domingo, 26 de maio de 2019

POLÍTICA - Redes de extrema direita.


Livro analisa surgimento das redes de extrema-direita quatro anos antes da eleição de Bolsonaro

Jornalista mostra as ligações entre páginas antipetistas surgidas ainda em 2014 que vão servir de base para a ação virtual da campanha de Bolsonaro na eleição seguinte
Fotos Públicas
Por Tiago Pereira
Ainda antes das eleições de 2014, quando grupos como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua – que ficariam conhecidos pela mobilização virtual pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff – sequer existiam, começava a se formar, no Facebook, uma rede de direita que, quatro anos mais tarde, desempenharia papel fundamental na eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Eram páginas com posicionamentos ainda difusos, que pregavam desde um discurso antifeminista a críticas às instituições democráticas. O que as unia era o radicalismo antipetista, que se resumia a um slogan conhecido que projetava um inimigo comum a ser combatido.
Esse é o tema do livro #Vaipracuba! : A Gênese das Redes de Direita no Facebook (Appris Editora), do jornalista Marcelo Alves dos Santos Júnior. Naquele momento, segundo o autor, havia certa euforia com o potencial político emancipador das redes sociais, que servia como ferramenta para articular mobilizações que derrubaram ditaduras no Oriente Médio, na chamada Primavera Árabe.
Por aqui, crescia o entusiasmo com iniciativas inovadoras de comunicação, como o coletivo Mídia Ninja, que também fazia o uso das redes sociais. Ao mesmo tempo, fora do radar dos principais atores e analistas políticos, se estruturava a rede que naquele momento se especializava em campanhas de difamação contra o PT e seus candidatos.
O que chamou a atenção do autor foi o crescimento expressivo da página TV Revolta, que produzia memes e outros conteúdos “antipolíticos”. Em menos de um mês, a página angariou mais de 1,5 milhão de curtidas no Facebook, tendo registrado o maior crescimento em todo o mundo no período, destaca Santos Júnior. Procurando por iniciativas similares, ele se deparou com o que chamou de “rede antipetista”, com mais de 400 páginas que se articulavam, com diversos tons e estilos, disparando conteúdos contra o partido.
“Era um ecossistema de direita bem amplo, com grupos mais militares, grupos mais conservadores na moral e nos costumes, outros mais liberais, que advogavam pela redução da participação do estado na economia. Algumas páginas utilizavam muito do humor, um humor vexatório, difamatório, ácido e hostil. Outras eram de nicho, com conteúdos antifeministas e misóginos, por exemplo.”
Ele relata que, já naquele momento, o então deputado federal Jair Bolsonaro e o autointitulado filósofo Olavo de Carvalho passam a figurar como lideranças desse “ecossistema”. “O principal argumento do livro é que não é possível entender o que aconteceu em 2018, sem entender o que aconteceu naquele período”, diz Santos Júnior. E diz também que o seu estudo demonstra que não é possível montar uma estratégia política de comunicação online de um dia para o outro. “Isso surgiu muito antes. O primeiro teste foi em 2014.”
Ele aponta três características básicas dessa rede de direita identificadas desde a sua origem. Para além do antipetismo, o conteúdo dessas páginas era “anti-esquerda”. Qualquer pauta minimamente associada a esse campo político, como a defesa dos direitos humanos, por exemplo, era imediatamente atacada por toda a rede. Se destacavam também como antipartidários, pois identificavam nos partidos estruturas de defesa dos interesses das elites e da burocracia. E mais do que isso, eram também antissistema, que segundo o autor, é “a antipolítica levada às últimas consequências, atentando contra o próprio jogo democrático e a divisão de poderes”.
Após o resultado das eleições, em 2014, esses grupos racham com a centro-direita, apontando a fraqueza do candidato do PSDB, o então senador Aécio Neves, derrotado por Dilma nas urnas. Passam também a acusar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de ser “comunista”. É quando o Revoltados Online, outra página que ficou conhecida, passa a defender uma intervenção militar no país. Tudo isso abre caminho para Bolsonaro, na sequência, emergir como candidato natural desses grupos, que vão ter papel de destaque na campanha de 2018.
Além de chamar a atenção para um período ainda obscuro de atuação da direita nas redes sociais, Santos Júnior diz que as condições do seu surgimento ajudam a entender a dificuldade de articulação política desses grupos, agora que ascenderam ao poder a partir da eleição de Bolsonaro. “Eles utilizam um tipo de estratégia muito útil para se opor a um governo. Mas é péssimo quando é preciso compor com diferentes, quando precisam montar uma maioria no Congresso e defender suas próprias pautas. Não serve à conciliação e à composição. Funciona bem no caos, porque provoca o caos. Isso se volta contra esses mesmos grupos agora.”

Um comentário:

José disse...

Eu fiz parte desses grupos, faço campanha pra bolsonaro desde de 2014 sim, com muito orgulho, e dai????
A questão eh q a situação do Brasil esta tão podre q só a mudança de um presidente não eh o suficiente.
Me pergunto se ha salvação p/ o Brasil, só Deus na causa!!