quinta-feira, 6 de maio de 2021

El Salvador - "O golpe de Estado já foi executado".

 


"O golpe de Estado já foi executado”, denuncia deputada salvadorenha

Anabel Belloso, da Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional, comenta conjuntura política de El Salvador

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
 

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Após destituição de magistrados do Supremo Tribunal de Justiça, algumas manifestações foram registradas em San Salvador, capital do país centro-americano - Foto: Marvin Recinos/AFP

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, a deputada Anabel Belloso, da Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN), único partido de esquerda de El Salvador, afirma que a destituição de magistrados do poder judiciário pela Assembleia Legislativa é uma quebra do Estado de direito. 

A decisão proclamada pela maioria governista do Parlamento no último fim de semana, acendeu um sinal vermelho na comunidade internacional e foi amplamente críticada.

A nova composição da casa legislativa, com eleição massiva de deputados do partido Nuevas Ideas (NI), criado pelo presidente Nayib Bukele em 2018, amplifica os poderes e controle do direitista.

Isso porque, com a nova composição da assembleia e novos indicados para o Judiciário, o político não encontrará quaisquer dificuldades para aprovar suas decisões.

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Já a Câmara Constitucional, que teve seus membros retirados do cargo, é responsável por garantir o cumprimento da Constituição e vinha sendo atacada pelo presidente em razão da suspensão de normas relacionadas à pandemia consideradas abusivas pelo tribunal. 

Para a deputada Belloso, que compõe a minoria e oposição no Parlamento, a decisão é revanchista e não possui base legal.

O afastamento dos magistrados seria uma retaliação por apontarem as inconstitucionalidades cometidas pelo órgão Executivo e adoção de políticas de exceção em meio à pandemia.

“À demissão foi acrescentada a nomeação expressa de novos magistrados, de acordo com o que o governo deseja, contornando processos regulados por lei, para realizar a eleição. Os eleitos no sábado passado não vigiarão a institucionalidade e a lei. É o controle de outro órgão pelo presidente, concentrando o poder em uma mão”, diz Belloso.

“O golpe de Estado já foi executado e está avançando, pois após a demissão dos magistrados, o Procurador Geral da República também foi demitido e foi nomeado um novo, com um perfil muito questionável e próximo ao governo. As conseqüências vêm em cascata, não limitadas à crise política e institucional”, complementa a deputada.

Na visão da parlamentar, as investidas autoritárias irão aprofundar a crise econômica no país gerando queda nos investimentos e mais desemprego. 


Deputada Anabel Belloso é uma das quatro parlamentares da Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional, único partido de esquerda de El Salvador / Foto: Reprodução/Twitter

Bukele acumula críticas no que tange investidas autoritárias. Em fevereiro do ano passado, por exemplo, o presidente estremeceu relações com a antiga Assembleia Nacional ordenando que militares e agentes da Polícia Nacional Civil (PNC) invadissem o prédio do Legislativo para “pressionar” os parlamentares pela aprovação de um empréstimo de US$ 109 milhões para financiar um plano de segurança.

Na ocasião, em entrevista ao jornal El País, Bukele disse que a ordem para invadir o Parlamento foi "apenas um ato de presença" e afirmou que, se fosse um ditador, "teria assumido o controle de tudo".

Agora, com a destituição da Câmara Constitucional, o político está na mira de organismos internacionais como a Human Rights Watch e a Organização dos Estados Americanos (OEA).

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Segundo a parlamentar da FMLN, a preocupação da comunidade internacional com os recentes acontecimentos é válida e necessária. 

“É condenável este retrocesso que parece ser o início de um colapso total. Além de representar grande risco para as vozes contrárias que não são a favor de tais ações”.

A chegada de Bukele à presidência pôs fim a disputa entre o partido conservador Arena e a FMLN, de esquerda, que se alternavam no poder desde o fim da guerra civil no país, em 1992. 

Edição: Leandro Melito

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