A Globo diz que não consegue entender como uma pessoa como Wilson Witzel surge, assim, do nada, na política brasileira. Vamos ver se a gente consegue explicar:
1- 2008. 'Tropa de Elite', da Globo Filmes, dirigido pelo reacionário José Padilha, leva ao cabo o conceito de hiper realidade e põe nas telas um policial torturador espirrando sangue negro das comunidades cariocas para delírio de uma classe média protofascista que, aquela altura, ainda não tinha se organizado politicamente.
2- 2010. A polícia cerca por uma semana o Complexo do Alemão, nas famosas imagens que rodaram o mundo. Em cada mesa de bar da Zona Sul dourada, um fã do Capitão Nascimento fazia suas apostas sobre a hora em que a chacina geral deveria acontecer. Era o mesmo local onde, em frente a um tanque do Exército, Freixo segurou aquela placa pedindo UPP para favela. A Globo cobria tudo como se fora um BBB da vida real. Nesse mesmo ano, estreia o filme "Tropa de Elite 2", que acrescentava, agora, a aversão à política, antecipando a moda reacionária que tomaria conta das ruas e dessa vez contando com uma participação pra lá de especial nesse enredo: o deputado do PSOL, amigo do diretor fascista.
3- 2013. Nas ruas do Rio, um bombeiro alucinado dava os primeiros passos de uma marcha que ganharia adeptos de verde amarelo CBF, jovens descolados e velhos esquerdistas ressentidos, todos juntos entre gritos de "Não vai ter Copa", "Contra tudo isso que tá aí". O bombeiro era Cabo Daciolo, que logo em seguida seria convidado pelo PSOL a ingressar no partido, e que gritava nas ruas ao lado de Chico Alencar (o mesmo que posou com máscara de black bloc") e daquela figura medonha vestida de Batman que terminaria carregando Bolsonaro no colo, na Orla de Copacabana, em 2018.
4- 2015. Com as ruas já explodindo o ódio pré-bolsonarista, o deputado Babá, fundador do PSOL, era visto nas passeatas de categorias como os professores com sua faixa "Fora Dilma, Cunha e Fora todos". Quanto a Globo, a essa altura, sócia da Lava-Jato, já tomava a dianteira do golpe em todo o território nacional, preparando Sérgio Moro com o esmero que se preparou o Capitão Nascimento, que diga-se não de passagem, também teria sua história contada em "O mecanismo", do mesmo José Padilha.
5- 2016 a 2018. Golpe dado. A escalada fascista não pararia mais. Da deposição violenta de Dilma ao sequestro violento que levou Lula à cadeia, o que se viu aqui nesse país foi uma descontrole e uma degringolação jamais vista, até que o filhote que vinha sendo gestado na "cadela do fascismo" solta nas ruas há quase meia década, finalmente sai pra fora de 17 no peito e dando tiro de metralhadora pro alto com as mãos!
6- Por fim, foi a partir do assassinato da vereadora Marielle executado pelo grupo miliciano ligado ao SEU então candidato a presidente, que Witzel ficou conhecido - no episódio onde aparece de punho erguido e sorriso trincado, quebrando a placa em sua homenagem, tb registrado como seu "segundo assassinato". E pra fechar simbolicamente esse ciclo, como não poderia deixar de ser, adivinha quem teve a honra de dirigir a história de Marielle para Globo? Ele mesmo, o amigo do deputado do PSOL, que juntos ou misturados, cada um a sua maneira, pouco importa, todos protagonistas dos piores momentos que nos trouxeram até aqui.
A gente mostra pra Globo, então, que não é tão difícil assim um esforço de reportagem para explicar como nascem os monstros. Basta apenas ter caráter ou então vergonha no meio da cara. Como sabemos que não se pode contar com nem uma coisa nem outra da maior organização golpista desse país, só nos resta seguir mostrando a nossa diferença pra ter bastante certeza de que, diferente de uns e outros por aí, JAMAIS estaremos do mesmo lado.
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