Varandas Gourmet - A elite reacionária golpista
"O
panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção. Foi
contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta
gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o
trânsito e disputando vaga na universidade" - Juca Kfouri.
São
tão fartas, férteis, variadas e diversas as fontes de inspiração e
referência que não sei nem por onde começar esta necessária reflexão que
pretendo dividir com vocês. Mas uma coisa posso adiantar: estamos
vivenciando um novo impasse, de conteúdo bestialmente explosivo, que
decorre da mais trágica linha de pobreza - a do conhecimento pífio, do
sentimento mesquinho, da ausência de grandeza e do baixo nível dos
conflitos à tona, movidos por idiossincrasias amargas, vaidades
incontroláveis e ambições insaciáveis.
Felizmente,
mais cintilante do que os espirros da intolerância alcança-nos um
abrangente potencial informativo. Mais do que a idiotia manipulada há
mentes lúcidas e sensatas, há escritos que refletem oportunas percepções
e há um punhado de gente bem intencionada à cata da razão. Pode
até ser que a indústria da imbecilização venha crescendo nos ambientes
amofinados pela dúvida quanto a sua própria natureza. Pode até ser que
uma mídia endividada, em queda livre, e à beira de um ataque de nervos
venha conseguindo compartilhar seu fracasso crepuscular com hordas de
paranóicos infelizes, atormentados por imaginados arrastões da história,
temerosos de um amanhã longe da Disney e destituídos dos prazeres
vitais que lhes distancia do orgasmo, matriz de vida, e das paixões
românticas que tanto enlevam. Pode,
mas os feixes de luz da serena lucidez municiam os cérebros resistentes
à lobotomia virtual e abastecem o arsenal da razoabilidade. O processo
histórico é inexorável e titânico. O que tem de ser será, não há cabra
macho capaz de conspurcar o destino. Toda
essa celeuma eivada de imposturas e maquinações não se sustenta à luz
do dia. Não são a amargura tétrica de seres emasculados e nem a tramóia
dos interesses espúrios que vão prosperar em suas felonias
esquizofrênicas. Canastrões
de encenações grotescas não conseguem mais do que o ridículo de uma
caricatura monstruosa - vejam a farsa do panelaço midiático de barrigas
cheias nas varandas dos enforcados de alto luxo. Meia dúzia de 3 ou 4
gatos pingados não são o povo de indignações outras. São, sim,
ostensivamente, o espelho quebrado de uma decadência deprimente. Hoje
eu diria que não é o governo da angustiada Dilma Rousseff que está na
berlinda. E não é tampouco o arcabouço institucional. A grande tragédia
está no imbróglio que o velho Bresser Pereira, economista e empresário
da cepa social-democrática, expressa em seu novo livro: "O PACTO
NACIONAL-POPULAR ARTICULADO PELOS GOVERNOS DO PT DESMORONOU PELA FALTA
DE CRESCIMENTO. SURGIU UM FENÔMENO NOVO; O ÓDIO POLÍTICO, O ESPÍRITO
GOLPISTA DOS RICOS". É
custoso contestar o materialismo histórico de Karl Marx, mas o
psicanalista William Reich e filósofo Herbert Marcuse, obras ainda à
mão, nos oferecem a bússola: quando o homem perde a ternura e parte para
a ignorância, com epítetos como "vaca" em alusão à chefa do Estado
nacional, falta-lhe mais do que um Chateau Margaux à
mesa. É na cama que reside a causa de sua agressividade torpe, como é
também na relação desfigurada com filhos viciados na pior das drogas, o
consumismo exibicionista; e com seus vizinhos na competição de
mostruários. Disse-o
muito bem o sempre sensato Juca Kfouri: "Nos dois últimos anos da
Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos
trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita". Monta-se
um cenário tragicômico de embate para uma nova batalha de Itararé,
esquecendo que 64 já era - já não há barbudos cubanos como assombração,
nem carece de exorcistas na mudada santa madre igreja. Essas
elites sem pudor não teriam nem de que reclamar hoje em dia, por que a
Dilma e o PT estão longe da intrepidez ousada dos órfãos de Hugo
Chávez, ou do duelo frontal de Cristina Christner, ou mesmo da conduta
altiva do índio Evo Morales. Tanto que por um infortúnio histórico
deram um longo passo atrás, traindo, sim, quem votou no avanço almejado.
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