Mino: Lava Jato racha Casa Grande
Como o PiG se comportará diante do racha?
O Conversa Afiada reproduz editorial de Mino Carta na Carta Capital:
Racha intestino
Uma pesquisa CNT-MDA informa que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganha as eleições presidenciais de 2018 com maioria relativa no primeiro turno e absoluta no segundo. Não há tucanos ou peemedebistas entre seus adversários mais cotados. No rol figuram Jair Bolsonaro, como fruto do discurso do ódio, e Marina Silva, a resultar da ilusão. Os números são trágicos para os golpistas no poder.
Pergunto aos meus intrigados botões que
efeito haverá de ter a pesquisa sobre o comportamento da República de
Curitiba em relação ao destino de Lula. No mês passado, dois graúdos
delegados divergiam. Um dizia ter-se esgotado o timing para
a prisão do ex-presidente, o outro não concordava. Em que medida a
pesquisa divulgada na quarta-feira 15 atiça os propósitos de Sergio Moro
e da sua turba de promotores milenaristas?
Matutam os botões, a partir da
consideração de que um racha se define progressiva e impetuosamente
entre as forças golpistas, e o pomo da discórdia é a própria Lava Jato.
Cada vez mais escancarada a postura de cada facção. Um único objetivo
ainda as une: alijar Lula da corrida presidencial. Mas é possível
admitir, ao cabo destes anos todos de tormento, que o único objetivo da
operação curitibana seja impedir o ex-presidente de voltar a sê-lo nos
braços do povo?
Tudo é possível no Brasil do golpe,
murmuram soturnamente os botões, e eu me pego a anuir, forçado pelas
evidências. Contudo... Contudo, engato outra pergunta: que dirá o Brasil
diante da violência cometida contra seu único grande líder? Como
afirma Raduan Nassar, ao receber o Prêmio Camões, “vivemos tempos
sombrios, muito sombrios”. Até quando o povo brasileiro aguentará tanta
privação, tanta humilhação, tanta prepotência?
Cabem dúvidas quanto à aposta na
cordialidade popular, entendida como resignação. A marcha inexorável da
recessão trabalha contra os senhores. A comparação entre os tempos do
governo Lula e os dias de hoje também, enquanto grassa o conflito nas
hostes golpistas. O quadro é sombrio, está claro, passível, porém, de
revelar um país que a casa-grande não imagina.
Embora pessimista na inteligência,
como recomenda Antonio Gramsci, e escassamente inclinado à esperança,
conforme aconselha Spinoza, dias esperançosos vivi durante a ditadura,
na crença de que, ao terminar o estado de exceção, o Brasil encontraria o
caminho da liberdade e da igualdade. Com a chamada redemocratização,
precipitei na desilusão. E se um raio de sol subitamente penetrasse a
selva obscura?
Algo, de todo modo, me espicaça neste
exato instante: diante da fratura a se alargar dentro das forças
golpistas, em um país privado pela força e pela insensatez das suas
instituições, que comportamento tomará a mídia nativa? Contra ou a favor
da messiânica operação curitibana?
Perplexos, os botões intensificam a
reflexão. Concordam, porém, com a importância do quesito, determinante
na visão do futuro imediato. O apoio midiático à Lava Jato foi maciço e
constante, em benefício dos vazamentos seletivos. Em momento algum a
propaganda do pseudojornalismo deixou de projetar a Lava Jato como a
imbatível ponta de lança do combate à corrupção.
Nada contra esta sacrossanta batalha,
desde que, ao contrário da operação em curso, não poupe quem quer que
seja. Desde que não atue politicamente na tentativa de destruir um
partido e seu líder. Desde que não cometa irregularidades imperdoáveis e
ofenda gravemente a própria lei que pretende aplicar.
A maior afronta cometida pela Lava Jato
foi ignorada pela mídia nativa, bem como todas as demais. Refiro-me à
interpretação errada, em clamorosa má-fé, do conceito da delação
premiada, inaugurada na Itália na operação antimáfia e confirmada por Mani Pulite.
Entenda-se a diferença. Uma coisa é a delação do preso por culpa
provada e sentenciada, destinada a abrandar-lhe a pena, outra é prender
sem prova para forçar a delação. Escárnio cometido em nome da felicidade
geral da nação ignorante.
Não sei, e tampouco sabem os meus botões,
que fará a mídia agora, enquanto se define o racha intestino. Confesso
que, na expectativa, ganho bastante diversão.
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