Manifestação pró-Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (26). Foto: Nelson Almeida/AFP
Pouca participação de jovens (idade média de 45 anos), renda familiar acima de cinco salários mínimos e ensino superior completo. Esse é o perfil do manifestante que foi à avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (26), em defesa do governo Jair Bolsonaro e de sua pauta de reformas. Nesta mobilização, o grupo, pertencente ao campo antipetista, consolida uma identidade política forte, que já estava sinalizada na eleição do ano passado.
Os dados são de pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para Acesso à Informação da Universidade de São Paulo, e foi coordenada por Ana Luiza Aguiar, Marcio Moretto e Pablo Ortellado. Vinte pesquisadores realizaram entrevistas com manifestantes, entre às 13h e às 17h.
"A caracterização demográfica tem sido a mesma que temos visto em todas as nossas pesquisas desde as manifestações pelo impeachment. O perfil desse grupo não mudou nada, inclusive muitos deles (61%) participaram daquelas manifestações. O que mudou é que o grupo ganhou uma identidade política forte", afirma Pablo Ortellado.
Segundo os organizadores, o nascimento dessa identidade já havia sido detectado no ato da campanha de Bolsonaro ("PT Nunca Mais"), também na avenida Paulista, em 21 de outubro do ano passado, mas poderia ser fruto do contexto eleitoral. Agora, ela se consolida como um perfil.
Do total, 65% dos manifestantes são homens, 78% com 35 anos ou mais, 66% de cor branca (frente a 22% de pardos e 6% de pretos, categorização usada pelo IBGE), 68% com ensino superior completo ou incompleto e 54% com renda igual ou superior a cinco salários mínimos – sendo que 10% acima de 20 salários/mês, ou seja, o grupo é representativo e engloba a elite do país.
Dos que foram à Paulista, 41% se declaram católicos, 19% evangélicos pentecostais, 9% espíritas/kardecistas, 7% evangélicos não-pentecostais, 8% com outras religiões e 16% com nenhuma. E 15% são empresários, 18% aposentados, 20% autônomos e 27% empregados com carteira de trabalho – diante de 7% de desempregados, 6% de funcionários públicos, 4% de estudantes e 3% de informais ou sem emprego fixo.
"Antes da eleição de Jair Bolsonaro, não havia identidade dominante nos protestos. Agora, ela é de direita, conservadora, não-feminista e não apenas antipetista", explica Ortellado.
Em termos políticos, 76% se colocam à direita, 72% se consideram conservadores em temas como família, drogas e punição a criminosos, 68% de declaram como nada feministas e 88% se afirmam muito antipetistas.
O principal motivo de terem ido à manifestação, segundo a pesquisa do Monitor, é o apoio às reformas propostas pelo governo, com 75%, seguido, de longe, pelo apoio à operação Lava Jato (8%). Depois vem empatados, o repúdio à atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal e contra o "boicote" do centrão ao governo (6%), pedidos de intervenção militar (2%) e 1% não soube opinar.
A pesquisa analisa que "o esforço das lideranças do bolsonarismo de ressignificar a manifestação, de uma agenda antielites políticas para uma agenda positiva repercutiu entre as pessoas mobilizadas." Ressalta, porém, que não foi possível destrinchar esse apoio a "reformar" – ou seja, qual grau de apoio à Reforma da Previdência, ao pacote legislativo anticrime de Sérgio Moro e à reforma administrativa promovida por Bolsonaro.
O PSL, partido do presidente, era o partido de identificação de 44% dos manifestantes no ato de campanha de 21 de outubro de 2018 e, agora, é o de 34% daqueles que foram à Paulista. Antes, 13% afirmava que não se identificava com nenhum partido e, neste 26 de maio, o número passou para 55%. Os pesquisadores dizem que isso pode se dever tanto ao fortalecimento da identidade partidária comum às eleições, quanto pelo fato que o PSL foi alvo de denúncias de corrupção, com a utilização de laranjas, como o que eles chamam de "retórica populista" – que fortalece lideranças ao invés de partidos.
Ortellado aponta também o alto nível de desconfiança em parte da imprensa. Entre os nomes de veículos apresentados, 98% não confiam na Rede Globo e 95% não confiam no jornal Folha de S.Paulo. Por outro lado, 63% confiam na Rede Record e 42% em O Antagonista. A página República de Curitiba é confiável para 44%, não confiável para 4% e conta com um alto nível de desconhecimento: 52%.
O MBL, que não endossou as manifestações e entrou em atrito com bolsonaristas por conta disso, acabou sendo alvo de críticas na manifestação. A pesquisa do Monitor, ao questionar a opinião sobre algumas organizações e figuras públicas, registrou que 66% não confia no MBL – que teve papel relevante nas convocações para os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Mas os manifestantes mantiveram a aceitação do Vem Pra Rua, que também não participou da convocatória – confiável para 66%. O Nas Ruas, que atuou no chamamento, é menos conhecidos que os outros dois (33% o desconhecem, frente a 8% e 13% do MBL e VPR, respectivamente) e confiável por 56%. O polemista Olavo de Carvalho é confiável por 65% e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, empata com a deputada estadual Janaína Paschoal, com 57% de confiabilidade cada.
A pesquisa realizou 436 entrevistas com manifestantes entre as ruas Augusta e a alameda Campinas. A margem de erro é de cinco pontos com um intervalo de confiança de 95%
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