Cinco motivos para desconfiar da Globo em sua campanha para derrubar Temer. Por Joaquim de Carvalho
O escândalo que fez de Michel Temer e de
Aécio Neves mortos vivos da política brasileira não teria a mesma
repercussão se a Rede Globo não estivesse com seus canhões mirados nos
dois.
Mas é preciso separar o joio do trigo –
no caso, um tipo de trigo é o trabalho dos procuradores da República e
dos policiais federais em Brasília que, ao contrário de seus colegas no
Paraná, trabalharam e trabalham em silêncio.
Eles apuram fatos, reúnem provas e estas falam por si.
Já a Globo, como fez no Fantástico deste domingo, começa a fazer uma campanha pela moralidade pública.
Nada contra.
Mas a Globo, liderando uma campanha desse tipo, é como ver a raposa tomando conta do galinheiro.
Cinco motivos para não confiar na emissora da família Marinho — dos mais recentes aos mais antigos:
- Paula Marinho, neta de Roberto Marinho, filha de João Roberto, um dos três proprietários da Rede Globo, era uma das clientes do escritório da Mossak Fonseca no Brasil. Segundo papelada apreendida pela Polícia Federal – e até agora não investigada –, ela pagava pela manutenção de uma offshore incluída no escândalo internacional de lavagem de dinheiro conhecido como Panamá Papers. A offshore, Vaincre, é a real proprietária da Paraty House.
- Eu estive nas Ilhas Virgens Britânicas e mostrei que a emissora abriu uma empresa de fachada, que, segundo a Receita Federal, serviu de veículo para sonegar impostos no Brasil devidos pela compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo em 2002. A fraude foi comprovada, mas o processo que incrimina os donos da Globo foram furtados do escritório da Receita no Rio de Janeiro na véspera de ser encaminhado para o Ministério Público Federal.
- A Globo manteve na Europa a jornalista Miriam Dutra, que dizia ter um filho com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Miriam recebeu salário durante muito tempo sem trabalhar e, segundo ela, a Globo foi beneficiada por mantê-la numa espécie de exílio. Entre os favores, segundo ela, estavam financiamentos do BNDES.
- A Globo apoiou a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral com a condição de nomear o então ministro das Comunicações, que, mais tarde, ajudou a sufocar o dono de uma empresa que a Globo acabou comprando a preço vil. O caso está bem descrito no livro A História Secreta da Rede Globo, de Daniel Herz, e também no documentário Muito Além do Cidadão Kane.
- A Globo foi criada na década de 60 com dinheiro do grupo Time Life, americano, no auge da guerra fria. Essa injeção de dinheiro estrangeiro era proibida na época, e uma CPI no Congresso Nacional concluiu que a Globo não poderia ser concessionária de radiodifusão, em razão de fraudes – o dinheiro do grupo estrangeiro seguiu caminho subterrâneo, para disfarçar a sociedade com Roberto Marinho. Na época, desapareceu de um cartório no Rio de Janeiro a página do livro que descrevia um arrendamento de fachada. Na véspera do AI 5, a Globo ganhou a concessão em caráter definitivo.
Poderia citar muito mais aqui, como o
empréstimo a juro subsidiado no governo Collor para construir o Projac, o
lobby da Globo que transformou o horário eleitoral gratuito em crédito
tributário ou a pressão sobre o governo estadual do Rio de Janeiro para
alterar legislação de proteção ambiental e permitir a construção de
edifícios no Jardim Botânico – especificamente o Parque Lage.
Por causa disso, o ex-governador Carlos
Lacerda, que denunciou a pressão da Globo, chamou Roberto Marinho de Al
Capone brasileiro.
A história dirá o que a Globo ganha com a
queda de Michel Temer – de graça, pelo histórico da emissora, não é.
Mas, neste tempo, sem os canhões dela, Michel se fortalece.
A Globo ergueu seu império graças aos “favores especiais” que prestou aos governos.
O livro Dossiê Geisel, baseado em
documentos do general Ernesto Geisel em seus dias na presidência, cita
essa expressão, como tendo sido criada por Roberto Marinho
O fundador da Globo a usou
para cobrar novas concessões de rádio e tv, como retribuição pelo que
fazia em defesa da ditadura. Uma troca de favores especiais.
O ministro das Comunicações, Quandt de
Oliveira, era contra, porque via nas novas concessões o risco da família
Marinho atingir o monopólio do setor.
Como se vê hoje, Quandt perdeu na disputa.
E a Globo, na troca de favores com os
militares, alcançou índices de audiência só comparáveis a estatais de TV
em governos autoritários, como a Coreia do Norte, onde não existe
concorrência.
O ex-governador Leonal Brizola, o único
do primeiro escalão da política brasileira que não teve medo de
enfrentar a família Marinho, dizia que é fácil saber o que é melhor para
o Brasil.
Basta ir na direção contrária ao que defende a Globo.
A situação no País hoje é mais complexa e
seguir na direção contrária à da Rede Globo significa, neste momento,
apoiar Michel Temer.
Simplesmente, não dá.
A história do joio e do trigo é uma
metáfora cristã, que diz que é preciso esperar que o joio e o trigo
cresçam para que se identifique o que é joio e o que é trigo. E aí, sim,
arrancar o que não presta, sem o risco de, ao retirar o joio, acabar
também com a plantação de trigo.
A Globo é joio e cabe atenção para que, com a queda dos seus antigos aliados golpistas, ela não apresente a fatura.
Pode não parecer, mas é a Globo que é uma concessão do Brasil. E não o contrário.
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