Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas
Jornal GGN - Com os dias contados para o fim de
seus quatro anos de mandato, Rodrigo Janot estuda uma possível
recandidatura ao cargo maior da Procuradoria-Geral da República,
epicentro da Operação Lava Jato envolvendo os políticos. O prazo para
apresentar o nome à disputa interna termina hoje, 24 de maio, e a
disputa oficial começa amanhã.
Ainda em janeiro deste ano, quando aventou o desejo de cumprir um
terceiro mandato de dois anos, uma grande resistência se formou entre
procuradores da República. Um de seus principais opositores, o
subprocurador Carlos Frederico, que novamente este ano tenta a lista
tríplice, criticou fortemente o intento de Janot.
Á época, chegou a publicar em um fórum fechado de discussões
virtuais dos membros do MPF que Rodrigo Janot estava tentando
"brindeirar", em referência ao procurador Geraldo Brindeiro, durante a
gestão de Fernando Henrique Cardoso, que ocupou o posto por oito anos e
foi considerado o "engavetador geral da República".
"Com surpresa, vejo agora Janot ‘brindeirar’... Por mais quanto
tempo? Às custas de quê? Se o futuro a Deus pertence, o passado tem suas
linhas escritas na história, e não há como distorcer fatos,
principalmente onde não há ambiguidade", havia dito Carlos Frederico em
duro tom.
Até agora, cinco procuradores anunciaram o interesse à disputa
interna para levar os nomes da lista tríplice: além de Frederico; o
vice-procurador-geral Eleitoral Nicolao Dino; Mario Bonsaglia, que
concorreu na última disputa e ficou em segundo lugar com 462 votos; o
subprocurador Franklin Rodrigues da Costa, e Eitel Santiago, que já foi
corregedor geral do Ministério Público Federal, entre 2005 e 2006.
Em entrevista ao colunista do G1,
Matheus Leitão, o presidente da ANPR (Associação Nacional dos
Procuradores da República), José Robalinho Cavalcanti, evidenciou o
apoio a atual procurador para uma recandidatura: "Janot tem toda a
legitimidade para decidir e ele tem todo o direito de decidir até o
último momento", disse.
Além de Robalinho, fieis defensores da Operação Lava Jato também
apoiam o nome de Rodrigo Janot para ocupar mais dois anos, em um total
que somariam 6 na Procuradoria-Geral da República. Neste contexto, a
recente grande briga comprada por Janot com o atual presidente, Michel
Temer, traz um peso a mais para a decisão do procurador.
Foi a fala de Temer, em abril deste ano, que deu início à guerra. O
peemedebista afirmou que não é obrigatoriedade da Constituição a
chamada lista tríplice, resultado de uma eleição interna entre membros
do MPF para recomendar três nomes ao presidente da República,
responsável por definir o procurador-geral. Temer disse: a lista "tem
sido respeitada nos últimos anos, mas não há nenhuma previsão
constitucional que me obrigue a segui-la".
Naquele momento, o desejo de Temer de ver Janot longe do comando da
Procuradoria-Geral da República foi o mesmo de Janot ver Temer fora do
comando do Executivo.
Se as dúvidas ainda permeiam o próprio meio jurídico,
onde Janot recebe, por um lado, o apoio para se reconduzir à cadeira de
setores mais conservadores do MPF, como o presidente da ANPR, José
Robalinho Cavalcanti, por outro, a falta de respostas abre suspeitas de
que o procurador-geral esteja interessado em liderar outro Poder.
O vazamento da conversa entre o ex-colunista da Veja, Reinaldo
Azevedo, e Andrea Neves, irmã e a operadora do senador tucano Aécio
Neves, trouxe uma outra expectativa que corre nos bastidores da política
e do Judiciário.
Ainda que as publicações de Azevedo na revista e seus comentários
na rádio Jovem Pan tratavam de carregar menos em apurações efetivas e
mais no teor opinativo, o jornalista tem ampla passagem pelo meio
político, sobretudo com fontes e nomes do PSDB e PMDB.
Não à toa que foi na conversa com Andrea Neves que o ex-colunista
declarou haver suspeitas fortes de que Rodrigo Janot estaria de olho em
uma candidatura para o ano de 2018:
Reinaldo Azevedo - A gente precisa ter
elementos objetivos de um certo senhor mineiro aí, cuidando da
candidatura dele ou à presidência ou ao governo do Estado.
Andrea Neves - Como assim?
Reinaldo Azevedo - O nosso procurador-geral.
Andrea Neves - Você está achando?
Reinaldo Azevedo - Ôxi.. fiquei sabendo que
está tendo conversas. Eu só preciso ter gente que endosse isso de algum
jeito. Ter um pouco mais de elementos concretos. Que ele está, está.
Presidência talvez não, mas o governo de Minas, sim.
A conversa de Reinaldo Azevedo foi publicada pelo site Buzzfeed,
após integrar os autos retirados do sigilo, da investigação contra
Aécio Neves e sua irmão, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF), Edson Fachin.
Em recente nota,
a PGR esclareceu que não foi a Procuradoria a responsável por "anexar",
"divulgar" ou "transcrever" a conversa envolvendo o jornalista,
responsabilizando a Polícia Federal (PF) por incluir na ação cautelar as
mídias com os grampos de Aécio.
Neste contexto de um possível desejo de disputar eleições: seja na
recondução à liderança da Procuradoria, seja no âmbito do Executivo,
como governador de Minas Gerais ou até mesmo presidente da República,
Janot deu o tom de que está preparado para uma campanha.
A demonstração ficou clara com a publicação de um artigo,
nesta terça-feira (23), no Uol, criticando o mandatário Michel Temer,
criticando os governos petistas de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da
Silva, enaltecendo os avanços da Operação Lava Jato, e tirando uma carta
mais para queimar em uma nova construção de imagem "imparcial":
críticas ao senador Aécio Neves (PSDB).
Em determinado trecho do artigo, Rodrigo Janot evidenciou seu
interesse: o de atender "o juízo da sociedade". "Que juízo faria a
sociedade do MPF se os demais fatos delituosos apresentados, como a
conta-corrente no exterior que atendia a dois ex-presidentes, fossem
simplesmente ignorados? Foram as perguntas que precisei responder na
solidão do meu cargo", escreveu.
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