Áudio de Temer não vazou por acaso
Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
A mim parece evidente que o vazamento do áudio de Temer não foi acidental (clique aqui para saber mais). Aliás, isso pouca importa. O que interessa é saber se a manobra vai ajudar o peemedebista a dar o golpe, ou se vai atrapalhar.
Lembremos que a “carta chorosa” de Temer há alguns meses também foi vazada “por acaso”. Na verdade, era estratégia de comunicação, que depois se revelou desastrada.
O áudio agora vazado terá o mesmo destino? Transformar-se-á em mais um episódio patético a mostrar a pequenez de Temer? Essa é a narrativa em disputa nesse momento.
Aparentemente, pega muito mal junto à opinião pública o fato de Temer falar como “presidente” antes da votação final no dia 17. Ele fica com o carimbo, na testa, de golpista e conspirador. Sentou na cadeira antes da hora. Traiu, mostrou-se patético e pequeno.
Mas me parece que Temer resolveu correr o risco.
Com 1% nas intenções de voto (segundo o Datafolha), Temer não faz nesse momento uma disputa por popularidade. O objetivo dele é simplesmente conquistar votos indecisos, dentro o Colégio Eleitoral que – de forma indireta – pode dar o poder ao peemedebista, num golpe parlamentar comandado por Cunha e tolerado pelo STF.
Ninguém grava “por acaso” um discurso de 15 minutos. Temer planejou o vazamento, para convencer indecisos, ocupando espaço no JN nesta segunda-feira (11 de abril). Hoje, o noticiário estaria dominado pelos atos de rua contra o impeachment: Lula e os artistas no Rio, contra o golpe, estariam na tela.
Temer ofereceu a Ali Kamel 15 minutos, para dividir espaço com Lula.
Isso será suficiente para garantir os votos que hoje a oposição não tem? Difícil saber.
Na Comissão, o impeachment foi aprovado por 38 votos a 27, num total de 65 parlamentares. Isso significa 58% dos votos pela derrubada de Dilma. Agora, tudo segue para o plenário, onde serão necessários 67% (dois terços) dos votos para dar o golpe. Ou seja, mantida a proporção da comissão, o golpe será rejeitado.
A votação final, dia 17, deve ser decidida no olho mecânico. As cúpulas partidárias (PSB, Rede e vários diretórios regionais do PP, sem falar no líder da bancada do PR) migraram nas últimas horas para uma defesa explícita do impeachment. Mas, na ponta do lápis, a conta não está fechada.
O governo conta com uma base firme de 110 deputados, à qual hoje pode agregar, na pior das hipóteses: 20 votos do PP (de um total de quase 50), 15 do PR, 15 do PSD e 10 do PMDB = 60 votos. Contará ainda com votos esparsos no PTB e nos partidos chamados de nanicos (totalizando mais 10 votos, talvez).
A máquina midiática, de um lado, tentará criar um clima de “já ganhou”a favor do impeachment. De outro, Lula nas ruas e nas articulações de bastidor tenta assegurar 60 ou 70 votos na centro-direita (especialmente nas bancadas do Norte/Nordeste), que seriam suficientes para barrar o golpe.
O áudio de Temer inscreve-se nessa estratégia. Tenta apontar a “expectativa de futuro” em torno de um “novo governo” – numa tentativa final de esvaziar essas bancada de 60 votos conservadores que Lula articulou, e que podem salvar o mandato de Dilma.
As contas mais realistas hoje são as seguintes: a oposição teria 320 votos pelo impeachment; e o governo teria 180 votos para barrar o golpe. Mas, provavelmente, haverá menos do que 180 deputados dispostos a ir ao plenário dia 17, para dizer “Não” à avalanche midiática pelo golpe. Ou seja, o “Não” se dividiria em 140 votos em plenário e mais 40/50 abstenções e ausências.
Temer tenta transformar essas ausências em votos pelo impeachment. Essa é a batalha.
Hoje a conta é essa: 320 sim x 140 não. E cerca de 40/50 abstenções/ausências.
O resto é terror midiático.
O lado de cá, que batalha contra o golpe, não deve se abater com as notícias de “deserções”, “desembarques”, “estouro da boiada”.
A mídia tentou criar esse clima quando o PMDB rompeu com o governo. E isso não se confirmou.
A batalha será dura. E hoje a oposição não tem votos pra vencer. Se tivesse, Temer não arriscaria tanto – a ponto de passar para a história como um conspirador assumido.
A sofreguidão do poder levou Temer ao extremo. É o que escrevi hoje no twitter: a ânsia pelo poder une Aécio e Temer. A diferença entre eles é que um aspira e o outro conspira.
Tudo indica que perderão. Abraçados.
E o país seguirá dividido. Mas com a esquerda crescendo nas ruas.
Esse é o cenário que vejo hoje. Sem triunfalismo, sem torcida.
A mim parece evidente que o vazamento do áudio de Temer não foi acidental (clique aqui para saber mais). Aliás, isso pouca importa. O que interessa é saber se a manobra vai ajudar o peemedebista a dar o golpe, ou se vai atrapalhar.
Lembremos que a “carta chorosa” de Temer há alguns meses também foi vazada “por acaso”. Na verdade, era estratégia de comunicação, que depois se revelou desastrada.
O áudio agora vazado terá o mesmo destino? Transformar-se-á em mais um episódio patético a mostrar a pequenez de Temer? Essa é a narrativa em disputa nesse momento.
Aparentemente, pega muito mal junto à opinião pública o fato de Temer falar como “presidente” antes da votação final no dia 17. Ele fica com o carimbo, na testa, de golpista e conspirador. Sentou na cadeira antes da hora. Traiu, mostrou-se patético e pequeno.
Mas me parece que Temer resolveu correr o risco.
Com 1% nas intenções de voto (segundo o Datafolha), Temer não faz nesse momento uma disputa por popularidade. O objetivo dele é simplesmente conquistar votos indecisos, dentro o Colégio Eleitoral que – de forma indireta – pode dar o poder ao peemedebista, num golpe parlamentar comandado por Cunha e tolerado pelo STF.
Ninguém grava “por acaso” um discurso de 15 minutos. Temer planejou o vazamento, para convencer indecisos, ocupando espaço no JN nesta segunda-feira (11 de abril). Hoje, o noticiário estaria dominado pelos atos de rua contra o impeachment: Lula e os artistas no Rio, contra o golpe, estariam na tela.
Temer ofereceu a Ali Kamel 15 minutos, para dividir espaço com Lula.
Isso será suficiente para garantir os votos que hoje a oposição não tem? Difícil saber.
Na Comissão, o impeachment foi aprovado por 38 votos a 27, num total de 65 parlamentares. Isso significa 58% dos votos pela derrubada de Dilma. Agora, tudo segue para o plenário, onde serão necessários 67% (dois terços) dos votos para dar o golpe. Ou seja, mantida a proporção da comissão, o golpe será rejeitado.
A votação final, dia 17, deve ser decidida no olho mecânico. As cúpulas partidárias (PSB, Rede e vários diretórios regionais do PP, sem falar no líder da bancada do PR) migraram nas últimas horas para uma defesa explícita do impeachment. Mas, na ponta do lápis, a conta não está fechada.
O governo conta com uma base firme de 110 deputados, à qual hoje pode agregar, na pior das hipóteses: 20 votos do PP (de um total de quase 50), 15 do PR, 15 do PSD e 10 do PMDB = 60 votos. Contará ainda com votos esparsos no PTB e nos partidos chamados de nanicos (totalizando mais 10 votos, talvez).
A máquina midiática, de um lado, tentará criar um clima de “já ganhou”a favor do impeachment. De outro, Lula nas ruas e nas articulações de bastidor tenta assegurar 60 ou 70 votos na centro-direita (especialmente nas bancadas do Norte/Nordeste), que seriam suficientes para barrar o golpe.
O áudio de Temer inscreve-se nessa estratégia. Tenta apontar a “expectativa de futuro” em torno de um “novo governo” – numa tentativa final de esvaziar essas bancada de 60 votos conservadores que Lula articulou, e que podem salvar o mandato de Dilma.
As contas mais realistas hoje são as seguintes: a oposição teria 320 votos pelo impeachment; e o governo teria 180 votos para barrar o golpe. Mas, provavelmente, haverá menos do que 180 deputados dispostos a ir ao plenário dia 17, para dizer “Não” à avalanche midiática pelo golpe. Ou seja, o “Não” se dividiria em 140 votos em plenário e mais 40/50 abstenções e ausências.
Temer tenta transformar essas ausências em votos pelo impeachment. Essa é a batalha.
Hoje a conta é essa: 320 sim x 140 não. E cerca de 40/50 abstenções/ausências.
O resto é terror midiático.
O lado de cá, que batalha contra o golpe, não deve se abater com as notícias de “deserções”, “desembarques”, “estouro da boiada”.
A mídia tentou criar esse clima quando o PMDB rompeu com o governo. E isso não se confirmou.
A batalha será dura. E hoje a oposição não tem votos pra vencer. Se tivesse, Temer não arriscaria tanto – a ponto de passar para a história como um conspirador assumido.
A sofreguidão do poder levou Temer ao extremo. É o que escrevi hoje no twitter: a ânsia pelo poder une Aécio e Temer. A diferença entre eles é que um aspira e o outro conspira.
Tudo indica que perderão. Abraçados.
E o país seguirá dividido. Mas com a esquerda crescendo nas ruas.
Esse é o cenário que vejo hoje. Sem triunfalismo, sem torcida.
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