Antes do porteiro de Paulo Guedes, houve o de Danuza Leão, que ousou viajar a Nova York
Paulo Guedes não apareceu agora. Paulo Guedes sempre existiu no Brasil.
Antes do ministro da Economia e sua queixa de que o Fies bancou “até o filho de porteiro que zerou o vestibular”, houve Danuza Leão, por exemplo.
Em 2012, a irmã reaça de Nara escreveu uma coluna na Folha que é um clássico da jequice e do ódio de classes.
Sob o título “Ser especial”, ela compôs um lamento sobre como “viajar ficou banal”.
“O que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da humanidade?”, questionava.
“Como se diferenciar do resto da humanidade, se todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais?”
Como, por Deus?
“Já se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da viagem -e se for o vídeo, pior ainda- de quem foi às muralhas da China. Ir a Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça? Enfrentar 12 horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros -não é melhor ficar por aqui mesmo?”
O mundo ficou tenebroso quando passou a ser dividido com essa gente feia, em resumo.
O porteiro de Danuza é o mesmo de Guedes.
Em ambos os casos, são figuras fantasiosas, míticas, com quem eles nunca conversaram de verdade.
Apenas deram ordens aos pobres, sem se interessar por suas vidas — até o momento em que informam sua existência.
E aí o espaço vital fica pequeno demais para todos.
Paulo Guedes é o messias de Danuza Leão. Alguém que colocou em prática o sonho que ela tinha de devolver a senzala à senzala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário