O geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor da área de Exploração e Produção da Petrobras, fez ontem duras críticas à política de venda de ativos que está sendo implantada pela atual diretoria da estatal. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o ex-funcionário da estatal afirmou que o processo de "fragmentação" da cadeia de abastecimento da empresa no mercado brasileiro é "altamente prejudicial à sua sustentação no longo prazo".
Já aposentado, Estrella é conhecido no setor por ter comandado as equipes que fizeram a descoberta das grandes reservas de petróleo na província do pré-sal. Ele também é apontado como um dos poucos integrantes da diretoria que não teve o nome envolvido no recente caso de corrupção na estatal, embora estive na companhia no momento em que os crimes foram cometidos.
O geólogo considera que a posição ocupada pela Petrobras, herdada em grande parte do antigo regime de monopólio, propicia uma vantagem competitiva no mercado nacional. Ele explicou que as "companhias integradas" do setor de petróleo, como é o caso da estatal, dispõem de estrutura de gestão que chega a ser "anticíclica". Na prática, essas empresas conseguem se proteger das crises econômicas, disse.
Para Estrella, a Petrobras precisa continuar tendo uma presença marcante em outras áreas além da exploração e produção de petróleo. O ex-diretor defendeu a preservação dos ativos de refinarias, oleodutos, gasodutos, centros de distribuição e postos de combustíveis. "Durante a crise, enquanto um elo está mais fraco os outros estão mais fortes. Então, a fragmentação da companhia é nefasta para a sustentabilidade a longo prazo", afirmou.
As atuais dificuldades da Petrobras com o alto endividamento devem ser contornadas, segundo o ex-diretor, com a busca pelo alongamento da dívida. No limite, ele defende uma ação direta do acionista controlador, a União, ao viabilizar a injeção de novos recursos na companhia.
Ontem, Estrella falou sobre a reação que teve diante da revelação do esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal por meio da Operação Lava-Jato. Ele disse que, ao virem a público, as irregularidades na estatal provocaram um impacto "devastador" sobre os funcionários que trabalharam por anos de forma honesta pelo crescimento da companhia e pelo desenvolvimento do setor de petróleo no país.
A audiência foi convocada para debater o projeto de lei que propõe a retirada da obrigação de a Petrobras atuar como operadora única em campos pré-sal. O relator da matéria, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), defende a mudança no marco regulatório que foi aprovado no governo do PT.
Fonte: Valor Econômico
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