quinta-feira, 9 de maio de 2013

GEOPOLÍTICA - Os suspeitos habituais.


  • Os suspeitos habituais


    Bristol (EUA) - Eles não se emendam. Enquanto o governo Barack Obama faz o possível para por um fim definitivo aos envolvimentos militares no Afeganistão e no Iraque e tenta também uma solução que acabe com a ilegalidade das detenções ilimitadas em Guantánamo, os falcões da direita querem a todo custo enredar o país na Síria.
    À frente deles, o neo-con Paul Wolfowitz, o teórico da invasão do Iraque, sob a alegação de que Saddam Hussein estava de posse de armas de destruição em massa, inclusive atômicas. Como coadjuvane principal, o senador John McCain, ex-prisioneiro no Vietnã que parece querer vingar-se de sua trágica experiência pessoal em guerras intermináveis contra qualquer país e qualquer regime que ele considere “anti-americano”.
    Na verdade, é impossível dizer no conflito na Síria que lado se alinharia mais com os interesses dos Estados Unidos. Os falcões republicanos querem forçar a mão de Obama, lembrando-lhe a frase por ele dita há algum tempo de que o uso de armas químicas por parte do regime de Assad seria uma “linha vermelha” que os Estados Unidos não tolerariam.
    Foi uma frase imprudente que evidentemente levou os rebeldes sírios a alegarem que Assad (foto) efetivamente estava usando armas químicas. Três questões porém ficaram no ar, permitindo a Obama uma ao menos temporária retirada estratégica. Que provas existem de que as armas químicas foram usadas? Se foram usadas, quem tem certeza de quem realmente as usou? Por último, e talvez mais importante: quem são os rebeldes sírios?
    A terceira pergunta é de resposta impossível, pois a oposição síria não tem líderes incontestes nem ideologia definida, já para não dizer que no campo religioso ela tampouco mostra unidade. Como muitos outros países árabes anteriormente dominados por europeus, a Síria é uma grande mistura de etnias e facções espirituais muitas vezes inconciliáveis e prisioneiras de fronteiras arbitrariamente traçadas.
    A família Assad representa a facção alauíta, um ramo dos shias, representada também no Líbano e na Turquia. Na Síria propriamente dita há etnias e seitas que vão desde os drusos aos cristãos, curdos, armênios, turcos, os antigos assírios, com uma civilização que remonta a 10.000 anos A.C., e sunis. Estes últimos, inimigos mortais dos shias e dos alauítas, são, não obstante, a maioria da população.
    Diante de tal miscelânea, não é de surpreender que tanto Hafez al-Assad quanto seu filho Bashar tenham recorrido a uma mão de ferro para controlar o país. A família Assad cairá agora? É provável, mas não garantido.
    Mas e depois dela, quem virá? As forças de oposição se dividem entre o “Exército Livre da Síria”, a Frente Al-Nusra e o Coalisão Nacional Síria, que de coalisão pouco ou nada tem. A experiência da “primavera árabe” em outros países no Oriente Médio não primou até agora nem por uma clareza de rumos nem por uma boa governança.
    Ao fundo, paira o Irã, já para não falar da presença do Hezbollah no Líbiano e do permanente impasse entre a Palestina e Israel. O Paquistão e outros países também fervilham com insurreições muçulmanas.
    Com um mínimo de bom senso, Barack Obama pensará não apenas uma, mas duas, três, mil vezes antes de meter a mão nesta cumbuca.
    Fonte: Direto da Redação.

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