Moro precisa explicar por que testemunhou um crime de vazamento em plena audiência e nada fez. Por Zambarda
Uma cena inusitada, mas de certo modo
previsível diante do absurdo do Brasil, ocorreu durante o depoimento de
Marcelo Odebrecht a Sérgio Moro no último dia 10 de abril.
A alturas tantas, um dos advogados do dono da empreiteira avisou o juiz que tudo estava sendo “transmitido” em tempo real.
O Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, transcreveu o diálogo.
“Antes que Vossa Excelência encerre a
gravação, estou vendo aqui, no site Antagonista, que o depoimento do
senhor Marcelo está sendo transmitido, neste exato momento, em tempo
real, de sorte a desrespeitar a determinação de Vossa Excelência do
segredo de Justiça. Está aqui. Quer que eu coloque para Vossa
Excelência? E só pode ser vazado daqui de dentro. Então, nós estamos
numa situação de flagrância. É só entrar no site e ver”, disse o
advogado Nabor Bulhões por volta das 15h30.
Moro respondeu com balbucios.
Na sala, havia em torno de 15 pessoas:
três procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato, vinculados ao Ministério
Público, policiais federais, Bulhões e seus dois sócios, além de
Odebrecht e Moro.
Moro permitiu também a entrada de quatro defensores da Petrobras.
Depois de gaguejar, o magistrado
interrompeu a gravação da seção por alguns minutos para retomar como se
nada houvesse acontecido.
“É provável que alguém do MP estivesse
gravando o áudio e transmitindo para o jornalista Cláudio Dantas do
Antagonista, porque o depoimento foi transcrito com fidelidade”, disse
ao DCM um dos presentes ao interrogatório.
Quando praticado por funcionário público, vazamento é crime. A violação do sigilo está no artigo 325 do Código Penal.
Houve um flagrante diante de Moro e este
nada fez. Bastava solicitar os smartphones dos presentes, descobrir quem
vazou e tomar as providências cabíveis.
No mínimo, identificar o vazador e, em tempo hábil, puni-lo.
A situação chegou ao cúmulo do Antagonista noticiar que Moro “reclama de vazamentos”.
Sérgio Moro se autodesmoraliza completamente. À BBC Brasil, falou que investigar vazamentos era como “caçar fantasmas”.
Essa parceria com o Antagonista tem potencial explosivo.
Diogo Mainardi, um dos donos do blog de extrema direita, foi delatado por Henrique Valladares, ex-vice-presidente da Odebrecht.
Em sua justificativa, Mainardi alegou que
Valladares “inventa coisas”. “Serve de alerta à Lava Jato”, escreveu,
dando conselhos legais a Moro.
Enquanto vivermos numa democracia, não há possibilidade de essa parceria acabar bem.
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