No curto período em que ajudei na implantação do Datafolha, logo após ter pedido demissão da Secretaria de Redação da Folha, calhou a votação das eleições presidenciais indiretas.
Montei uma pesquisa diferente para analisar os votos.
O pesquisador deveria ser um repórter experiente, com bom conhecimento sobre os parlamentares. Ele iria a cada um e perguntaria seu voto sobre as diretas:
( ) Tancredo
( ) Maluf
Na própria cédula faria sua avaliação sobre o parlamentar:
( ) confiável
( ) não confiável.
Em cima desses dados, levantados pela repórter Letícia Borges, fizemos várias tabulações:
1. Votação simples, sem avaliação
2. Todos os eleitores não confiáveis de Tancredo votando em Maluf; todos não confiáveis de Maluf mantendo o voto.
3. Todos os eleitores não confiáveis de Tancredo mantendo o voto e os não-confiáveis de Maluf votando em Tancredo.
Nas três simulações, dava Tancredo.
O jornal embatucou um pouco, acabou colocando o estudo como segunda manchete e o risco da aposta foi meu, assinando a matéria.
No decorrer do dia , no entanto, o próprio QG de Maluf, chefiado por Calim Eid, de certa forma acabou confirmando os dados.
Tem-se agora, um quadro similar, no qual há um elemento central que não dá para contabilizar antecipadamente: o efeito manada.
1. O voto envergonhado.
O voto a favor do governo é fundamentalmente ideológico. O deputado que vota contenta sua base. Mas existem inúmeros votos envergonhados, de deputados que querem votar com o governo (por simpatia ou interesse) e não podem se expor para seus eleitores.
2. O voto de manada.
Grande parte dos indecisos seguirá a manada: quer ficar a favor do voto vencedor. Se a apuração começa pelo sul, o efeito manada favorecerá o impeachment, na medida em que aponte mais votos a favor. Se começar do norte, nordeste, o anti-impeachment.
3. Os indecisos.
O indeciso é o deputado que pesa a relação custo-benefício entre o desgaste com o eleitorado e as benesses de ser governo. É o mais suscetível de ser cooptado pelo governo.
4. O fator abstenção
Para o governo derrubar o impeachment, basta tirar 171 votos, que pode ser em votos contra ou em abstenção. A abstenção é uma das maneiras do voto envergonhado. Para dar uma ideia do impacto abstenção, uma das consultorias estima que com 5% de abstenção, a probabilidade do impeachment ser aprovado cai para 2%. Com 1% de abstenção, a probabilidade seria de 73%. Dê-se o devido desconto aos chutes estatísticos: é mais para impressionar os clientes, que são do mercado financeiro.
De forma detalhada mostra que, de 39 votos indecisos, o impeachment precisaria conquistar 26 para conseguir quórum. Ainda não passa, e o Cunha sabe disso - diz o consultor. Exatamente porque sabe, quer controlar o processo de votação, começando pelo sul.
O detalhamento dos votos confirma algumas avaliações do governo:
1. O PSD de Kassab e Afif não agrega votos.
Dos 36 deputados, apenas 5 são contrários ao impeachment.
2. O PSOL está fechado contra o impeachment.
3. O PDT tem 6 deputados considerados indecisos, mas com propensão de votar a favor do governo.
4. Dos chamados médios partidos, que poderiam recompor a base de apoio, PP, PR e PTB votam majoritariamente a favor do impeachment.
1. A Lava Jato abriu uma operação contra o ex-senador Gim Argello.
2. A PGR solicitou ao STF abertura de investigação contra Renan Calheiros, no âmbito da Operação Zelotes, mas tendo como ponto de apoio o mesmo Gim Argello.
Abre-se uma pinça, portanto, para espremer Renan quando o processo de impeachment chegar ao Senado.
Montei uma pesquisa diferente para analisar os votos.
O pesquisador deveria ser um repórter experiente, com bom conhecimento sobre os parlamentares. Ele iria a cada um e perguntaria seu voto sobre as diretas:
( ) Tancredo
( ) Maluf
Na própria cédula faria sua avaliação sobre o parlamentar:
( ) confiável
( ) não confiável.
Em cima desses dados, levantados pela repórter Letícia Borges, fizemos várias tabulações:
1. Votação simples, sem avaliação
2. Todos os eleitores não confiáveis de Tancredo votando em Maluf; todos não confiáveis de Maluf mantendo o voto.
3. Todos os eleitores não confiáveis de Tancredo mantendo o voto e os não-confiáveis de Maluf votando em Tancredo.
Nas três simulações, dava Tancredo.
O jornal embatucou um pouco, acabou colocando o estudo como segunda manchete e o risco da aposta foi meu, assinando a matéria.
No decorrer do dia , no entanto, o próprio QG de Maluf, chefiado por Calim Eid, de certa forma acabou confirmando os dados.
Tem-se agora, um quadro similar, no qual há um elemento central que não dá para contabilizar antecipadamente: o efeito manada.
A influência do processo de votação
A dificuldade das projeções se prende aos seguintes fatores:1. O voto envergonhado.
O voto a favor do governo é fundamentalmente ideológico. O deputado que vota contenta sua base. Mas existem inúmeros votos envergonhados, de deputados que querem votar com o governo (por simpatia ou interesse) e não podem se expor para seus eleitores.
2. O voto de manada.
Grande parte dos indecisos seguirá a manada: quer ficar a favor do voto vencedor. Se a apuração começa pelo sul, o efeito manada favorecerá o impeachment, na medida em que aponte mais votos a favor. Se começar do norte, nordeste, o anti-impeachment.
3. Os indecisos.
O indeciso é o deputado que pesa a relação custo-benefício entre o desgaste com o eleitorado e as benesses de ser governo. É o mais suscetível de ser cooptado pelo governo.
4. O fator abstenção
Para o governo derrubar o impeachment, basta tirar 171 votos, que pode ser em votos contra ou em abstenção. A abstenção é uma das maneiras do voto envergonhado. Para dar uma ideia do impacto abstenção, uma das consultorias estima que com 5% de abstenção, a probabilidade do impeachment ser aprovado cai para 2%. Com 1% de abstenção, a probabilidade seria de 73%. Dê-se o devido desconto aos chutes estatísticos: é mais para impressionar os clientes, que são do mercado financeiro.
As análises das consultorias
Uma das principais consultorias apresentava os seguintes dados:De forma detalhada mostra que, de 39 votos indecisos, o impeachment precisaria conquistar 26 para conseguir quórum. Ainda não passa, e o Cunha sabe disso - diz o consultor. Exatamente porque sabe, quer controlar o processo de votação, começando pelo sul.
O detalhamento dos votos confirma algumas avaliações do governo:
1. O PSD de Kassab e Afif não agrega votos.
Dos 36 deputados, apenas 5 são contrários ao impeachment.
2. O PSOL está fechado contra o impeachment.
3. O PDT tem 6 deputados considerados indecisos, mas com propensão de votar a favor do governo.
4. Dos chamados médios partidos, que poderiam recompor a base de apoio, PP, PR e PTB votam majoritariamente a favor do impeachment.
O fator PGR/Lava Jato
A agenda jurídica do Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot e da Lava Jato continua em plena sintonia com a agenda política do impeachment:1. A Lava Jato abriu uma operação contra o ex-senador Gim Argello.
2. A PGR solicitou ao STF abertura de investigação contra Renan Calheiros, no âmbito da Operação Zelotes, mas tendo como ponto de apoio o mesmo Gim Argello.
Abre-se uma pinça, portanto, para espremer Renan quando o processo de impeachment chegar ao Senado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário