Globo, Temer e o Brasil maravilha
Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Como num passe de mágica, entrevistados voltaram a sorrir ao lado de repórteres felizes e, de um dia para outro, só boas notícias inundaram a pauta da mídia.
É como se fábricas e lojas tivessem reaberto suas portas, oferecendo vagas de emprego a granel, os serviços públicos estivessem novamente funcionando, o dinheiro já não faltasse antes do final do mês, as pessoas voltando a viajar e sonhar, tudo uma beleza.
Já nem dá para saber o que é notícia e o que é propaganda oficial, as canções maviosas se sucedendo a embalar gente feliz.
Anuncia-se que “o Brasil voltou”, produzindo a todo vapor, de vento em popa, como naquelas campanhas ufanistas dos tempos do general Médici e do “milagre brasileiro”.
É o Brasil Maravilha de Papai Temer no ar, com seu saco de bondades, em todos os canais, o dia inteiro, invadindo os lares enfeitados de Natal à espera do bom velhinho.
Qual foi o milagre para tudo mudar tão rapidamente?
Uma pequena notícia publicada na página A7 da Folha desta quinta-feira, sob o título “Presidente teve encontro com a cúpula da Globo”, talvez ajude a entender esta mudança radical.
Diz a nota: “O presidente Michel Temer teve um encontro reservado no início de outubro em São Paulo com João Roberto Marinho, do Grupo Globo, para discutir a cobertura de seu governo pelos veículos da empresa, além de pedir apoio para a reforma da Previdência”.
Apoio para a reforma da Previdência não precisava nem pedir, já que toda a mídia está a seu favor, como o próprio presidente já tinha afirmado por estes dias.
O objetivo era outro, relatam os repórteres Marina Dias e Bruno Boghossian: “O presidente reclamou da cobertura do caso JBS pelos veículos do grupo, que tinha, segundo o político, o objetivo de derrubá-lo (…) Uma das reclamações centrais de Temer foi o editorial de O Globo, em 19 de maio. Intitulado “A renúncia do presidente”, defendia a saída de Temer do cargo como a melhor opção do país”. O colunista Ricardo Noblat chegou a anunciar na véspera que a renúncia era uma questão de horas.
De fato, a partir daquele dia, o maior grupo de comunicação do país deflagrou em todos os seus veículos uma campanha sem tréguas contra o governo de Temer, que chegou a lembrar os meses que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff.
Só se falava da crise do fim do mundo e de escândalos em todos os níveis, a Lava Jato dominava todos os noticiários e o baixo astral se instalou no país.
Tudo começou a mudar depois de Temer derrubar a segunda denúncia de Rodrigo Janot na Câmara, quando o ministro Moreira Franco assumiu o controle da propaganda oficial do governo e iniciou uma contraofensiva junto aos principais veículos.
Da recessão profunda à euforia consumista no comércio de Natal, das delações sem fim às conquistas da economia, foi um passo.
O Brasil saiu do inferno para o paraíso num piscar de olhos, sem disfarces nem aviso prévio.
Por trás destas conversas com a Globo e os demais, havia um inimigo comum a assombrar a todos, como se dissessem uns aos outros: “Se nós não nos unirmos agora, o Lula vai acabar ganhando estas eleições” (ver coluna anterior sobre a busca de um candidato anti-Lula), como já tinha alertado o ministro tucano Aloysio Nunes.
Na falta de outras opções, o próprio Michel Temer ousou apresentar seu nome como candidato de união na quarta-feira. “Temer não descarta disputar a reeleição”, anuncia a manchete da mesma página em que saiu a nota sobre o encontro do presidente com a direção da Globo.
Apesar de ostentar 1% de intenção de votos para 2018 na última pesquisa Datafolha, empatado com Levy Fidélix, aquele do aerotrem, como bem observou a coluna de Bernardo Mello Franco, o que animou o presidente foi a divulgação de um novo Ibope em que a a avaliação de ótimo e bom do governo oscilou positivamente de 3% para 6%, dentro da margem de erro, enquanto 74% consideram seu governo ruim ou péssimo (eram 77% em setembro).
Empatado com os mesmos 1% na pesquisa está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que pegou uma carona no programa do PSD apresentado nesta quinta-feira para fazer seu primeiro discurso de campanha:
Com o mote “o brasileiro não quer mais saber de aventuras”, Meirelles pregou “o reencontro dos milhões de brasileiros que são maioria e que não estão nos extremos do ponto de vista político e ideológico”, ou seja, Lula e Bolsonaro, que vêm liderando todas as pesquisas.
Ao apresentar sua trajetória ao eleitorado, o ministro da Fazenda só se esqueceu de incluir os oito anos em que foi presidente do Banco Central nos dois governos do “aventureiro” Lula.
Resta saber o que sua excelência, o eleitor, está achando de toda esta movimentação do establishment em busca de um candidato governista, que agora pode ser até o próprio presidente Temer, quem diria.
José Sarney, em circunstâncias muito semelhantes, não ousou tanto em 1989, quando todos os candidatos eram contra o seu governo e Fernando Collor acabou vencendo a eleição.
Quem seria o Collor da vez para enfrentar novamente o mesmo Luiz Inácio, quase três décadas depois?
Esta é a pergunta de um milhão de dólares para o cada vez mais imprevisível ano de 2018.
Vida que segue.
Como num passe de mágica, entrevistados voltaram a sorrir ao lado de repórteres felizes e, de um dia para outro, só boas notícias inundaram a pauta da mídia.
É como se fábricas e lojas tivessem reaberto suas portas, oferecendo vagas de emprego a granel, os serviços públicos estivessem novamente funcionando, o dinheiro já não faltasse antes do final do mês, as pessoas voltando a viajar e sonhar, tudo uma beleza.
Já nem dá para saber o que é notícia e o que é propaganda oficial, as canções maviosas se sucedendo a embalar gente feliz.
Anuncia-se que “o Brasil voltou”, produzindo a todo vapor, de vento em popa, como naquelas campanhas ufanistas dos tempos do general Médici e do “milagre brasileiro”.
É o Brasil Maravilha de Papai Temer no ar, com seu saco de bondades, em todos os canais, o dia inteiro, invadindo os lares enfeitados de Natal à espera do bom velhinho.
Qual foi o milagre para tudo mudar tão rapidamente?
Uma pequena notícia publicada na página A7 da Folha desta quinta-feira, sob o título “Presidente teve encontro com a cúpula da Globo”, talvez ajude a entender esta mudança radical.
Diz a nota: “O presidente Michel Temer teve um encontro reservado no início de outubro em São Paulo com João Roberto Marinho, do Grupo Globo, para discutir a cobertura de seu governo pelos veículos da empresa, além de pedir apoio para a reforma da Previdência”.
Apoio para a reforma da Previdência não precisava nem pedir, já que toda a mídia está a seu favor, como o próprio presidente já tinha afirmado por estes dias.
O objetivo era outro, relatam os repórteres Marina Dias e Bruno Boghossian: “O presidente reclamou da cobertura do caso JBS pelos veículos do grupo, que tinha, segundo o político, o objetivo de derrubá-lo (…) Uma das reclamações centrais de Temer foi o editorial de O Globo, em 19 de maio. Intitulado “A renúncia do presidente”, defendia a saída de Temer do cargo como a melhor opção do país”. O colunista Ricardo Noblat chegou a anunciar na véspera que a renúncia era uma questão de horas.
De fato, a partir daquele dia, o maior grupo de comunicação do país deflagrou em todos os seus veículos uma campanha sem tréguas contra o governo de Temer, que chegou a lembrar os meses que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff.
Só se falava da crise do fim do mundo e de escândalos em todos os níveis, a Lava Jato dominava todos os noticiários e o baixo astral se instalou no país.
Tudo começou a mudar depois de Temer derrubar a segunda denúncia de Rodrigo Janot na Câmara, quando o ministro Moreira Franco assumiu o controle da propaganda oficial do governo e iniciou uma contraofensiva junto aos principais veículos.
Da recessão profunda à euforia consumista no comércio de Natal, das delações sem fim às conquistas da economia, foi um passo.
O Brasil saiu do inferno para o paraíso num piscar de olhos, sem disfarces nem aviso prévio.
Por trás destas conversas com a Globo e os demais, havia um inimigo comum a assombrar a todos, como se dissessem uns aos outros: “Se nós não nos unirmos agora, o Lula vai acabar ganhando estas eleições” (ver coluna anterior sobre a busca de um candidato anti-Lula), como já tinha alertado o ministro tucano Aloysio Nunes.
Na falta de outras opções, o próprio Michel Temer ousou apresentar seu nome como candidato de união na quarta-feira. “Temer não descarta disputar a reeleição”, anuncia a manchete da mesma página em que saiu a nota sobre o encontro do presidente com a direção da Globo.
Apesar de ostentar 1% de intenção de votos para 2018 na última pesquisa Datafolha, empatado com Levy Fidélix, aquele do aerotrem, como bem observou a coluna de Bernardo Mello Franco, o que animou o presidente foi a divulgação de um novo Ibope em que a a avaliação de ótimo e bom do governo oscilou positivamente de 3% para 6%, dentro da margem de erro, enquanto 74% consideram seu governo ruim ou péssimo (eram 77% em setembro).
Empatado com os mesmos 1% na pesquisa está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que pegou uma carona no programa do PSD apresentado nesta quinta-feira para fazer seu primeiro discurso de campanha:
Com o mote “o brasileiro não quer mais saber de aventuras”, Meirelles pregou “o reencontro dos milhões de brasileiros que são maioria e que não estão nos extremos do ponto de vista político e ideológico”, ou seja, Lula e Bolsonaro, que vêm liderando todas as pesquisas.
Ao apresentar sua trajetória ao eleitorado, o ministro da Fazenda só se esqueceu de incluir os oito anos em que foi presidente do Banco Central nos dois governos do “aventureiro” Lula.
Resta saber o que sua excelência, o eleitor, está achando de toda esta movimentação do establishment em busca de um candidato governista, que agora pode ser até o próprio presidente Temer, quem diria.
José Sarney, em circunstâncias muito semelhantes, não ousou tanto em 1989, quando todos os candidatos eram contra o seu governo e Fernando Collor acabou vencendo a eleição.
Quem seria o Collor da vez para enfrentar novamente o mesmo Luiz Inácio, quase três décadas depois?
Esta é a pergunta de um milhão de dólares para o cada vez mais imprevisível ano de 2018.
Vida que segue.
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