sexta-feira, 21 de abril de 2017

POLÌTICA - A tão esperada encomenda da lava jato.


Lava-Jato recebe a encomenda preciosa

        Lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça são crimes considerados de “natureza continuada”. Por isso justificam a prisão preventiva de suposto autor, para que ele deixe de cometê-los. Ao dizer em seu depoimento ao juiz Sergio Moro que o ex-presidente Lula o orientou a destruir provas do pagamento de propinas ao PT, o ex-executivo da OAS Léo Pinheiro parece ter entregado à Lava Jato uma encomenda destinada a justificar eventual prisão de Lula. Mas como tal prisão seria um ato insensato de Moro nesta altura dos acontecimentos, a afirmação de Pinheiro continua sendo uma encomenda, mas com outro objetivo: demonstrar aos procuradores, com os quais negocia uma delação premiada, que abdicou de qualquer lealdade ao antigo amigo e tem munição para detoná-lo, acelerando a condenação e a inelegibilidade.
        É sabido que a primeira tentativa de delação de Pinheiro foi recusada pelo motivo óbvio mas não declarado de que, sem acusações a Lula, ela não teria o menor interesse para a Lava Jato.  É sabido que, durante vários depoimentos, procuradores e policiais federais fizeram gestos para os depoentes mostrando uma mão com um dedo a menos. A mão de Lula, para falassem dele.
           Os antecedentes e o contexto em que Pinheiro prestou depoimento nesta quinta-feira reforçam a acusação da defesa de Lula, de que ele foi orientado pelos procuradores com quem negocia sua delação, a  apresentar evidências de que tem na bala na agulha contra o ex-presidente, e talvez até mesmo a bala de prata, que viria na delação.
         É sintomático, por exemplo, que ele tenha falado em destruição  de provas quando ninguém estava lhe perguntando sobre isso. E que o assunto nem fosse pertinente à ação penal que motivava o depoimento. Estava em pauta o tríplex do Guarujá, e não o pagamento de propinas ao PT.  Sobre o apartamento, Pinheiro correspondeu às expectativas de Moro, apesar das mais de 70 testemunhas que falaram contra a tese de que o imóvel pertença a Lula, e da ausência de provas que a defesa continua cobrando.  Mas este era um tema pertinente, diferentemente do caso da “destruição de provas”. Do nada, Pinheiro saiu-se com a história de que um dia, um tanto irritado, Lula lhe perguntou se fizera pagamentos ao PT no exterior. Se Lula sabia tanto dos negócios com o PT, já devia ter esta informação mas, segundo Pinheiro, fez a pergunte e ouviu a resposta negativa. Então, orientou-o a “destruir tudo”, caso tivesse anotações sobre os pagamentos a Vacari, tesoureiro do PT.
        Pinheiro admite que tinha anotações mas não deixa claro se atendeu ou não ao suposto pedido de Lula. Se destruiu ou não suas planilhas. Ou seja, entregou a encomenda mas não se incriminou.  Para a Lava Jato, basta a confissão de que Lula mandou destruir provas, e não saber se isso aconteceu ou não.
        Embora tenha agora essa arma contra Lula, não parece provável que sobrevenha a prisão, justamente quando o ex-presidente reforça sua condição de favorito na disputa presidencial de 2018. Justamente quando os autores do golpe afundam-se em denúncias de corrupção e Temer confessa a urdidura do próprio golpe. Tudo isso vem sendo percebido pela população e pode tomar a forma de reação a uma prisão de Lula. Moro pode usar a ameaça de prisão, e ainda outros trunfos que tenha guardado, para debilitar a posição a performance do ex-presidente no  depoimento do dia 3 de maio,  onde já chegaria inseguro e temeroso de não sair. Mas prendê-lo agora, não faz muito sentido.
        Os interesses da Lava Jato e os da elite que manda e governa nunca foram divergentes. Tanto é que todos os delatados tucanos e peemdebistas continuam aí soltos, apesar das delações da Odebrecht.  Relativamente a Lula, o que importa é tirá-lo da disputa, e não criar um mártir perseguido e preso. Moro tem pressa em exarar sua sentença condenatória para que o recurso de Lula ao TRF-4 seja logo julgado, e assim,  condenado em segundo instância, ele se torne logo inelegível para o pleito de 2018.

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