1. No dia 28 de junho de 1914, 100 anos atrás, o auto-proclamado nacionalista iugoslavo, muitas vezes descrito como um anarquista, Gavrillo Princip, de 19 anos, assassinou em Sarajevo o Arquiduque Franz Ferdinand da Áustria e sua esposa Sophie, Duquesa de Hohenberg. O Arquiduque, sobrinho do Imperador Franz Joseph I (primo irmão de D. Pedro II), era o herdeiro do trono em Viena. Princip atirou duas vezes contra o Arquiduque, que era seu alvo. A primeira bala atingiu-o no pescoço. A segunda-bala atingiu o abdomen da Duquesa, que se interpusera entre o Arquiduque e o assassino, tentando protegê-lo. Ambos morreram poucos momentos depois. Naquele dia, durante o desfile que o casal fazia em Sarajevo, já houvera uma tentativa de matá-los através de uma bomba que, com um dispositivo de retardo, demorou a explodir a atingiu o quarto carro que vinha atrás.
Apesar disto, não houve precauções especiais tomadas, a não ser a orientação para mudar o roteiro posterior do desfile, o que não foi obedecido. Ao se dar conta do erro, o cocheiro parou o carro para dar meia-volta. Nesta ocasião Princip se aproximou e fez os disparos. Além deles dois, quatro outros conspiradores estavam no caminho para matar o Arquiduque. O atentado fez parte de uma série deflagarada contra diferentes aristocratas em toda a Europa. A tia de Franz Ferdinand, a Imperatriz Sissi (Elisabeth da Baviera) já fora vítima de um, em Genebra. Princip morreria na prisão quatro anos depois, de tuberculose.
2. O Império Austro-Húngaro impôs dez condições à Sérvia, como reparação do atentado. Quando esta não aceitou duas, um mês mais tarde, Viena ordenou sua invasão. A Rússia reagiu de um lado, a Alemanha do outro. Devido à política dealianças políticas e militares (muitas delas secretas), o conflito de alastrou, e pela primeira vez atingiu simultaneamente todos os continentes em grande escala. Deve-se apontar entre as causas do conflito os imperialismos e os nacionalismos emergentes, na passagem do século XIX para o século XX. Opunham-se os Aliados (França, Grã-Bretanha, Rússia, Estados Unidos e mais dezenas de países, entre eles o Brasil, embora não tenha enviado tropas) e as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria, e outras dezenas de países.
3. Os números da hecatombe são impressioanantes. Entre os Aliados pereceram 5,5 milhões de militares, com quase 13 milhões de feridos e 4,2 milhòes de desaparecidos; no lado das Potências Centrais houve 4,4 milhões de militares mortos, 8,4 milhões de feridos e 3,6 milhões de desaparecidos, sem contar as vítimas civis. A guerra consagrou a figura do “Soldado Desconhecido”, devido ao elevado número de vítimas enterradas sem identificação.
4. Em parte o número elevado de vítimas se deveu às proporções do conflito. Mas em parte também se deveu ao fato de que com frequência se utilizavam, nos campos de batalha, táticas de guerras passadas diante de armamentos extremamente sofisticados, como as metralhadoras – que recebiam cargas frontais de infantaria e cavalaria. Pela primeira vez usaram-se armas químicas, como o gás mostarda, desenvolvido primeiro na Alemanha e usado na Bégica e na Rússia.
5. Ao fim do conflito quatro impérios tinham desaparecido: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Russo e o Otomano. A Rússia cedia o espaço para a formação da futura União Soviética. A Grã-Bretanha emergia como um grande império vencedor, mas os Estados Unidos se agigantavam como potência imperialista. O mapa do mundo sofreu enormes modificações em muito pouco tempo. A criação imediata da Liga das Nações não impediu a continuidade da emergência dos nacionalismos, o que, junto com um novo tipo de racismo oriundo no século XIX (apesar de suas raízes mais antigas, como no caso do antissemitismo) e a repressão aos movimentos comunistas levaria à ascensão do nazismo e do fascismo e à Segunda Guerra Mundial.
6. A Primeira Guerra, além de potenciar também os movimentos pacifistas, que se opunham ao nacionalismo belicoso, fossem comunistas ou não, abriu o espaço para a expansão das vanguardas artísticas no mundo inteiro. Movimentos como o Dada, o Bauhaus, a música e as artes plásticas experimentais, o teatro militante têm diretamente a ver com este clima de crítica radical ao mundo intelectual e simbólico anterior, associado à emergência do conservadorismo hegemônico.
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