São chocantes as imagens da ação da PM de Pernambuco na manifestação contra Jair Bolsonaro, hoje. Acompanhei a transmissão ao vivo da Mídia Ninja e as cenas são brutais: manifestantes absolutamente pacíficos sendo perseguidos e encurralados sob tiros e bombas. Vi duas deputadas do PSOL tentaram se aproximar dos policiais para dialogar; eles simplesmente entraram na sua caminhonete e bateram em retirada, cantando pneu. Uma vereadora do PT também tentou conversar com os PMs, que responderam com um jato de spray de pimenta diretamente no rosto da parlamentar: Há relatos de que a polícia sequer está deixando as pessoas voltarem pra suas casas, depois da dispersão: continuam atirando balas de borracha, soltando bombas de gás e prendendo pessoas. Tudo isso é chocante, porém não surpreendente. É evidente que o governador Paulo Câmara, do PSB, precisa ser responsabilizado. Mas o buraco é mais embaixo. Não há margem para qualquer dúvida razoável sobre a discrepância nos procedimentos da PM (de todos os estados) em manifestações da direita e da esquerda. Há uma evidente orientação ideológica da polícia quando sua atuação é quase sempre no sentido de amedrontar, dispersar, prender e abater militantes de esquerda. Quando a direita vai às ruas o clima é, em geral, de condescendência e até camaradagem. Outro vídeo que está circulando com força nas redes foi gravado ontem em uma cidade de Goiás. Dois policiais militares abordam um jovem negro (que apenas fazia manobras em sua bicicleta) de forma violenta e doentia, sem motivo algum. Tudo foi filmado pelo celular do jovem: Eis aí um exemplo escarrado de outra face macabra da atuação da PM: seu viés explicitamente racista, peça chave na manutenção do apartheid silencioso que vigora no Brasil. A PM é uma instituição violenta, truculenta, autoritária e que age ideologicamente, desequilibrando o jogo democrático e mesmo a luta de classes. E isso não é de hoje. E o que podemos fazer para mudar o quadro? Os governadores dos estados têm o comando formal da PM, mas a uniformidade de seus procedimentos por todo o país e as características da instiuição – especialmente o fato de ser uma polícia militar – indicam que não basta a necessária resposabilização do governante da vez. Quando o braço armado do Estado age sistematicamente contra os movimentos sociais, os partidos e militantes de esquerda, contra a população negra e pobre, é preciso um enfrentamento mais amplo e profundo do problema. Propostas como a desmilitarização da polícia militar e outros projetos que a tornem mais transparente, politicamente neutra e menos truculenta precisam ter proridade na pauta dos partidos de esquerda e de seus líderes políticos. Não basta esbravejar nos dias em que a PM mostra seus dentes. É preciso agir consequentemente construindo seminários, debates públicos, apresentando projetos de lei, pautando o tema, enfim. Se as manifestações de rua dos movimentos democráticos, que parecem ter voltado com força hoje por todo o país, tiverem os atores institucionais ligados à esquerda como aliados permanentes, o caminho para um futuro em que a polícia não aja na base do tiro, porrada e bomba (contra os de sempre) fica mais curto. P.S.: Quando acabava de redigir este post vi a notícia de que a vice-governadora de Pernambuco Luciana Santos (PCdoB) declarou o seguinte em seu Instagram: “A ação da PM contra manifestantes não foi autorizada pelo governo do Estado. Nós estamos ao lado da democracia. Os atos de violência, que repudiamos desde já, estão sendo apurados e terão consequências. #ForaBolsonaro” Que haja consequências! O post A PM não pode sair de pauta apareceu primeiro em O Cafezinho. |
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