Sobe e desce do impeachment de um dia para outro
A cada dia muda o cenário da novela do impeachment. Quando parecia que estava criada uma onda irreversível pelo impedimento da presidente DilmaRousseff, com o desembarque do PMDB, a gangorra mudou de novo nas últimas 24 horas, invertendo as posições de momento. As últimas 24 horas foram de boas notícias para o governo, que conseguiu dar uma respirada, embora continue nas cordas, e de más notícias para a oposição, que já mostra os primeiros sinais de divisões internas.
Uma fala do ministro Luís Roberto Barroso num encontro com estudantes, que vazou pelo circuito interno de televisão do STF, retrata o sentimento que se generalizou esta semana em largos setores da sociedade que já davam como consumada a queda do governo:
"Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e pensei: meu Deus do céu! Esta é a nossa alternativa de poder".
Um resumo dos principais fatos mostra uma ligeira reação de Dilma e dificuldades dos grupos pró-impeachment para unificar a oposição, agora reforçada pelo PMDB, mas que até ontem continuava com cinco ministros no governo.
Do lado do governo:
* as manifestações em defesa da presidente Dilma e contra o vice Michel Temer, sob a bandeira do "Não vai ter golpe", foram maiores do que se poderia esperar, com a simbólica praça da Sé, em São Paulo, lotada por 40 mil pessoas, segundo o Datafolha. No Rio, o ato reuniu 50 mil pessoas, segundo os organizadores, e Chico Buarque foi ovacionado ao comparar a atual situação aos dias que antecederam o golpe de 1964. No Palácio do Planalto, a presidente promoveu mais uma pajelança para receber apoio de artistas e intelectuais, enquanto tenta remontar seu ministério.
* a defesa de Dilma na comissão que analisa o impeachment na Câmara, apresentada pelo ministro Nelson Barbosa e pelo advogado Ricardo Ribeiro, foi centrada na tese de que o processo "não tem base legal". Isto pode não ter mudado os votos dos membros da comissão divididos em torcidas organizadas a favor e contra o impeachment, mas ofereceu argumentos aos indecisos, que ainda são muitos, para definirem suas posições.
* por 8 votos a 2, a maioria do STF decidiu acompanhar o relator Teori Zavascki, que havia determinado, em liminar, o envio para o tribunal de todas as investigações envolvendo o ex-presidente Lula, que estavam com o juiz Sergio Moro. O STF ainda vai decidir, provavelmente na próxima semana, se Lula pode ou não assumir a chefia da Casa Civil.
Do lado da oposição:
* o presidente do Senado, Renan Calheiros, revelou a divisão interna do PMDB, apenas três dias após o desembarque do partido sob os gritos de "Temer presidente". Renan chamou o rompimento de "precipitado" por não ter representado um "movimento consistente" e se reuniu com a presidente Dilma para pedir que os seis ministros do partido permaneçam no governo. O PSDB, para não variar, também está dividido entre os que querem participar logo de um eventual governo Temer e os que ainda têm dúvidas, preferindo dar um tempo.
* Temer saiu de circulação, enquanto alguns setores do partido já começam a criticar as propostas econômicas contidas no seu projeto "Uma ponte para o futuro", por temerem reações populares às medidas de ajuste fiscal e de reforma da previdência. As primeiras pesquisas mostraram pouco entusiasmo do eleitorado com um possível governo Temer.
* O noticiário da grande imprensa também apresentou mudanças, tornando-se mais equilibrado ao abrir espaço para os dois lados da guerra política.
E assim chegamos ao final de mais uma semana de fortes emoções, sem saber quando e como esta novela vai acabar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário