Quinta, 28 de abril de 2016
"Perto de Cunha, Renan é freira ou padre", diz Paulo Paim
A entrevista é de Guilherme Mazui, publicada pelo jornal Zero Hora, 28-04-2016.
Há quase 30 anos no Congresso, Paulo Paim (PT-RS) reconhece que é difícil barrar a instauração do processo de impeachment de Dilma Rousseff,
mas acredita no retorno da presidente. Se a aprovação do afastamento
temporário depende de maioria simples (metade mais um dos presentes na
sessão), a cassação do mandato exige o voto de 54 dos 81 senadores.
Para o parlamentar, ao contrário de Michel Temer, o presidente que pacificará o país precisa ter a legitimidade do voto direto dos brasileiros. ZH publicou entrevistas com os senadores Ana Amélia Lemos (PP), na segunda-feira, e Lasier Martins (PDT), na terça-feira.
O governo evita o afastamento e a cassação da presidente Dilma Rousseff?
É um quadro terrível para os
brasileiros. A minha análise é de que a admissibilidade passa. A partir
do dia 15 ou 16 de maio, a presidente poderia ser afastada. Teríamos
seis meses com um presidente lá nos urubus, digo, no Jaburu, e uma presidente no Palácio da Alvorada. Passados seis meses, Dilma pode voltar. Não é fácil ter 54 votos no Senado.
Dilma teria votos para impedir o afastamento definitivo?
Estou no Congresso há 30 anos e nunca vi nada ser aprovado aqui com 54 votos sem acordo. Alguém poderia dizer que o impeachment do Collor passou no Senado, mas foi acordo. O Michel assume e muda todos os ministros, volta Dilma e muda todos os ministros. Seu Eduardo Cunha (PMDB-RJ) avisou: se isso acontecer, ele tem mais nove pedidos de impeachment
para aceitar. Vai recomeçar a instabilidade. Enquanto isso, quem paga o
pato é o povo, vítima da economia trancada e da instabilidade política
que geram o desemprego.
E se o impeachment passar de vez, o que acontece?
Michel Temer ficará como um presidente sem apoio, tendo de vice Eduardo Cunha,
o corrupto número 1 do país. Essa dupla vai ter condições de governar?
Vai começar imediatamente a disputa de 2018. Vai começar a campanha das Diretas Já. Vamos ter outra instabilidade nos campos econômico, político e institucional.
O senhor é um dos pais da PEC
das novas eleições. Há viabilidade jurídica e tempo para aprovar em dois
turnos na Câmara e Senado?
Claro que há. A proposta só tem lógica mediante um grande entendimento, se Dilma e Temer concordarem. Defendo que Dilma envie a PEC
para o Congresso, num ato de grandeza. A saída seria eleições para
mandato de dois anos. Pela minha proposta, até 2018 teríamos uma
comissão exclusiva para reforma política e eleitoral. Com um novo marco
político, teríamos eleições gerais com mandatos de cinco anos para
todos, inclusive senador. Se todo poder emana do povo, deixem o povo
decidir quem será o novo presidente.
O PT repetiu que Eduardo Cunha,
réu na Lava-Jato, não tinha legitimidade para conduzir o impeachment na
Câmara. Com nove inquéritos na mesma operação, Renan Calheiros
(PMDB-AL) tem legitimidade para conduzir o processo no Senado?
Com um corrupto presidindo ou não, o impeachment passou. Temos de respeitar o resultado final, aprovado por ampla maioria. Aqui o presidente é Renan Calheiros. Perto de Eduardo Cunha, Renan é freira ou padre.
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