quarta-feira, 11 de março de 2015

POLÍTICA - O Fátuo e o fato.

Raul Longo.
                     
 Impressionante a força do fátuo na história do Brasil. Muito mais do que a do fato, ou dos fatos, por mais concretos sejam.
Paradoxalmente a palavra não é de uso comum e convém se recorrer aos dicionários para explicar seu sentido.
Na versão eletrônica mais recente do tradicional, “Aurélio”, onde em nome da fatuidade das informações apressadas se sacrificou os esforços do saudoso mestre se aponta apenas que FÁTUO é o adjetivo empregado para o Muito tolo/ Vaidoso e Presunçoso/ Transitório. Já na versão que se dispõem do Houaiss, tradutor de clássicos da literatura universal para o português,  a explicação do vocábulo dimensiona melhor o que exerce tanta influência nos brasileiros de diferentes segmentos sociais e ideológicos: muito estulto e com alta opinião de si próprio; vaidoso e oco; presunçoso/que é tolo, insensato/que permanece por pouco tempo; que é fugaz, transitório.
Para não irmos muito longe lembrando dos arrependimentos e decepções do Marechal Deodoro que por fátuas fofocas de gabinete destronou seu amigo Pedro II inaugurando a República; recordemos apenas momentos mais recentes de nossa história onde cotidianamente o FÁTUO nos é empulhado pela Mídia como FATO, apesar de totalmente destituído de qualquer fundamento que alicerce à construção da história de uma nação.
Por exemplo, a declaração de uma mocinha durante manifestação pelo impeachment da presidenta reeleita alguns meses antes, afirmando querer a volta da ditadura militar porque deseja usufruir de maior liberdade de expressão. Pode haver maior exemplo de estultice do que esse?
E o roqueiro Lobão reclamando de o estarem tirando para otário porque ao invés de apenas pedirem o impeachment, fazem coro à tola jovenzinha, imaginava-se o quê? Que tão alta opinião tem o Lobão de si próprio que o impediu de enxergar que como todos os demais está sendo usado pelos que pretendem que o exército reedite a quartelada de 64, novamente  subvertendo o processo democrático?
Alguém pode ser tão insensato a ponto de imaginar que sem alguma fundamentação se possa produzir o impeachment de algo ou alguém instituído democraticamente pela maioria de votos, depois alguns dias de eleito, sem se apresentar qualquer fato que justifique providência de tal monta? E se fato não há, evidente que pretendem que as Forças Armadas façam o serviço!
Collor de Melo, um fátuo “Caçador de Marajás” criado pela Mídia, desde o sequestro das mínimas economias populares até o escândalo de PC Farias produziu fatos de sobejo para seu impeachment, mas que vaidade é essa que passa pela cabeça dos que mobilizam manifestações como a que ocorrerá no próximo 15 de março, a ponto de se acreditarem de tanta confiança às Forças Armadas que até transferia-lhes o poder negado pela maioria do eleitorado nacional? São mais ocos do que as panelas utilizadas na vã tentativa de silenciar o que não querem escutar nos pronunciamentos da Presidenta que não querem porque não querem que presida o país.
Que se comportem como meninos turrões e manhosos, mas se lembrem de que se continuarem insistindo na contratação de vândalos e marginais para promover quebra-quebra, violência, atentados e sequestros de direitos elementares da população, como acaba de ocorrer com os caminhoneiros agredidos nas estradas por grupos que se mentiam grevistas; talvez consigam obrigar a Presidenta a convocar a interferência do exército. Como comandante em Chefe das Forças Armadas seu cargo lhe oferece essa prerrogativa e isso é fato. Está previsto pela Constituição.
Em qual fato se fundamenta a oposição para mobilizar as massas em busca de um terceiro turno que nunca foi previsto por constituição alguma? Pura presunção!
No imaginário da tolice própria dos presunçosos que irão às ruas no 15 de março, o pedido de impeachment se baseia substancialmente nas roubalheiras do PT. É muita estultice acreditar que exista algum partido político onde nunca nenhum de seus integrantes tenha sido oportunista e se esforçado mais por seus interesses pessoais do que pelos do próprio partido ou de toda a nação. Mas muito mais estulto é aquele que defende o partido que enquanto esteve no governo engavetou mais de 600 processos, em detrimento do que recuperou o país aferindo resultados internacionalmente documentados pelo jornal Washington Post, pela OMS, UNICEF, o Banco Mundial e ONU.
Dados que são fatos do conhecimento internacional e vale a pena comparar alguns deles para se poder distinguir do que é fátuo:
PIB  2002 : R$1,48 trilhões  2013 : R$4,84 trilhões / PIB per capita  2002 : R$7,6 mil  2013: R$24,1 mil/ Lucro do BNDES  2002 : R$ 850milhões  2013 : R$8,15 bilhões/ Lucro do Banco Brasil  2002 : R$2bilhões 2013 : R$15,8 bilhões/ Lucro da CEF  2002 :  R$1,1bilhões  2013 :  R$6,7 bilhões/ Produção veículos  2002 :  1,8 milhões  2013:  6,7 milhões/ Safra agrícola 2002 : 97 milhões de ton  2013 : 188 milhões de ton./ Investim.estrang,direto  2002 :  US$16,6 bilhões  2013 : US$64 bilhões/ Reservas internas. 2002 :  US$37 bilhões 2013 :  US$376 bilhões/  Índice Bovespa  2002 :  11.268 pontos  2013 :  51.507 pontos/ Empregos gerados - FHC. : 627 mil  Lula e Dilma : 1,79 milhões/ Desemprego 2002  :  12,2%  2013 : 5,4%/ Taxa extrema pobreza  2003 : 15%  2013 : 5,2%/ IDH  2000 : 0,669  2012 : 0,730/ Mortalidade infantil  2002 : 25,3 por 100 mil nascidos vivos  2013 :  12,9 por 100 mil nascidos vivos/ Gastos com saúde 2002 : R$28 bilhões  2013 : R$106 bilhões/ Gastos com educação  2002 : R$17 bilhões  2013 : R$94 bilhões/ Estudantes no ensino superior - 2002 : 583.800  2013 : 1.087.400/ Risco Brasil  2002 : 1.446  2013 :  224/ Operações  da Polícia Federal  FHC : 48  Lula e Dilma  1.273 (15 mil presos)/ Varas da Justiça Federal 2002 : 100  2010 : 513.
Estão aí relacionados 21 fatos divulgados internacionalmente pelas mais conceituadas instituições e órgãos da imprensa estrangeira. Por qual deles se vai às ruas no próximo 15 de Março?
Pelos desvios na Petrobras, não relacionados nesta lista? Sim, os desvios na Petrobras são mesmo factuais e ocorrem há muitas décadas, conforme vários jornalistas passaram a divulgar assim que denúncias desse tipo deixaram de ser motivo de assassinatos, desaparecimentos, exílios ou torturas que a estulta da manifestante entende como liberdade de expressão.
No entanto apesar de denunciados, mesmo depois da ditadura os desvios nunca foram investigados antes de 2008 quando se deu início a Operação Lava Jato que levou aos cargos de diretoria por indicações do governo do PSDB quando ao esquema também se incluiu seu principal agente de lavagem de dinheiro: o doleiro Alberto Youssef.
Por presunção de que aquelas investigações jamais chegariam aos blindados por juízes corruptos, com o apoio da Mídia procuraram distorcer os fatos para fundamentar a assinatura do presidente da Câmara Federal a um pedido de impeachment. São tão fátuos que sequer se deram conta de terem eleito à presidência daquela importante casa de representação do povo brasileiro, um notório escroque contra o qual correm 13 processos nas instâncias judiciárias do país.
Ou melhor, 14, pois agora também foi indiciado no STF como um dos envolvidos no mesmo esquema de desvio da Petrobras pela primeira vez investigado. Querer que o meliante dê ordem de prisão ao policial que o flagra ou que o réu condene ao juiz é de uma estultice inominável que só ocorre em país onde se substitui o fato pelo fátuo.
E o fato, internacionalmente muito conhecido, é que apesar de vitimada por tantos desvios e roubos que hoje lhe acarretam uma enorme dívida, o potencial da Petrobras é tão imenso que em meio ao maior ataque sofrido pela empresa desde a tentativa do governo do PSDB em transferi-la ao capital estrangeiro como Petrobrax; em 2014 se tornou a maior empresa petroleira do mundo, ultrapassando a ExxonMoboil  em produção!
É por isso que vão as ruas? Para que os que extorquiram o maior patrimônio público brasileiro e mais rentável empresa pública do mundo sejam mandados para a cadeia? Para que jamais se torne a cogitar em privatizá-la e entregá-la ao capital estrangeiro?
Esses são os motivos dos que irão às ruas dois dias antes, em 13 de março, pra defender a Petrobras. E os do dia 15 é por quê? Pelo inverso?
Nesse caso não seria mais correto apenas se mudarem de país? E não se faça comparações fátuas com o slogan que ditadura a plagiou do “America way of live”, pois aqueles então mandados para fora do país não desejavam vende-lo. Muito pelo contrário! E por serem contrários à venda dos patrimônios e potenciais brasileiros foram expulsos, enquanto esses que agora continuam querendo vendê-lo, não querem deixar o Brasil antes de completarem o negócio e receberem suas comissões. E ainda por cima querem que as instituições criadas para salvaguardar a pátria e defender a segurança nacional, lhes deem garantias e proteção para concluir seus velhos intentos de lesar a pátria! O que pode ser mais fátuo?
Outras fatuidades são alegadas, como o recente aumento da gasolina em R$ 0,22. Insensatamente histérica uma gaúcha gritava num posto de revenda  tentando convencer seus concidadãos a não abastecerem seus automóveis para forçar a anulação do aumento. Saberá a tola qual foi, de fato, o aumento do produto no decorrer dos últimos 12 anos? 45%. Exatamente a porcentagem da média mensal de aumento entre os anos de 1995 a 2002, quando a gasolina brasileira estava entre as 20 mais caras do mundo. Isso é fato tanto quanto é fato que o preço da gasolina do Brasil, hoje, ocupa a 73º posição neste mesmo ranking.
Outra tolice da presunção das madames das zonas urbanas de classe média ao mandar que suas empregadas batam nas panelas, é a de querer justificar a marcha de 15 de março com a inflação. De fato a inflação não é tão fátua para a empregada quanto para a madame, mas do fato da inflação ter atingido neste mês o mesmo patamar de 7% para o qual caiu em 2003, não será tão sentido pela família da  empregada quanto os 20% atingidos no ano de 2002. Podem já ter esquecido desse realidade, mas a previsão dos analistas econômicos de fato que nunca concordam com a fatuidade dos da Mídia, é de que até o final deste ano o Brasil mais uma vez superará esta fase da crise financeira internacional que bem mais afeta aos trabalhadores de outras nações que não têm a sorte de estarem incluídos entre as 4 que tiveram o maior avanço salarial no decorrer da última década: China, Camboja, Alemanha e Brasil.
Ou será que não é exatamente por isso que protestaram batendo panelas e protestarão nas ruas em 15 de março, confirmando a fatuidade de quem reclama da violência urbana, mas não tem capacidade sequer para recordar de quanto era mais sensível antes da redução da miserabilidade? Quando o índice de desemprego no Brasil só era menor do que o da Índia?
Querer que consigam imaginar o caos em que estaríamos envoltos com a progressão daquela violência sem os programas sociais que tiraram o Brasil do Mapa Mundial da Fome da ONU, nem pensar!
Mas aqui chegamos também a fatuidade de outras linhas ideológicas brasileiras que se dizem preocupadas com os operários, os trabalhadores, os desprotegidos sociais. Dos que se dizem marxistas ou gramscianos. Sejam os que se consideram moderados ou radicais. Leninistas, maoístas, trotskistas ou stalinistas. Quaisquer dos que tanto se ocupam em acusar o governo de Lula ou Dilma de continuísmo do capitalismo selvagem e não tiveram tempo para considerar aqueles 21 fatos elencados internacionalmente, como de alta significação social.
Também a fatuidade dos metidos a ambientalistas e ecólogos que igualmente preocupados em repercutir especulações da Mídia, ignoraram o relatório emitido em 5 de junho de 2014 após reunião da ONU ocorrida em Boon. Aquele documento registra o fato do Brasil ter sido o país do mundo onde mais se reduziu o desmatamento e a emissão de gases provocadores do efeito estufa.
No Brasil tais fatos nunca tiveram a mesma força que as fatuidades, inclusive de alguns petistas que a cada jornada, panelaço ou marcha promovida pela direita ficam buscando onde o Lula errou, onde a Dilma falhou. Fatuidade de uma esquerda que jamais questiona o próprio comodismo pequeno-burguês incapaz de algum esforço para manter uma mobilização popular em defesa das conquistas de maiores direitos e oportunidades a trabalhadores, índios, negros, mulheres, às diversidades sexuais e regionais, aos oprimidos e a todos os segmentos que antes, mesmo sem serem escutados, eram os que ocupavam as ruas e praças que já foram do condor, e agora estão abandonadas e entregues às elites e seus mercenários que se espera que não compareceram no próximo 15 de março.
Em 1964, aqueles 21 fatos divulgados pelos mais respeitadas entidades e organismos internacionais ainda não ocorriam no Brasil e quando se tornaram possibilidades previstas pelo anúncio das reformas de base do governo João Goulart, o exército e toda as Forças Armadas Brasileiras, com a participação do poder político estrangeiro e do capital de civis brasileiros, fecharam as ruas e praças do país por 20 anos. Ainda haverá generais, brigadeiros ou almirantes dispostos a fechá-las novamente por mera fatuidade de uma classe média descontente com o salário que têm de pagar àqueles que limpam suas casas, cuidam de seus filhos, preparam-lhes as refeições ou geram os lucros de suas empresas?
Seriam a esses ricos brasileiros que as Forças Armadas defenderiam? A esses brasileiros que quando reclamam dos impostos o diretor da Tax Justice Network, John Cristensen, diz só poder “... crer que estejam brincando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo”, seriam os que as Forças Armadas do Brasil garantiriam segurança?
John Cristensen é um fato. A moral de Eduardo Cunha para presidir a Câmera Federal é fátua. Portanto, para sair dos quartéis em apoio a um pedido de impeachment como quer a moça que não se sente usufruindo plenos direitos de liberdade de expressão e os demais manifestantes do próximo 15 de março, as Forças Armadas terão de optar entre o fátuo e o fato.
Terão de escolher entre o fato democrático das últimas eleições e a fatuidade de um terceiro turno obtido através do tumulto, da promoção de instabilidade nacional por uma oposição que se resume à Mídia, determinadas bancadas de representação de alguns setores religiosos e de especuladores capitaneados pelo PSDB.
Entre os fatos e a opinião internacional ou a fátua intenção de promover um golpe ou de apenas fazer sangrar, como se expressam os incapazes de argumentar através de projetos concretos para a evolução sócio/econômica ou moral do país e do povo brasileiro, ao que as Forças Armadas escolherão se forçadas a tanto?
Na verdade, isso de imaginar uma interferência militar já é em si uma grande fatuidade. Enquanto não houver abuso e se ninguém recorrer a violência, “intolerável” – como advertiu a Comandante em Chefe das Forças Armadas, jamais ela as convocará. Da mesma forma que é  improvável que seus oficiais se deixem influir por manifestações fugazes de efeitos transitórios que mesmo que se repitam, não passam de insatisfações de fátuos que já se provaram não ter condição de permanecer por mais tempo na condução de um país que hoje se inclui entre os mais importantes e significativos para o mundo.
E essa importância e significação é um fato que se pode comprovar, por exemplo, através desse link de reportagem da TV polonesa sobre aquisição de helicópteros produzidos no Brasil por aquele país da União Europeia. Apenas um exemplo, mas fato comprovado nestas imagens: https://www.facebook.com/video.php?v=782288611857321&pnref=story
Aos fátuos assistiremos em 15 de março próximo.

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