segunda-feira, 10 de maio de 2021

"Esses médicos também são responsáveis".

 

Segunda-feira, 10 de maio de 2021
Esses médicos também são responsáveis

Olá!

Nesta segunda, publicamos uma reportagem da Thais Lazzeri mostrando que, em meio à pandemia que já matou mais de 400 mil brasileiros, o Conselho Federal de Medicina tem como prioridade impedir que milhares de médicos formados no exterior consigam trabalhar no Brasil — sim, você leu certo: impedir que médicos trabalhem. A matéria se soma a uma série de denúncias que o Intercept vem publicando há meses sobre o CFM. Agora, esperamos que a CPI da Covid-19 cobre o conselho sobre seus atos. 

Nosso cobertura sobre o CFM não vem de agora. Em janeiro, já havíamos trazido com exclusividade o depoimento de 11 ex-presidentes e ex-conselheiros de conselhos regionais de medicina revelando que o presidente do CFM, Mauro Ribeiro (acusado pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul de ter faltado a 873 plantões e embolsado o dinheiro), era notadamente alinhado a Jair Bolsonaro, e que a orientação do órgão aos médicos era de evitar se posicionar sobre o uso de cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos defendidos pelo governo.

Revelamos ainda, em março, o elo que o conselheiro do Rio de Janeiro no CFM, Raphael Câmara, faz entre o governo Bolsonaro e o órgão federal dos médicos. A atuação de Câmara não é ilegal, mas é antiética e revela como o Conselho foi aparelhado pelo bolsonarismo

O Intercept está na cola do CFM e acredita que ele precisa ser responsabilizado por diversos atos durante a pandemia. O conselho se manteve inerte diante das mentiras e dos fracassos do governo Bolsonaro, porque a chefia do órgão é composta de aliados do presidente. Denunciamos que a orientação interna a todos os membros do conselho é clara, conforme relatou um médico que integra as discussões do órgão: O CFM não pode “bater” no governo federal, porque “é o único governo que ouve o conselho”.  

Nossas reportagens jogaram luz sobre o aparelhamento ideológico do conselho da categoria: ao menos 18 conselheiros efetivos dos 28 que compõem o Conselho Federal de Medicina são filiados a partidos políticos. Desses, 16 integram partidos que apoiam o governo no Congresso Nacional, como PSL, MDB, DEM, PMN, Solidariedade, Podemos e Novo. Novamente: não se trata de ilegalidade, mas de um quadro de avanço da ideologia bolsonarista sobre um órgão que deveria se fiar à ciência acima de tudo.

Agora, o senador Humberto Costa, titular da CPI da Covid no Senado, disse que pretende apresentar requerimentos para ouvir membros do CFM e de planos de saúde na comissão. O foco é investigar o papel desses órgãos na defesa do "tratamento precoce". 

Essa cobertura começou com o Intercept e ficamos muito felizes de vê-la ganhar o debate público. Exatamente por isso não é hora de botar o pé no freio. Pelo contrário, a CPI já abre uma oportunidade muito importante para a sociedade brasileira. Essa tragédia não vai passar sem que os culpados por ela prestem contas para a sociedade. O nosso jornalismo, tenha certeza, está totalmente focado nisso. Porque esse é o coração da missão do TIB. 

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