Jornais ignoram atos contra Bolsonaro e mostram o desprezo com o leitor, os fatos a democracia
Quando a gente imagina que não é possível descer mais, descobre que o fundo do poço ainda não chegou.
É o Brasil desta triste era pós-golpe retratado pela imprensa.
O genocídio organizado por Bolsonaro na pandemia? Ora, ora, ora, mero detalhe: será dito no momento oportuno, quando os patrões entenderem ter chegado a hora.
Agora não é.
É isto que está escarrado nas capas dos principais jornais neste domingo, 30, um dia após os protestos que sacudiram o país, contra Bolsonaro, por vacina e pelo fim do genocídio.
“Tenho dó dos meus amigos JORNALISTAS em maiúscula que tiveram que se calar hoje, nesse dia histórico”, escreveu o escritor Marcelo Rubens Paiva: “A volta dos protestos e manifestações de massa contra o governo, mesmo numa pandemia. Diretas Já revival”.
O Estadão saiu com uma manchete misturando turismo com home office. Com lupa fica difícil achar alguma referência aos atos.
Cariocas, mais divertidos e criativos que os paulistas, transformaram a capa do Globo num conto da corochinha.
Os mineiros (veja acima) não precisaram queimar pavio para entrar na brincadeira: os próprios editores se dedicaram a caprichar e entregaram uma memorável peça que já entrou para os anais dos piores momentos da imprensa nacional.
A quem recorrer? Era a pergunta que sempre se fazia um velho editor nos tempos de chumbo da ditadura. Naquele período havia um mínimo de dignidade nas redações.
“Fazer Jornalismo é, realmente, ‘uma escolha muito difícil’”, sintetiza o educador Daniel Cara, aludindo ao indecente editorial do Estadão comparando Haddad a Bolsonaro dias antes do segundo turno, em 2018.
A imprensa tradicional perdeu o pudor.
Ah, sim, já ia me esquecendo: a matéria sobre protestos contra Bolsonaro foi a mais lida do dia no “The Guardian” neste sábado.
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