BR Distribuidora já nasceu estratégica
Data: 21/02/2017
Autor: Rogério Less
Autor: Rogério Less
Economista pós-graduado pelo Conselho Nacional de Economia em 1963 e
formado pela Scuola di Hidrocarburi Enrico Mattei (Milão – Itália,
1966), Sylvio Massa de Campos foi designado por Ernesto Geisel, então
presidente da Petrobrás, Diretor Comercial da Petrobras Distribuidora já
em 1971, ano da fundação daquela estratégica subsidiária, que agora
está sob ataque e consta da lista de ativos que a atual gestão pretende
entregar, a pretexto de equacionar o endividamento da Companhia.
“Com a criação da BR Distribuidora, a Petrobrás estaria atuando em todas
as etapas da indústria do petróleo, em estrutura empresarial análoga a
das multinacionais, apropriando-se também de parte das margens de lucro
desse segmento para financiar os vultosos investimentos nas áreas de
exploração, produção e refino”, lembra o primeiro Diretor Comercial da
BR Distribuidora.
Como cidadão, Sylvio Massa distingue três fases da evolução da História
do Brasil como Nação, consciente de que as duas primeiras se
entrelaçaram e geraram desdobramentos na configuração da escala da nossa
economia e na inserção de expressivos novos grupos sociais na renda
nacional, dando ao País relevância entre as nações, dignidade para sua
gente e respeito à sua bandeira.
Na primeira fase, ele destaca os grandes vultos que vislumbraram o que será um dia a Nação brasileira, soberana e independente.
Em um segundo plano estariam os grandes construtores e empreendedores
públicos e privados, que estruturaram nosso desenvolvimento, inserindo a
economia brasileira entre as dez mais expressivas sob o aspecto do
valor da produção industrial, agrícola e de serviços.
Por fim, na direção oposta, uma terceira fase, iniciada em meados do
Século XX, na qual se projetaram executivos especializados em vender
bens públicos sob as mais diversas justificativas, e, assim, não se
vinculando as fases anteriores da nossa História.
“Nenhum país se desfaz de seus símbolos sem luta, apagando a memória de
sua História, pois eles representam a quintessência de um povo que, com o
saber técnico acumulado e a tipicidade de sua cultura, cria valores
basilares, para o orgulho de seus cidadãos, no presente e para o
futuro”.
Entre esses símbolos, Sylvio Massa vê um significado especial tanto na
Petrobrás, criada nos anos 1950 por clamor popular, quanto na BR
Distribuidora dos anos 1970, planejada por técnicos da própria empresa.
Nesta entrevista, o economista traça um histórico da empresa que ajudou a
desenvolver e apresenta, didaticamente, fatos e razões para mantê-la
sob o controle integral da Petrobrás e dos brasileiros.
Qual o objetivo da BR na época de sua criação?
Naquele momento, a distribuição de derivados era praticamente controlada
pelas multinacionais do petróleo, inclusive abastecendo as Forças
Armadas brasileiras.
Apenas duas empresas brasileiras atuavam nesse mercado, dominado pelas
multinacionais: a Ypiranga, muito bem estruturada, porém com alcance
apenas regional, no Sul; e a Petrominas, em processo falimentar.
A direção da Petrobrás, sob a orientação do presidente Geisel, criou a
SUDIST (Superintendência de Distribuição) com o objetivo de gerar um
plano para que a Petrobrás atuasse naquele mercado aberto e
concorrencial, que tinha a sólida presença das sete irmãs do petróleo.
Desse modo, a Petrobrás estaria presente em todas as etapas da indústria
do petróleo, em estrutura empresarial análoga a das multinacionais,
apropriando-se também de parte das margens de lucro desse segmento para
complementar o financiamento dos vultosos investimentos nas áreas de
exploração, produção e refino.
Em
19 de janeiro de 1970, pouco antes da criação da BR, o senhor foi
designado Superintendente de Distribuição, ou seja, o gestor da SUDIST.
Quais foram as principais iniciativas daquele período?
Junto com a equipe de profissionais da Petrobrás, apresentamos um ousado
planejamento que afetaria profundamente a empresa, com destaque para
sua imagem:
- mudança da logomarca, até então identificada por um losango azul e branco e o nome Petrobrás ali inserido;
- nova concepção de arquitetura para os postos de serviços valorizando as áreas urbanas onde se instalassem;
- lançamento de novos produtos com a marca Petrobrás: lubrificantes, querosene, fluidos, solventes etc;
- foi organizada uma frota de Kombis que inspecionariam as bombas e a
qualidade dos produtos expostos, bem como a limpeza e apresentação dos
frentistas, cujo uniforme seria branco.
Também fizeram parte da estratégia comercial as conquistas de postos da
concorrência para a mudança de bandeira e de grandes consumidores
industriais (produtores de cimento, vidro, siderúrgicos e têxteis, entre
outros), além da contratação dos profissionais do mercado mais
representativos para cada área.
Essa formulação foi aprovada pela diretoria e os seguintes profissionais, expoentes do mercado, foram contratados:
- Aloisio Magalhães -
principal nome do design nacional, criador do símbolo BR,
representativo de nosso país, em verde e amarelo, nossas cores, para ser
a bandeira dos postos de serviço da Petrobrás;
- Ziraldo - o famoso cartunista, ilustrador de livros e criador do primeiro calendário, para motoristas de caminhão;
- Henfil –
também cartunista e autor de textos para seus personagens, elaboraria a
primeira cartilha para frentistas dos postos de serviço sob o ponto de
vista de limpeza, delicadeza e presteza;
- Dilson Gestal Pereira -
profissional que revolucionou o conceito de arquitetura para postos de
serviços com desenvolvimento de outras atividades mercantis. Seu projeto
para os postos da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, foi
premiado na Alemanha;
- O poeta Decio Pignatari para a criação da logomarca LuBRax, onde o BR grifado indicaria produto Petrobrás;
Além desses expoentes, pessoas físicas, foram feitos acordos e parcerias estratégicas com instituições?
Sim. Fizemos negociações principalmente, com as grandes redes de
distribuição para mudanças de bandeira, em São Paulo, Minas Gerais e Rio
de Janeiro, com destaque para o acordo com TOURING Clube do Brasil.
E quanto ao setor público?
As prefeituras nos cederam áreas estratégicas sob o ponto de vista de
consumo e de exposição da imagem em troca de asfalto. Assim ocorreu no
Rio, São Paulo, Santos e nos estados de Alagoas e Paraíba, entre outras
unidades da Federação, com destaque para os postos da Transamazônica.
Nesse contexto, merece ressaltar a instalação dos postos na praia de
Copacabana e a conquista, por concorrência pública, dos postos do Aterro
do Flamengo, até então sob a bandeira da Shell, áreas nobres onde a
Petrobrás se apresentava com os melhores índices de atendimento ao
público.
Assim, a Petrobrás se afirmava no mercado de distribuição, em acirrado
processo de concorrência e sob os clamores e falsas denúncias das
multinacionais junto ao Conselho Nacional do Petróleo e ao Sindicato das
Distribuidoras, que exigiam a criação de uma empresa fora da
contabilidade da Petrobrás.
Nasceu então, em 12 de novembro de 1971, já adulta, a BR Distribuidora,
com mais de 800 postos de serviços, 40% do mercado de óleo combustível e
novos produtos com a marca BR-Petrobrás, em especial o lubrificante
LUBRAX, não obtendo a Chevron, cedente da tecnologia, como proposto,
destaque nas embalagens, após ferrenha luta dentro da Petrobrás.
Por que as multinacionais exigiam a criação de uma empresa fora da contabilidade da Petrobrás?
O objetivo era apenas usar a mídia para denunciar e fazer barulho contra
a entrada da Petrobrás num mercado controlado por elas há muitos anos e
com péssimos serviços prestados à população.
O objetivo da criação da BR Distribuidora se mantém inalterado ou modificou-se ao longo do tempo?
A Petrobrás e suas subsidiárias foram pensadas por brasileiros, criadas
com apoio das Forças Armadas e desenvolvidas por seu corpo técnico,
tendo a avaliação do mérito profissional a principal característica para
a formação de seus quadros, sem trocas de favores, com rígido controle
do Manual de Contratação, permanente auditagem interna dos negócios e
ampla liberdade para contradizer ou denunciar qualquer fato estranho às
normas.
Causa vergonha e revolta assistir aos fatos recentes de corrupção dentro
da empresa que, ao final, e talvez como causa planejada, servem para
alimentar a desmoralização de sua respeitada história e o
esquartejamento de sua estrutura empresarial.
Qual era o cenário político na época; muito diferente do atual?
A geopolítica era diversa da atual, o mundo era polarizado e prevalecia
ainda o conceito da existência de fronteiras não somente as geográficas,
a serem defendidas.
Não queríamos ser o quintal de nenhuma nação e muito menos inquilinos dentro de nosso próprio País.
Com relação às pressões externas; algum dia deixaram de existir?
Em particular, e com maior amplitude no sistema capitalista, as pressões
externas e internas por vantagens de qualquer natureza vão existir
sempre e são naturais. Devemos olhar é a nossa capacidade de resistir e
não deixar de buscar o significado das novas criações ideológicas que
envolvem a procura de novos mercados.
Que governos resistiram mais?
O governo de Getúlio Vargas, em sua segunda fase, e o governo Ernesto
Geisel, sob o ponto de vista da nossa nacionalidade, sem dúvida, foram
os mais aguerridos na tentativa de estruturar o desenvolvimento técnico e
econômico do País de forma autônoma em suas decisões.
Durante sua existência, quais os principais benefícios trazidos pela BR para a Petrobrás e para o País?
Para a Petrobrás, na consolidação de resultados, o reforço na liquidez
do seu fluxo de caixa, na apropriação da margem de distribuição em seus
resultados financeiros.
Para o País, a presença do símbolo BR em todos os rincões do território
nacional garantindo o abastecimento de combustíveis, mesmo, às vezes,
com resultados financeiros desfavoráveis.
Como
avalia o papel desempenhado pelos últimos dirigentes da Companhia, que
optaram pela venda de ativos estratégicos sob pretexto de equacionar o
endividamento, em momento de desvalorização e com prejuízo ao fluxo de
caixa no futuro?
O enfraquecimento político do corpo técnico da empresa, a perda de
representatividade das instituições nacionais, como o Clube de
Engenharia, ABI, OAB, entre outras, além da ausência de líderes cívicos,
como Barbosa Lima Sobrinho. Todas essas perdas permitem que dirigentes,
adeptos exclusivamente da regulação do mercado "livre", sem vinculo com
o fazer, com o construir, tratem importantes ativos, com alto valor
simbólico, como um parafuso qualquer posto à venda, com o frágil
argumento de reduzir a dívida que foi contraída para a realização de
investimentos ainda não finalizados e ainda sem oferecer o retorno
financeiro esperado.
Vender ativos que são geradores expressivos de receita para a empresa,
descaracterizar a bandeira BR com a ameaça de cessão de parte do capital
da Petrobrás Distribuidora, depenar pelas beiradas a estrutura
verticalizada da Petrobrás constituem crimes contra a pátria. Espero que
um dia essa venda seja anulada.
Qual o peso da BR entre as subsidiárias estratégicas do sistema?
O peso da BR é materialmente muito importante no fluxo de caixa da Petrobrás.
Por outro lado, os brasileiros vêem pouco as refinarias, as bases, os
petroleiros ou os terminais, por exemplo, mas a bandeira BR em sua
cidade, em seu município, em seu estado, expressando um símbolo
nacional, promove orgulho de ver uma empresa tecnicamente vitoriosa,
pensada com a coragem cívica e construída com o trabalho de honrados
brasileiros.
Entre as ações desta diretoria, existe alguma que, a seu ver, é passível de contestação judicial?
Sim, e a mais eficaz é a ação pública do corpo técnico da empresa,
principalmente dos empregados ativos, exigindo participação nas decisões
e não apenas a aceitação do veredicto dos prepostos temporários do
poder.
A
Petrobrás vem sendo processada em instâncias internacionais, sobretudo
porque boa parte de suas ações foi negociada para investidores da bolsa
americana. A Companhia estaria mais preservada se tivesse um maior
controle por acionistas brasileiros?
Sem dúvida a Petrobrás estaria muito mais protegida caso estivesse
regida exclusivamente pela legislação brasileira, pela nossa CVM.
Seguindo o exemplo das grandes corporações, com sólida experiência de
atuação mercantil em vários mercados, que evitam, quando possível,
submeter-se às legislações de mercado aberto, onde os ativos
mobiliários ou títulos de divida são negociados, pois a especificidade é
maior proteção ao investidor individual, em grupo ou fundos de pensão.
Um governo comprometido com a Nação não deveria promover a recompra desses papéis?
Qualquer governo, mesmo em regime de ditadura, age de acordo com a
pressão da sociedade, representada por suas instituições e organizações,
que, em suas manifestações, passam a exigir, cobrar, alertar para a
necessidade de alterar o rumo da política em vigor. Considero que AEPET
tem as credenciais morais, éticas e técnicas para inaugurar uma campanha
pela recompra dos papéis da Petrobrás no exterior.
É possível reverter o quadro político atual?
O surgimento de novas lideranças, afastadas das atuais organizações
oficiais, deve ser buscado; a livre denúncia nas redes sociais dos atos e
fatos que prejudiquem o futuro da empresa; a formação de um corpo de
defesa dos nossos símbolos junto à sociedade civil para ,assim, defender
os interesses da Nação, do Estado e não apenas do Governo.
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