Aécio assiste torcendo ao espetáculo de intolerância que pode desembocar em golpe
Do Facebook do publicitário Enio Mainardi, pai de Diogo Mainardi, sugerido por Maurício Machado
Do Facebook pessoal do prefeito de Cruz das Almas (PMDB), Bahia, sugerido pelo Charles Carmo
por Luiz Carlos Azenha
Aécio Neves está de volta à Folha de S. Paulo. Em sua primeira coluna, saúda o ativismo popular. “Um outro protagonista está assumindo, cada dia mais, um papel relevante: o sentimento do povo brasileiro, que começa a transbordar em casa, nas ruas, no trabalho”, escreve o tucano.
Nem parece que ele foi derrotado há apenas quatro meses pelo “transbordar” da maioria.
Os tucanos, como sempre, estão sobre o muro, à espera de que as manifestações previstas para o 15 de março derrubem Dilma — ou sejam um primeiro passo neste sentido. Entenderam que a participação institucional do PSDB nos protestos poderia levar a acusações de partidarismo. Apostam tudo no “povo” genérico, com o devido apoio da grande mídia — que não lhes faltará.
Se os jornalões fizeram o maior escarcéu com homens de vermelho que chutaram um manifestante no Rio, o que não farão com dezenas de milhares nas ruas?
Numa recente conversa com Ricardo Kotscho, meu colega de TV Record, os adjetivos “inépcia” e “autismo” foram utilizados para definir a atitude do governo Dilma diante do quadro político.
Como escrevi há alguns dias, ele é sombrio para o PT e Dilma, que perderam a batalha da comunicação. A direita, muito articulada nas redes sociais, milita ferozmente e avança mesmo sobre eleitores tradicionais do petismo.
O clima de ódio impressiona, basta ler os dois exemplos acima.
Kotscho, por um lado, reconhece a realidade:
Nunca antes na história da humanidade um governo se desmanchou tão rápido antes mesmo de ter começado. Para onde vamos, Dilma? Cada vez mais gente acha que já chegamos ao fundo do poço, mas tenho minhas dúvidas se este poço tem fundo. “O que já está ruim sempre pode piorar”, escrevi aqui mesmo no dia 5 de fevereiro, uma quinta-feira, às 10 horas da manhã, na abertura do texto “Governo Dilma-2 caminha para a autodestruição”.Por outro, é certeiro quando analisa o oportunismo dos tucanos:
“Pelo ranger da carruagem desgovernada, a oposição nem precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres para detonar o impeachment da presidente da República, que continua recolhida e calada em seus palácios, sem mostrar qualquer reação. O governo Dilma-2 está se acabando sozinho num inimaginável processo de autodestruição”.
O clima radicalizado e cada vez mais agressivo dos dois lados, na cidade e no país, às vezes me faz lembrar os dias tumultuados que antecederam o golpe de 1964, mas é evidente que tudo mudou no Brasil e no mundo, tornando imprevisíveis o tamanho e as repercussões da marcha dos derrotados inconformados. Está claro também que o ato mobilizará setores além do tucanato udenista e seus sabujos, dos mais variados partidos e tendências políticas, à esquerda e à direita, inclusive eleitores petistas que votaram em Dilma há apenas quatro meses, e se mostram descontentes com os rumos do governo no segundo mandato.Diante de um quadro econômico difícil, das denúncias envolvendo a Petrobras, da incapacidade do governo Dilma e do PT de reagirem e da pressão popular, é possível que caminhemos para um quadro em que a “solução” do sistema político como um todo, para se autopreservar, seja encaminhar um golpe branco contra Dilma no Congresso.
Basta dizer que hoje apenas um entre cada quatro brasileiros apoia o governo Dilma-2 (23% de ótimo e bom no último Datafolha), que também só tem o apoio garantido de um em cada quatro parlamentares na Câmara comandada pelo seu desafeto Eduardo Cunha. Aconteça o que acontecer, não se deve esperar coisa boa nos dias seguintes, pois o que realmente move os organizadores deste ato, por tudo que já foi divulgado nas redes sociais, é o ódio ao PT e aos nordestinos, e a vingança contra as vitórias de Lula e Dilma nas últimas eleições presidenciais. Só espero que a história não se repita, nem como farsa.
A mídia corporativa, ávida por retomar o poder que lhe permita garantir a sobrevivência, providenciará o clima necessário. Como em 1964.
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