Escrito por: Maíra Streit
Fonte: Portal Fórum
Fonte: Portal Fórum
Uma figura, no mínimo, curiosa: conheça o repórter-DJ acusado de ameaça a fontes, invasão de domicílio e falsidade ideológica; matéria assinada por Campbell obrigou a revista Veja a pedir desculpas aos leitores e ao próprio ex-presidente Lula
A coluna “Nas Asas do Planalto”, da revista Veja Brasília, por várias
vezes se rendeu à fofoca política para tentar emplacar suas notas entre
os leitores mais ácidos e curiosos. Nos textos assinados pelo jornalista
Ullisses Campbell, é possível conferir um conhecido deputado da capital
aproveitando o Carnaval carioca de máscara e peito desnudo, que,
segundo o próprio repórter, teria “arrancado suspiros” por onde passava.
Em outra edição, é a vez do governador do Distrito Federal ser flagrado
dançando com a rainha de bateria da escola de samba Aruc. A nota,
intitulada “De olho na mulata”, fazia uma crítica à visita do político
ao galpão da escola, já que havia cancelado os desfiles de Carnaval no
DF por falta de verbas.
Passada a empolgação carnavalesca, mas ainda com boa dose de veneno, a
coluna escolheu como alvo um desafeto já bastante comentado pela revista
Veja: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dessa vez, Ullisses
Campbell trouxe a notícia de uma megafesta que estaria sendo organizada
para um sobrinho do petista, de três anos. Segundo a publicação, o
evento teria custado o valor de R$ 220 mil, pago em dinheiro vivo, e
presentearia os convidados com um Ipad para cada um.
As afirmações foram desmentidas pela própria Veja, logo depois, em nota.
Não sem antes tornar-se protagonista, mais uma vez, de uma sucessão de
técnicas bastante questionáveis do ponto de vista da ética jornalística.
O repórter responsável pela “barriga” – termo utilizado na imprensa
quando há ampla divulgação de uma notícia errada – foi acusado pela
família de Lula por invasão de domicílio, ameaças e tentativa de se
passar por outras pessoas a fim de obter informações. Os parentes do
ex-presidente, inclusive, registraram um boletim de ocorrência contra o
funcionário da revista.
Mas, afinal, quem é Ullisses Campbell?
Repórter paraense de 43 anos, Ullisses morou em São Paulo e hoje se
encontra na capital federal. Antes da Veja, teve passagens por veículos
como Folha de S. Paulo, Correio Braziliense e Marie Claire. Um
experiente jornalista que trabalhou com ele em Brasília afirmou, em
conversa com a Fórum, que a imagem de Campbell simboliza muito do que se
tornou a mídia brasileira na atualidade: uma porta-voz do antipetismo.
Segundo a fonte, que preferiu não se identificar, o repórter é mais um
dos que tentam espaço na Veja abrindo mão de princípios básicos da
profissão. “Esse tipo de jornalista está em voga. Contra o PT, vale
tudo. A mídia é um grande partido de oposição e os que ascendem são,
preferencialmente, os que fazem o serviço sujo”, pontua.
A fonte afirma ainda que esses “profissionais” acabam contribuindo para
a imagem negativa da categoria perante o público. “Eles não têm
formação política, são iletrados, não têm senso crítico. Cumprem a pauta
a qualquer preço e de qualquer forma, como uma maneira de agradar os
patrões. São oportunistas que viram jornalistas”, declarou. “Isso é o
que tenho a dizer sobre essa triste figura”, comentou a respeito de
Campbell, que considera nunca ter sido um repórter “brilhante”.
Pesquisa sobre a biografia do agora célebre funcionário da Veja mostra
que o forte dele, na verdade, não é o dia a dia das redações. Em 2003,
para tentar fugir do estresse da profissão, segundo suas palavras, fez
um curso de DJ e se lançou no mercado. Hoje, ele pode ser visto na
noitada brasiliense tocando em festas da alta sociedade e locais como
Gate’s Pub, Bocanegra e a boate Victoria Haus.
É um dos organizadores da festa Bagaço, conhecida por misturar estilos
que vão desde MPB a artistas como Xuxa, Rouge e Chitãozinho &
Xororó. Em uma entrevista concedida em 2006 ao portal Parou Tudo, ligado
à agenda cultural do cenário LGBT, Campbell se definiu como “muito
baladeiro” e, questionado sobre a comparação entre jornalismo e a
discotecagem, disse que se trata de “coisas totalmente diferentes”.
Segundo ele, à frente das pistas de dança, o mais importante é seguir a
intuição. E no jornalismo? “No jornalismo, eu sigo um código de ética
rigoroso”, concluiu o repórter-DJ denunciado por invasão e falsidade
ideológica.
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