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Ângela Carrato: Até no dia da mentira JN usa fake news clássica para combater outras fake news


02/04/2022 - 17h37

MENTIRA, ATÉ NO DIA DA MENTIRA

Por Ângela Carrato*, em seu perfil em rede social

Quase no final da edição de ontem (1/4), o Jornal Nacional, através de seu principal âncora, William Bonner, fez uma espécie de editorial exaltando a importância do “jornalismo profissional”, do compromisso com o fato e da necessidade de se combater as fakes news.

O objetivo era apresentar para o “respeitável público” um vídeo que, segundo Bonner, vai ser exibido durante toda a campanha eleitoral na Globo.

Até aí, tudo certo, se para o JN os fatos não fossem apenas o que ele e demais veículos da mídia corporativa apresentam como tal e não computassem as fake news na conta das redes sociais e da mídia independente.

Como mentira tem perna curta, a reportagem que se seguiu a este editorial foi uma clássica fake news.

A exemplo do que faz há seis anos, o JN abriu generoso espaço para Sergio Moro dar o seu recado, sem qualquer contextualização sobre sua história e trajetória e, pior ainda, sem qualquer questionamento à sua fala.

E o que disse Moro? Disse que não desistiu de ser candidato à presidência da República e que não está atrás de foro privilegiado.

O ex-juiz parcial falou, falou, mas não convenceu.

Se, como enfatizou, prezava tanto a magistratura ou o cargo de ministro da Justiça, por que abriu mão dos dois?

Por que prendeu, sem provas, o ex-presidente Lula?

Já está provado que foi para tirar Lula do páreo em 2018 e abrir espaço para a vitória de Bolsonaro, mas não ocorreu a Bonner lembrar esse fato.

Muito menos ocorreu a Bonner lembrar que o STF considerou Moro um juiz parcial, o que equivale à maior desmoralização possível para um magistrado.

Como se isso não bastasse, Moro ainda aceitou como prêmio pelos serviços prestados, o cargo de ministro da Justiça no governo Bolsonaro.

Igualmente não ocorreu a Bonner recordar a lamentável passagem de Moro pelo governo Bolsonaro.

Aliás, até hoje o JN esconde do seu “respeitável público” toda a trama denunciada e comprovada pela #VazaJato, série de reportagens publicadas pelo The Intercept BR, a partir de vazamentos do hacker Walter Delgatti.

Nessas reportagens, o submundo da Operação Lava-jato veio à tona. Ficou patente, por exemplo, a ligação dela com órgãos de segurança/espionagem e interesses dos Estados Unidos ao arrepio da lei, as tramóias para tentar criminalizar Lula e o voraz apetite por dinheiro de então procurador federal Deltan Dallagnol e turma.

Se as instituições estivessem efetivamente funcionando, era para Moro e Dallagnol estarem respondendo a pesados processos e dificilmente escapariam de condenações.

Talvez seja exatamente por isso que Moro e Dallagnol estejam atrás de foro privilegiado.

Ambos temem o futuro. Mas, claro, Bonner se esqueceu de tudo isso.

Descontando-se o lero-lero de Bonner, esta edição do JN deixou claro três coisas:

1. A família Marinho não desistiu de Moro e tudo fará em apoio ao seu “queridinho”;

2. Os golpistas (e seus aliados externos) seguem com dois candidatos: Bolsonaro e Moro;

3. O papel de Moro pode ser inclusive o de funcionar como linha auxiliar de Bolsonaro para evitar uma possível vitória de Lula no primeiro turno.

No mais, num único aspecto ninguém pode negar que Bonner foi verdadeiro.

JN não se comprometeu com a verdade nem no dia da mentira.

*Ângela Carrato, jornalista, professora da UFMG e apoiadora da chapa ABI Luta Pela Democracia.

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