“Os militares cometeram a burrice de me prender”. A frase-síntese é de Lula.
“Os militares cometeram a burrice de me prender”. Assim o ex-presidente Lula confessou o seu sentimento e deu a definição perfeita que pode ser dada a atitude do regime militar ao prendê-lo durante mais de um mês no 1º semestre de 1980 por liderar a grande greve dos trabalhadores metalúrgicos do ABC paulista naquele ano.
O ex-presidente ex-presidente Lula fez essas considerações como a última pessoa a prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV). na 2ª feira desta semana quando ela já estava prestes a encerrar seus trabalhos. Ele falou por cerca de uma hora à CNV e centrou seu depoimento em dois momentos históricos: as greves que comandou no ABC paulista no fim dos anos 1970 e naquela ano de 1980 quando foi preso. O ex-chefe do governo prestou seu depoimento no Instituto Lula a dois membros da CNV, à psicanalista Maria Rita Kehl e ao sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro.
Entre 19 de abril e 20 de maio de 1980, o ex-presidente ficou preso na sede do DOPS paulista quando ainda era o mais importante líder sindical no país e comandava atividades consideradas “ilegais” pela ditadura. As assembleias organizadas por ele, quando presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, eram monitoradas por agentes de todos os tipos de polícia política do regime militar a ditadura e a greve metalúrgica que comandou naquele ano foi considerada o maior desafio do tipo (greve) feito aos militares.
STJ decide que Brilhante Ustra deve ser processado
As concentrações de trabalhadores no estádio de Vila Euclides eram acompanhadas por sobrevoos de helicópteros militares e transformavam o ABC paulista em praça de guerra. No ano seguinte, Lula foi condenado pela Justiça Militar a 3,6 anos de prisão por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada em 1982. Ele já fundava então o PT e emergia cada vez mais como o maior líder popular do país, sindical e político.
Na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também falou sobre a perseguição que sofreu durante a ditadura. FHC foi preso, encapuzado e, perseguido, precisou se auto-exilar. À CNV ele preferiu falar mais do auto-exílio no Chile e na França. FHC foi o penúltimo a depor a CNV.
Esta última semana de trabalho da CNV foi marcada, também, por uma decisão histórica do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na 2ª feira passada a Corte decidiu que o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra – comandante do DOI-CODI-SP no início dos anos 70 – deve ser processado e responder por dano moral em casos de tortura. A 3ª Turma do STJ decidiu, por três votos a dois, que ele pode ser responsabilizado por danos morais decorrentes de tortura durante a ditadura militar.
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