Do blog Contexto Livre
O presente do algoz
As defesas dos acusados na Lava Jato receberam de Marcelo Odebrecht um
presente de alto valor, embrulhado em afirmações devastadoras. Com a
espontaneidade de uma conversa relaxada, ele emitiu na delação a Sergio
Moro uma explicação que chegou à Lava Jato como uma inconveniência.
Depois de dizer que três quartos do custo estimado das campanhas eram
caixa dois (o dinheiro não declarado pelo recebedor nem pelo doador),
Odebrecht fez uma ressalva: esse dinheiro "não é necessariamente" de
caixa dois da empresa, logo, "não é necessariamente" dinheiro ilícito.
Deliberada ou não, aí está uma afirmação que vai direto a um dos pontos
mais sensíveis na maioria das acusações da Lava Jato a políticos. Todas
as doações são dadas pelos procuradores como originárias do caixa
ilegal dos doadores, o que leva à imediata consideração de que os
recebimentos são crimes. As tentativas, por alguns advogados de defesa,
de questionar tal dedução automática foram ignoradas pelos
procuradores, incluído o procurador-geral Rodrigo Janot, e pelo juiz
Moro.
A ressalva de Odebrecht traz uma base objetiva para que as defesas
cobrem a procedência do dinheiro sem conexão clara com a corrupção.
Vieram de dinheiro limpo e contabilizado ou de trapaças? Muitas doações
de campanha suspeitas podem ser legais, mesmo se vindas de caixa dois
empresarial: exigir dos candidatos que soubessem da intimidade contábil
do doador seria um desatino. O provável é que farta maioria das doações
esteja na ilegalidade, mas, em vista do que disse Odebrecht, todas
precisariam ser verificadas para haver julgamentos corretos.
O presente de Odebrecht não fez mas deixou no ar uma segunda ressalva:
Antonio Palocci. Com a dinheirama recebida, como portador de Lula,
Palocci está compelido a explicar a posse de R$ 120 milhões que lhe foi
atribuída. Ainda que o montante seja outro, Lula diz que nada recebeu.
Quando lhe descobriram um patrimônio imobiliário de mais de R$ 20
milhões, Palocci recusou-se a explicá-lo além do exaurido "prestação de
consultoria". A partir de Marcelo Odebrecht, será preciso mais. Ou
veremos no PT um fato sem precedente.
Tradição
Desvio de dinheiro público destinado à saúde não é crime como os demais
no gênero. Exige baixeza ainda maior. E essa é a acusação a Sérgio
Côrtes, agora preso no Rio. Ameaçador, com histórico de incidentes,
ex-secretário da Saúde no governo Cabral, Côrtes também é dos que não
temeram a exibição do enriquecimento veloz e inexplicado. A Polícia
Federal foi buscá-lo em uma das coberturas mais valiosas nas margens da
lagoa Rodrigo de Freitas.
Cobertura, além do mais, com história. Seu proprietário anterior foi
Mário Andreazza, o coronel que contratou, como ministro do general
Médici, a construção da ponte Rio-Niterói e da Transamazônica.
Desempregador
Um bom exemplo do que se pode encontrar na "reforma trabalhista" a
caminho: antes de decorridos 18 meses da demissão, as empresas não
poderão contratar como pessoa jurídica o trabalhador que demitam. Assim,
dizem o governo e seus deputados, serão evitadas as demissões para a
recontratação com menores custos de mão de obra.
O que vai decorrer desse artigo do projeto: as empresas demitem e
preenchem as vagas com novos trabalhadores na condição de firmas. Os
demitidos vão engrossar a população de desempregados.
É o governo Temer em ação.
Janio de Freitas
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