Dedo Duro S.A.
A expressão “premiada” que se glorificou pregar às delações aparece em toda a sua imundície, nua e crua, na reportagem de Felipe Bächtold, Ricardo Balthazar e Wálter Nunes na Folha de hoje.
No texto de Lava Jato e Odebrecht fazem pressão sobre delator que não admite culpa, eles contam como o Ministério Público e a empresa se unem para chantagear vários das quase oito dezenas de funcionários da empreiteira que querem exercer o direito de protestarem sua inocência, depois de terem-no vendido.
Vendido, esta é a palavra, porque todos ou quase todos receberam prêmios em dinheiro: gratificações, indenizações e garantia de cargos elevados na hierarquia da Odebrecht.
Comprados a peso de ouro para acusar terceiros e “aliviar a barra” da empresa, agora percebem que, para isso, tiveram de se confessar criminosos. Como não podem negar o que disseram, passam a dizer que “não cometeram crime” porque “cumpriam ordens”.
Cumpriam, não, cumprem ainda.
As delações lhes foram ordenadas, também. Haverá, nelas, verdades e mentiras, mas sempre no que convém ao império empresarial, para o qual dezenas ou centenas de milhões são uma pechincha para manter bilhões.
Qual é o nome disso senão corrupção, praticada sob a proteção e orientação do Ministério Público e sancionada pelo STF, na homologação “de batelada” que lhe deu a Ministra Carmem Lúcia. Os prêmios pagos ou prometidos a estes funcionários saíram no jornal, com todo o conhecimento, portanto, de promotores e juízes que, famintos por acusações, disseram que “não vem ao caso” se elas foram compradas.
Para avaliar a monstruosidade moral deste procedimento, basta inverter as posições: imagine anunciarem no jornal que testemunhas de defesa – e não estas, de acusação – receberam vantagens para prestar declarações. Bem, aí é crime, mas quando é a acusação, é “patriotismo”. Bem pago, aliás.
É ainda pior, porém. Sob o patrocínio do Ministério Público, a “multa rescisória” do negócio é a cadeia.
Em qualquer país civilizado, onde houvesse uma Justiça digna deste nome, estaria aberto um inquérito para investigar o “negócio milionário” que operou o “milagre” de converter à “verdade” 78 executivos.
Ao contrário, porém. Rodrigo Tacla Duran, o único que o recusou, protegido por sua cidadania espanhola – e pela Justiça daquele país, que lhe negou a extradição – está sob “silêncio coercitivo”. Não querem ouvi-lo e nem mesmo que fale, como já falou, que houve tentativas de suborno de gente próxima a Sérgio Moro e falsificação de documentos entregues como prova.
Há outra quadrilha nesta história, além da formada pela cúpula da Odebrecht.
E o seu prêmio são cabeças humanas.
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