Contra o Golpe e atuais genocídios, Caminhada do Silêncio faz ato neste 31 de Março
"A partir do pacto do governo brasileiro com esses agentes da ditadura, violência seguiu sendo perpetrada", conta Eugênia Gonzaga
Contra o Golpe de 64, pela memória dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura e do genocídio de Estado atual, incluindo os mortos de Covid-19, pela revisão da Lei da Anistia e pela democracia, o Movimento Vozes do Silêncio realiza a II Caminhada do Silêncio, neste 31 de março, em São Paulo.
O ato, realizado no parque Ibirapuera, a partir das 17h, este ano terá como bandeira não somente a memória pelos crimes cometidos durante a ditadura do regime militar brasileiro (1964-1985), como também as vítimas da violência de Estado.
“A Caminhada do Silêncio pretende reiterar as pautas anteriores, #DitaduraNuncaMais, a do ano passado, #ReinterpretaJáSTF, pela democracia, só que neste ano a nossa intenção é nomear as vítimas dos vários grupos de pessoas mais vulneráveis e constantemente atacadas pelo Estado brasileiro, inclusive as mais recentes, que são as vítimas de Covid-19″, afirmou a procuradora Eugênia Gonzaga.
São vítimas do atual genocídio do Estado os mortos da pandemia pela má gestão sanitária no Brasil, a população indígena, LGBTQIA+, a juventude negra, além da política de higienização e violência contra a população em situação de rua.
A procuradora regional já atuou na Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e presidiu a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos até 2019, quando foi demitida por Jair Bolsonaro, e foi uma das idealizadoras da Caminhada.
Ela conta que quando a primeira Caminhada do Silêncio foi realizada em 2019, início de governo Bolsonaro, a proposta ganhou ainda mais força. “O fato de estarmos vivendo naquela situação do governo Bolsonaro, o ataque às instituições, à democracia, com certeza, fortaleceu a ideia de se fazer a Caminhada.”
No ano passado, a data foi considerada uma “comemoração” pelo atual governo. Com as incisivas posturas, Eugênia indica a importância ainda maior do ato nesta quinta.
“Esse é o contexto de se fazer em 31 de março, porque a gente vê essa data do início da ditadura militar no Brasil como representativo das maiores violências já perpetradas nesse país e que, a partir da impunidade, do pacto do governo brasileiro com esses agentes da ditadura, esse tipo de violência seguiu sendo perpetrada.”
Em 2021, a Ordem do Dia, texto oficial assinado pelo Ministério da Defesa, praticava uma tentativa de revisionismo histórico, chamando o 31 de Março de “movimento” que interrompeu a suposta “escalada conflitiva” do país e que as “Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País”, ignorando todos os crimes, mortes e torturas praticados pelos militares durante a ditadura.
“Não há o que se comemorar no 31 de março. Tem que ser lembrado para que não se esqueça, para que não se repita”, afirmou a procuradora. “E a certeza de impunidade inspira, dá ânimo aos agentes para continuarem praticando.”
“É uma lógica que a gente precisa inverter nesse país. E o que podemos fazer são atos desse tipo, aprimorar a educação em direitos humanos na escola, e obviamente a gente conta muito com a mídia para tudo isso”, completou.
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