O papo divertido de Obama com a premiê dinamarquesa
Uma polêmica em torno dos discursos em homenagem a Mandela se travou nas redes sociais ontem.
A questão estava centrada, basicamente, em Obama e Dilma.
Obama teria sido brilhante em sua fala, e Dilma teria sido opaca.
É verdade e não é ao mesmo tempo.
Obama é um profissional da fala, um orador que para muitos é comparável a mestres da retórica como Kennedy.
Primeiro na faculdade de direito de Harvard, e depois no Congresso, viveu de falar.
Pode-se
dizer, hoje, que Obama é muito melhor na retórica que na ação. Sua
presidência acabou sendo uma enorme decepção para quem esperava alguma
mudança efetiva nos Estados Unidos.
Externamente,
a beligerância de Bush foi mantida ou até ampliada, com o uso intensivo
dos drones, os aviões de guerra teleguiados responsáveis pela morte de
tantas crianças, mulheres, velhos e civis em países como o Paquistão e o
Afeganistão.
Internamente,
a gestão Obama não fez nada para diminuir a desigualdade social, e além
do mais foi incapaz de resolver uma crise econômica tenebrosa.
Obama
só não foi removido da Casa Branca porque seu concorrente foi flagrado
dizendo que não ligava para metade do eleitorado, a metade mais pobre,
naturalmente.
Dilma é de outra natureza. Não é uma oradora. Não foi treinada para isso. A vida a conduziu para outras coisas.
Mas
tem conteúdo, e é honesta ao falar e ao agir. Quem não se lembra do
olhar que ela dirigiu a Joaquim Barbosa no velório de Niemeyer?
Obama,
traquejado na política, teria provavelmente dado um abraço sorridente
em Joaquim Barbosa para depois falar horrores pelas costas.
O discurso de Dilma ontem foi correto. Ela não é Cícero, não é Demóstenes, não é sequer Obama.
Disse
o que era preciso dizer: que Mandela fez muita diferença no mundo em
que viveu, e que os brasileiros nos orgulhamos do sangue africano que
corre em nossas veias.
Foi respeitosa.
A
emoção de Obama se restringiu essencialmente ao discurso. Fotos
captaram a animada conversa que ele travou, fora dos holofotes, com a
premiê dinamarquesa.
Pareciam estar num bar, contando piadas e fofocas.
A postura de escasso respeito ao morto se contrastava com a seriedade – nascida em parte do ciúme, talvez – de Michelle Obama.
Presumo que Obama tenha levado uma bronca conjugal a caminho dos Estados Unidos.
Ficou claro que a emoção do discurso de Obama era de araque.
Dilma
foi genuína, e sem fazer um discurso para entrar na história honrou
mais a memória de Mandela que seu grandiloquente colega americano.
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