De
4 a 18 de Maio, Zagreb enche-se de estranhos sinais nas ruas
principais, anunciando um festival de cinema subversivo ou um festival
subversivo de cinema – a língua inglesa é muito traiçoeira. Milhares de
pessoas participam na discussão de filmes e, depois, nos fóruns por
onde passa a filosofia, política, psicanálise, história, testemunho de
movimentos sociais e debates de estratégia. A esquerda junta-se nos
Balcãs.
6º fórum e festival de cinema subversivo, Zagreb, maio de 2013
A preparação da AlterSummit, que se reúne em Atenas
dentro de dias, das próximas manifestações europeias e, ainda, a
resposta à crise europeia, foram temas marcantes dos debates, com a
colaboração da rede Transform (de que faz parte a Cultra, portuguesa).
Como dentro de dias a Croácia, anfitriã do festival, consagra a sua
entrada na União Europeia, e a recessão, a austeridade, as opções
merkelianas e a relação de forças na união foram um tema insistente
para muitos dos participantes croatas. Mas o que dominou o debate,
desde as apresentações de filósofos que refletiam sobre os movimentos
de resistência, até ao discurso militante, foi o exemplo grego, as
ocupações da Praça Syntagma do ano passado e a ascensão do Syriza como
alternativa eleitoral e política.
Nas esquerdas, e por maioria de razão nas direitas, há
quem não queira sentir o óbvio: o Syriza é hoje a parte mais forte da
esquerda europeia. A parte melhor, porque a mais empenhada numa
alternativa imediata para os problemas de fundo. E a parte mais
mobilizada, porque é essa atitude de ousadia e de querer vencer que faz
sempre a diferença. Por isso, a Grécia foi o tema deste fórum, cujo
título é “A Utopia da Democracia”: a democracia grega, que marcaria o
Memorando, seria o renascer da Europa.
Zizek, apoiante do Syriza mas evidentemente incrédulo
sobre o seu sucesso, perguntava a Tsipras o que vão fazer se ganharem,
como se um elemento de dúvida sobrasse depois de tudo, ou estivesse
predestinado um curso para o recuo face às dificuldades – ou como se o
programa da esquerda fosse sempre incumprível. Estranha pergunta,
compreensível dificuldade, como se a política fosse um exercício de
laboratório, porque o compromisso da esquerda só pode ser fazer
exatamente o que pode levar à vitória: cumprir a sua palavra e terminar
o protetorado da troika. O que faz a força da resposta é o que faz a
força da vitória é o que faz a força do governo e da luta popular – só
assim a esquerda é esquerda.
Ao mesmo tempo, as lutas sociais na Roménia, Bulgária,
Eslovénia e mesmo no Kosovo repercutem-se num entusiasmo que se sente
na sala e nos testemunhos de muitos dos seus participantes. Dos Balcãs
a Atenas, a Europa move-se um pouco e faz tremer o sul da Alemanha.
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