terça-feira, 24 de março de 2015

POLÍTICA - Quem está mobilizado contra o governo.

Dados sobre o dia 15 revelam quem está mobilizado contra o governo


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A crise econômica alimenta a crise política que é potencializada pelos ataques diários e em bloco da mídia hegemônica, contaminando parcelas consideráveis da população. Acaba de ser divulgada uma nova pesquisa (CNT/CMA) onde o índice de aprovação da presidenta Dilma aparece com 10,8%. Muito baixo, mas ainda acima do pior momento de FHC, que chegou a registrar apenas 8% de aprovação em setembro de 1999.


As pesquisas de opinião refletem o momento político de ofensiva da direita. É preciso levá-las em consideração mas não são imutáveis e nem devem ser encaradas como imunes à interferências de quem está promovendo a ofensiva. É só recordar que durante as passeatas de junho de 2013 o índice de aprovação da presidenta também despencou, tendo se recuperado e terminado o mandato com aprovação pessoal elevada e sendo reeleita. Reconhecer a existência e a profundidade da crise não significa, no entanto, capitular diante das manobras midiáticas, que tentam instrumentalizar a insatisfação a favor dos seus objetivos políticos. Por exemplo, quem está mobilizado contra o governo e quer o seu impeachment? Se formos nos render à versão da mídia hegemônica aceitaremos que a passeata do dia 15 de março seja vista como a expressão pronta e acabada da “vontade do povo”. Nada mais falso. Cruzando os dados da pesquisa Datafolha feita na manifestação do dia 15 com os dados gerais da população brasileira podemos nos aproximar de uma visão real dos interesses expressos na manifestação que mostram quem de fato esta mobilizado contra o governo.

Dia 15: uma passeata branca, de classe média e masculina

Segundo o Datafolha, 41% dos manifestantes do dia 15 ganham mais do que 10 salários mínimos e 19% ganham mais do que 20 salários mínimos. Na população em geral estes índices são de 5% e 1% respectivamente (a). Na manifestação do dia 15, pardos e pretos eram 25% e brancos, 69%. Pardos e pretos são 50,7% da população e brancos, 48% (b). 37% dos manifestantes têm o PSDB como partido preferido, entre a população este índice cai para 5% (c). 58% dos manifestantes tinham 36 anos ou mais, índice que é de 40,8% entre a população como um todo (b). Jovens de até 25 anos representaram 14% da passeata. Na população são 42,1%, sendo que 17,9% têm de 15 a 24 anos (b). Os homens formaram 63% da passeata. Na população são 49% (b). Se os destinos da nação dependessem da vontade dos manifestantes do dia 15, Aécio seria o presidente da república com nada menos do que 82% dos votos. Como felizmente pobre, pardo, preto, mulheres e jovens votam, ele conseguiu 48,36% nas eleições de verdade e perdeu. A crise é real, mas quem está mobilizado para instrumentalizá-la politicamente não é o povo em geral, e sim uma parcela que historicamente sempre foi mais próxima ao conservadorismo e à reação. Muita água, portanto, ainda vai rolar neste rio.

a – Pesquisa nacional Datafolha sobre a renda dos brasileiros, feita em 2013.
b – Censo 2010 do IBGE.
c – Pesquisa nacional IBOPE sobre preferência partidária, em 2013.

Direita x Esquerda

A luta de classes é um fato, o problema está em quem escolhe um lado das classes em luta e não quer assumir sua posição. Gente deste tipo durante muito tempo espalhou, e continua espalhando com a ajuda da mídia hegemônica, a tese “moderna” do fim dos conceitos de “esquerda” e “direita”. Bobagem que a vida desmente a cada segundo. A Fundação Perseu Abramo fez também sua pesquisa nas passeatas do dia 13 e do dia 15. No dia 13, dos manifestantes entrevistados, 71% se declaram de esquerda. No dia 15 este índice cai para 10% e quem tem a preferência é a direita, com 42%, com 36% se declarando de centro. E a luta continua.

Financial Times, a Cassandra mentirosa

A Cassandra da mitologia grega profetizava coisas que de fato aconteceriam. Mas como Apolo a amaldiçoou, todos pensavam que ela era louca e ninguém acreditava em suas catastróficas previsões. Com o Financial Times é diferente. Muitos acreditam, mas o jornal raramente acerta alguma coisa e só se move pelos interesses da banca internacional, do qual é porta voz oficioso. Na edição online do jornal O Estado de S. Paulo, foi publicado um artigo do jornal inglês intitulado: “Crise no Brasil é culpa do próprio país e vai piorar”. Não é um título jornalístico, é um vaticínio, ou uma torcida. O jornal diz que o Brasil deveria seguir o exemplo de países com os mercados “voltados para o Pacífico”, e cita Colômbia, Peru e Chile, todos com taxas de desemprego maiores do que a do Brasil (5,3%). Colômbia tem 10,8%, Peru 6,4% e Chile, 6,2%. Mais importante: em 2014 o Brasil saiu do “Mapa da Fome” da ONU, com a entidade reconhecendo que o país foi um dos primeiros do mundo a atingir o principal objetivo de desenvolvimento do milênio e as metas da cúpula da alimentação, tendo diminuído o número de famintos de 14,8% para 1,7% da população. Colômbia e Peru permanecem no Mapa da Fome, mas desde que “voltados para o pacífico” e para os interesses dos imperialistas europeus e americanos, para o Financial Times está tudo certo.

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