A Copa e o discurso do ódio
Por Luciano Martins
Costa, no Observatório
da Imprensa:
Um grupo de torcedores invadiu a área da imprensa no Maracanã, durante a partida do Chile contra a Espanha, na quarta-feira (18/6), e os jornais vasculham a possibilidade de uma crise entre o governo federal e a Fifa. A segurança do local era atribuição da entidade que organiza a Copa do Mundo.
As reportagens relatam que duas centenas de chilenos planejaram a invasão e se concentraram num ponto próximo à entrada destinada aos jornalistas credenciados, onde havia apenas um homem vigiando. Portanto, a responsabilidade pelo incidente é da Fifa. Ainda assim, alguns relatos tratam de confundir o leitor.
Na manchete do Estado de S.Paulo está clara essa intenção: “Invasão do Maracanã abre crise entre governo e Fifa”, diz o texto. Na Folha de S.Paulo, a manchete afirma: “Segurança volta a falhar, e 150 invadem o Maracanã”. O texto abaixo explica que o incidente “levou o governo do Rio e o Comitê Organizador Local a trocarem acusações sobre a presença da polícia nos acessos do estádio”. O Globo observa que a empresa privada contratada para fazer a segurança do local não tem experiência com grandes eventos.
Pode parecer má vontade do observador, mas não há como escapar à convicção de que a manchete do Estado procura vincular de alguma forma o incidente negativo ao governo federal. No entanto, a única reação do Ministério da Justiça, que negociou com a Fifa o planejamento da segurança durante a Copa, foi exigir providências para melhorar o serviço e avisar que pode intervir caso a entidade não se mostre capaz de assegurar a tranquilidade dos espectadores.
Não há, no noticiário, elementos para o jornalista concluir que ocorre uma crise: o governo federal cumpre seu papel de exigir mais garantias da Fifa e o governo do Rio de Janeiro se defende dizendo que a entidade não havia solicitado vigilantes para o local onde ocorreu a invasão – as barreiras foram montadas pela Secretaria de Segurança do Rio para prevenir a passagem de pessoas sem ingressos.
Embora os detalhes possam parecer insignificantes, trata-se de um exemplo claro de como uma escolha editorial pode produzir desinformação num contexto já conflagrado pelo radicalismo.
Manipulando os fatos
Um grupo de torcedores invadiu a área da imprensa no Maracanã, durante a partida do Chile contra a Espanha, na quarta-feira (18/6), e os jornais vasculham a possibilidade de uma crise entre o governo federal e a Fifa. A segurança do local era atribuição da entidade que organiza a Copa do Mundo.
As reportagens relatam que duas centenas de chilenos planejaram a invasão e se concentraram num ponto próximo à entrada destinada aos jornalistas credenciados, onde havia apenas um homem vigiando. Portanto, a responsabilidade pelo incidente é da Fifa. Ainda assim, alguns relatos tratam de confundir o leitor.
Na manchete do Estado de S.Paulo está clara essa intenção: “Invasão do Maracanã abre crise entre governo e Fifa”, diz o texto. Na Folha de S.Paulo, a manchete afirma: “Segurança volta a falhar, e 150 invadem o Maracanã”. O texto abaixo explica que o incidente “levou o governo do Rio e o Comitê Organizador Local a trocarem acusações sobre a presença da polícia nos acessos do estádio”. O Globo observa que a empresa privada contratada para fazer a segurança do local não tem experiência com grandes eventos.
Pode parecer má vontade do observador, mas não há como escapar à convicção de que a manchete do Estado procura vincular de alguma forma o incidente negativo ao governo federal. No entanto, a única reação do Ministério da Justiça, que negociou com a Fifa o planejamento da segurança durante a Copa, foi exigir providências para melhorar o serviço e avisar que pode intervir caso a entidade não se mostre capaz de assegurar a tranquilidade dos espectadores.
Não há, no noticiário, elementos para o jornalista concluir que ocorre uma crise: o governo federal cumpre seu papel de exigir mais garantias da Fifa e o governo do Rio de Janeiro se defende dizendo que a entidade não havia solicitado vigilantes para o local onde ocorreu a invasão – as barreiras foram montadas pela Secretaria de Segurança do Rio para prevenir a passagem de pessoas sem ingressos.
Embora os detalhes possam parecer insignificantes, trata-se de um exemplo claro de como uma escolha editorial pode produzir desinformação num contexto já conflagrado pelo radicalismo.
Manipulando os fatos
O acontecimento e sua interpretação pelos jornais entram diretamente na discussão sobre o discurso do ódio que invade a questão política. No campo partidário, as duas principais correntes que disputam o poder no Brasil há duas décadas se acusam mutuamente de incentivar um clima de radicalismo que beira a conflagração.
Pode-se alinhar argumentos de um lado e de outro, e nunca se chegará a uma conclusão sobre quem fez o debate político descambar para a agressão verbal e as demonstrações de incivilidade, como se viu na festa de abertura da Copa, em São Paulo. Mas, mesmo que não se possa identificar a origem desse desvirtuamento do debate ideológico, pode-se afirmar que a imprensa hegemônica tem uma enorme responsabilidade na disseminação de um estado de espírito belicoso que extrapola o campo da política e invade as relações sociais.
Desde que jornais e revistas entregaram a crônica da política para colunistas sem continência verbal e desprovidos da mais básica qualificação para o exercício de um jornalismo ético, vem sendo produzido esse linguajar chulo que passou a dominar o campo midiático. O discurso do ódio começou aí e contamina tudo, inclusive a Copa do Mundo.
Qualquer cidadão que tenta intervir no bate-boca partidário é imediatamente enquadrado em uma das duas categorias em que se resume a amplitude de alternativas da democracia: ou é um “petralha” ou membro da “tucanalha”. Curiosamente, dois dos partidos que representam, em seus programas, o que há de mais progressista no campo ideológico, acabaram reféns do que há de mais reacionário na prática da política.
A imprensa hegemônica, que atua sobre os partidos como o Tea Party nos Estados Unidos, impondo uma agenda conservadora, manipula os dois lados. Também é interessante observar que o clima de ódio cria um contexto conveniente para a atuação da mídia, que passa a contar com declarações e atitudes cada vez mais radicais para compor suas manchetes.
Quem ganha? Ganha uma das duas partes em disputa, aquela favorecida pela imprensa dominante, que está no papel de atirar pedras.
Quem perde? Quem perde é a sociedade brasileira, ao ver a irracionalidade ocupar o lugar da inteligência.
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