Oposição se volta para estratégia de desgastar governo, avalia ex-marido de Dilma
Jornal GGN - O ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, 77, defendeu as manifestações de 15 de março, mas pontuou, em entrevista ao Jornal Folha de S.Paulo, que são as condições econômicas que estão levando as pessoas às ruas. "Quem ascendeu socialmente tem medo de perder as conquistas". Ao mesmo tempo reconheceu como natural o aumento dos ânimos da população contra a corrupção, dado o "temor de perder as conquistas que tiveram".
Araújo frisou que a corrupção é um problema endêmico no regime capitalista e criticou a cobertura da mídia nos casos de desvio de dinheiro público no Brasil. "Ninguém fala da corrupção de São Paulo. Dão uns toquezinhos". Ele avaliou, ainda, que a oposição já largou o objetivo de levar o governo Dilma ao impeachment, trocando pela estratégia de desgastar o governo petista. O ex-militante de esquerda também destacou a necessidade do governo ter cuidado em relação a aliança com o PMDB. "Acho quase um milagre que essas alianças consigam se manter. E elas [as alianças] são fundamentais para governar, sem isso não se governa".
PAULA SPERB
DE PORTO ALEGRE
A crise econômica, mais do que a corrupção, está inflando as manifestações contra o governo Dilma (PT) e os protestos, "não se pode negar", são justos e reais.
A avaliação é do ex-militante de esquerda Carlos Araújo, 77, que foi casado com a presidente Dilma Rousseff por 22 anos.
Apesar da crise, ele acha que a proposta do impeachment enfraqueceu. "Eles [os adversários] sabem que não levam a nada, quem vai assumir, o Temer?", ironiza.
Dizendo-se apoiador irrestrito da presidente, Araújo, ex-deputado estadual pelo PDT, recebeu a Folha em sua casa, à beira do rio Guaíba, em Porto Alegre e falou sobre os protestos de março, a crise econômica e a ex-mulher. "Ela está bem tranquila. O regime fez bem pra ela", diz.
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Folha - Por que as pessoas protestaram no dia 15?
Carlos Araújo - São duas coisas: uma inclinação justa contra a corrupção toda e o temor de perder as conquistas que tiveram. Quem ascendeu socialmente tem medo de perder as conquistas. Esses são os dois fatores principais que mobilizam a população. E são justos. Não se pode negar, são reais, são verdadeiros. O segundo quando vai melhorar? Só quando o Brasil recuperar o desenvolvimento. Até agora não teve problema de desemprego, mas pode ser que daqui a pouco venha...
A corrupção, como diz a Dilma, é uma velha senhora. Sempre houve. Ninguém fala da corrupção de São Paulo. Dão uns toquezinhos...
Na realidade, a corrupção é endêmica no regime capitalista. Qual o país mais corrupto do mundo? Os Estados Unidos!
Mas essa questão consegue ficar adormecida quando há desenvolvimento. As pessoas estão mais satisfeitas e tal. Mas se vem a crise....
Por que o país está enfrentando essa crise econômica?
Vivemos em uma tempestade própria do capitalismo, que tem crises cíclicas. Estamos vivendo uma crise. Tem que fazer políticas impactantes para superar a crise, é o que tem sido feito...
O Brasil vai sentir os efeitos disso o ano que vem. Já sabemos que vai ser difícil, as pessoas vão ficar apreensivas, vão protestar, mas faz parte do processo.
E o impeachment?
Eu vejo agora o Fernando Henrique, que sempre expressa um discurso conservador, falando "por que um impeachment contra a Dilma? O que acontece depois, vão botar o Temer? Favorecer o Lula? Então vamos desgastar até o fim, nossa política tem que ser essa, desgastá-la, tentar liquidá-la". Eles, na verdade, gostariam que houvesse um golpe. Mas não têm elementos para isso.
Mas e a campanha pelo impeachment?
O movimento está se esvaindo. Antes a Globo defendia, a Folha defendia. O Aécio Neves era o maior defensor. Daqui a pouco começaram a recuar. Eles estão seguindo o que o FHC falou. Eles sabem que não levam a nada, quem vai assumir, o Temer? O impeachment, eles acham, que só levaria a alguma coisa, se assumisse o candidato derrotado. Mas não é, quem assume é o vice. Não tem sentido.
Como vê a aliança com o PMDB?
A crise, em uma aliança frágil, tende a dissolver. Tem que ter muito cuidado ou ela dissolve. Há setores do PMDB que nunca apoiaram o governo. O PMDB na verdade é uma federação de líderes. Cada Estado tem um cacique do PMDB que manda. Esses caciques têm pensamentos muitas vezes bem divergentes. Mas o PMDB representa setores da sociedade, tanto que está aí há anos e anos.
Como vê a relação de Dilma com o Congresso?
Acho que a Dilma tem acertado em estreitar relações com o Congresso, dialogar melhor com os partidos. É tudo difícil, é tudo muito....nada é muito sólido. Nem o PT é muito sólido. Nem o PMDB. São partidos com dificuldades internas, então essas alianças são complexas. Acho quase um milagre que essas alianças consigam se manter. E elas são fundamentais para governar, sem isso não se governa. Tem que governar, tem que ceder. Tem que ter uma aliança e tem que saber os limites dela.
Mas é normal, não dá para achar que, numa aliança, as coisas vão andar certinhas.
Tem conversado sobre esses temas com a Dilma?
Só falo com ela quando ela vem a Porto Alegre. A última vez faz um mês. A gente não fala sobre essas coisas, a gente fala sobre a família, sobre o neto. A gente fala mais de coisas domésticas. Temos uma filha única, a vida fez com que a gente sempre fosse muito amigo. Somos muito unha e carne.
Esse momento é muito pesado para a Dilma?
Acho que é pesado emocionalmente, claro que é. O Lula normalmente fala as coisas corretas. Uma coisa que ele falou mais de uma vez é que a Dilma é uma pessoa extremamente corajosa. É muito difícil ela se abater. A vida preparou ela. Uns conseguem se preparar, outros não. Mas ela consegue manter uma tranquilidade. A coragem e a tranquilidade, quando elas estão juntas, evitam de a gente fazer muita besteira. Ás vezes por ser tão determinada e tão corajosa ela até peca um pouco. Parece que é um autoritarismo. Mas agora ela está bem lúcida [risos].
Por quê?
Ela vive dentro do Palácio. Dia e noite é rolo, rolo, rolo. A pessoa vai endurecendo. Então daqui a pouco tem que dar uma pensada, fazer uma reflexão "não dá para endurecer tanto assim".
É sobre isso que falam?
O máximo que sou é um apoio irrestrito e se der para ser um apoio afetivo, familiar, eu sou. Fica nesses limites aí. Estou aqui, ela lá. Se precisamos conversamos, trocamos uma ideia. Mas é no sentido de companheirismo, de "estamos juntos nessa batalha".
Como está a Dilma agora?
Acho que ela está bem tranquila. O regime fez bem para ela, ela emagreceu. Fez bem porque, em primeiro lugar, a pessoa tem que estar se gostando fisicamente.
A Dilma tinha engordado muito durante a campanha eleitoral, com suas angústias, essas coisas que ocorrem a qualquer ser humano. Possivelmente resolveu, então voltar ao seu peso normal. Isso ajuda muito, a pessoa se sente bem, se sente disposta, se sente mais agradável, mais bonita. Isso tudo colabora, nós seres humanos somos de uma complexidade, né?
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