quarta-feira, 30 de março de 2022

"Mudar para manter igual"

 

 
Brasil de Fato
 
“Mudar para manter igual”
 
Quarta-feira, 30 de março de 2022
 
 
Sai um general, entra um economista na Presidência da Petrobras. O que isso significa?
Primeiro, vamos aos personagens. Durante os últimos 11 meses, o presidente da estatal foi o general da reserva Joaquim Silva e Luna, que ocupou o posto entre outros motivos para aproximar a Petrobras do núcleo do governo Bolsonaro, que é ligado às Forças Armadas.
Agora quem assume é um economista pró-mercado que presta consultoria para empresas e acredita que elas devem ter mais participação na economia nacional. Ah, e que já defendeu publicamente em entrevistas a privatização da Petrobras.
Adriano Pires é um defensor da política de paridade de preços adotada em 2016, depois do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A PPI é a tão falada paridade com o dólar, que fez com que os preços dos combustíveis ficassem mais suscetíveis a variações no câmbio e a crises externas, como a guerra entre Rússia e Ucrânia. Aqui a gente explica melhor como isso acontece:
 
 
Bom, com o aumento no preço dos combustíveis que acompanhou a adoção da PPI, veio a insatisfação da população, que viu o preço de tudo aumentar (afinal, o transporte de mantimentos no Brasil é feito principalmente por caminhões). Enquanto isso, a Petrobras bateu recorde de lucro, o que agrada aos acionistas.
Adriano Pires não deve mexer nessa lógica, e é por isso que ele "chega para mudar e não alterar nada", como disse um dos entrevistados para a reportagem que você pode ler aqui. Na verdade, os entrevistados das nossas matérias disseram que ele está sendo colocado nesse posto para intermediar os interesses do mercado e as pretensões eleitorais de Jair Bolsonaro. Com a chegada de Pires, o presidente estaria ao mesmo tempo sinalizando para a sua base que não gosta do preço alto do combustível e mantendo o compromisso com a política que faz o preço subir. 
Assim os acionistas também agiriam pela reeleição de Bolsonaro, já que o ex-presidente Lula já disse que, se eleito, vai “abrasileirar” o preço dos combustíveis, o que poderia ser um risco ao lucro dos investidores.
E é por tudo isso que a Bolsa de São Paulo subiu, como você pode ler aqui. Esse aumento no valor das ações da Petrobras indica que os investidores acreditam que o próximo presidente vai seguir com o plano que prioriza o lucro da empresa e beneficia os acionistas. Ou seja, deve manter a política de preços que segue o dólar. 
Ah, e colaborou bastante também para o ânimo dos investidores a notícia de que Bolsonaro teria prometido a Adriano Pires agir pela privatização da Petrobras caso seja reeleito, que é algo que a entidade "mercado" adora. 
No que depender de Bolsonaro e Adriano Pires, ao que tudo indica, a próxima luta da população vai ter que ser uma reedição de uma lá dos anos 1950. O petróleo vai continuar sendo nosso?
 

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