quinta-feira, 6 de maio de 2021

Filme Nomadland.

 

Nomadland é um filme com histórias horríveis

Ao contrário do que parte da crítica anda falando, o grande vencedor do Oscar 2021 não é uma “linda história sobre nômades modernos", mas sim sobre pessoas que perderam tudo para a crise hipotecária de 2008

 
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Ao contrário do que parte da crítica anda falando, o grande vencedor do Oscar 2021 não é uma “linda história sobre nômades modernos”, mas sim sobre pessoas que perderam tudo para a crise hipotecária de 2008

Foi com estupor que, ao acompanhar parte da cobertura do Oscar 2021 na TV aberta, me deparei com alguns comentários profundamente equivocados sobre o filme Nomadland, que confirmou o favoritismo e levou as estatuetas de filme, atriz (Frances McDormand) e direção, Chloé Zhao, a primeira asiática a receber tal premiação.

Entre os comentários que quase me fizeram ter uma síncope destaque para “uma linda história sobre os nômades modernos”, como se as histórias ali retratadas fossem sobre pessoas que, do alto dos seus 60 anos de idade resolveram revive os momentos de contracultura.

Na verdade, ali são apresentadas pessoas reais, com exceção de Fern (Francis), que perderam tudo depois da crise econômica de 2008. A própria protagonista da trama perdeu marido e casa, ficou sem nada.

Nomadland, apesar de uma bela fotografia, conta as horríveis histórias de pessoas precarizadas pelo neoliberalismo. A história de pessoas de que sim, deveriam estar viajando por seu país, mas com aposentadoria e conforto, e não dentro de uma casa/van sem qualquer qualidade sanitária.

Se alguma pessoa depois de ver o filme não se sentir mal, é porque não entendeu a mensagem da obra. E bem sabemos que o filme, baseado em livro reportagem que leva o mesmo nome, é apenas uma parte da destruição de vidas no coração do capitalismo. Busquem por “bairro skid row” na internet.

O fim do Estado

De que adianta uma vida nomádica, se quem dá emprego é a Amazon?

Nomadland é um paradoxo: o Estado morreu, milhares de pessoas perambulam pelos EUA como nômades, mas o trabalho que resta é enxugar o chão, levantar cascalho e montar os pacotes da Amazon.

Se alguém tinha alguma dúvida de que o American Way of life tinha morrido, o filme de Chloe Zhao é pá de cal. Está tudo morto, menos os conglomerados e o mercado imobiliário, que segue ganhando dinheiro e vendendo a ilusão da casa própria.

Há um diálogo que basicamente vale pelo filme todo, quando Fern, a protagonista, vai visitar a irmã e uma das pessoas é um desses caras que se vangloria de ter ganhado muito dinheiro no pós-2008 e ela pergunta: “você não se sente mal em vender coisas para pessoas que não poderão pagar?”. Silêncio.

O processo das personagens do filme se dá nos EUA, mas é comum em várias partes do mundo, pois, o neoliberalismo, como política colonial que é, contaminou vários países e destruiu os lastros trabalhistas. Não sobrou nada, mas falta precarização e falta de perspectiva. É por isso que as pessoas se matam.

A serenidade de Fern é de alguém que sabe que não há mais o que fazer, pelo menos para a sua geração. O seu marido morreu, a cidade em que vivia também não existe mais, faliu junto com a crise de 2008 e nunca mais se reergueu. Virou cidade fantasma.

Nomadland é sobre a crise, mas é também sobre a necessidade de superarmos o capitalismo.

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