Mídia escancara parcialidade no caso FHC
Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Imparcial, isenta, independente, neutra, pluralista, apartidária: é assim que a grande imprensa brasileira gosta de se apresentar. Alguém ainda pode acreditar nisso?
Quem mais gosta de ostentar estas qualificações virtuosas é a Folha, o jornal de maior circulação no País faz mais de 20 anos, a ponto de perguntar em sua seção "Tendências/Debates" no último sábado: "A Folha é pluralista o suficiente?". Para mostrar que é, publica um artigo respondendo que "sim" e outro que "não".
Na primeira página da mesma edição, o jornal publica duas chamadas que mostram aos leitores a realidade fora da propaganda. Em dois casos análogos, o tratamento é diferenciado conforme o personagem abordado na notícia. Vejam a sutileza:
"Marita Lorenz, espiã da CIA e ex-amante de Fidel, conta em livro a sua trajetória".
"A empresa Brasif - acusada de usar contrato fictício com a jornalista Mirian Dutra para ajudar o ex-presidente FHC (PSDB) a bancar ex-namorada no exterior - negou que o tucano tenha participado da contratação".
Quer dizer, no caso de Fidel, é "ex-amante"; no de FHC, "ex-namorada".
Menos sutil é a revista Veja. Na mesma semana em que a revelação do caso FHC foi o assunto mais comentado nas redes sociais e em toda parte (menos na mídia grande), a nossa ainda maior revista semanal simplesmente ignorou o tema em sua capa, que pela 968ª vez foi dedicada a denúncias contra o ex-presidente Lula. E, em suas 98 páginas, a revista não dedicou uma única linha para tratar das denúncias de Mirian Dutra que provocaram grande repercussão.
Sua principal concorrente, a revista Época, também ignorou o assunto na capa e lhe reservou apenas duas paginetas, sob a rubrica "Teatro da Política", com um texto escrito cheio de dedos, não assinado, costurado em notas oficiais, como se estivesse pisando em ovos.
Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre a descarada parcialidade da mídia ao tratar de denúncias contra os dois ex-presidentes, a cobertura do caso FHC pelos principais veículos mostrou que a "missão de informar e noticiar fatos", como diz Veja em sua "Carta ao Leitor", não passa de propaganda enganosa.
A revista ainda teve o requinte de afirmar nesta carta, sob o título "De que lado está Veja?", que a "Veja sempre esteve entre as forças da nação que se unem em torno dos valores éticos comuns às sociedades civilizadas e avançadas".
Para reforçar a afirmação anônima, o editor republicou anúncios de uma campanha publicitária de 1999 com frases como "A esquerda acha que a Veja é de direita" e "A direita, que é esquerdista". Nem se trata de ser de esquerda ou de direita, mas apenas de ser honesta com seu leitorado, tratando de todos os fatos e personagens com as mesmas medidas, não manipulando nem omitindo informações.
É sintomático que, na mesma semana, Veja e Folha, líderes de mercado em seus segmentos, questionem-se sobre o próprio comportamento editorial.
Mantenho o que escrevi aqui em post anterior sobre a vida privada dos homens públicos, que deve ser preservada, até o limite do interesse público. Outra coisa é esta cobertura parcial e seletiva da velha imprensa familiar, em que uns são sistematicamente atacados e, outros, defendidos. O que vale para um, não vale para outro; são mil pesos e mil medidas.
Chega até a dar vergonha de ser jornalista.
Vida que segue.
Quem mais gosta de ostentar estas qualificações virtuosas é a Folha, o jornal de maior circulação no País faz mais de 20 anos, a ponto de perguntar em sua seção "Tendências/Debates" no último sábado: "A Folha é pluralista o suficiente?". Para mostrar que é, publica um artigo respondendo que "sim" e outro que "não".
Na primeira página da mesma edição, o jornal publica duas chamadas que mostram aos leitores a realidade fora da propaganda. Em dois casos análogos, o tratamento é diferenciado conforme o personagem abordado na notícia. Vejam a sutileza:
"Marita Lorenz, espiã da CIA e ex-amante de Fidel, conta em livro a sua trajetória".
"A empresa Brasif - acusada de usar contrato fictício com a jornalista Mirian Dutra para ajudar o ex-presidente FHC (PSDB) a bancar ex-namorada no exterior - negou que o tucano tenha participado da contratação".
Quer dizer, no caso de Fidel, é "ex-amante"; no de FHC, "ex-namorada".
Menos sutil é a revista Veja. Na mesma semana em que a revelação do caso FHC foi o assunto mais comentado nas redes sociais e em toda parte (menos na mídia grande), a nossa ainda maior revista semanal simplesmente ignorou o tema em sua capa, que pela 968ª vez foi dedicada a denúncias contra o ex-presidente Lula. E, em suas 98 páginas, a revista não dedicou uma única linha para tratar das denúncias de Mirian Dutra que provocaram grande repercussão.
Sua principal concorrente, a revista Época, também ignorou o assunto na capa e lhe reservou apenas duas paginetas, sob a rubrica "Teatro da Política", com um texto escrito cheio de dedos, não assinado, costurado em notas oficiais, como se estivesse pisando em ovos.
Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre a descarada parcialidade da mídia ao tratar de denúncias contra os dois ex-presidentes, a cobertura do caso FHC pelos principais veículos mostrou que a "missão de informar e noticiar fatos", como diz Veja em sua "Carta ao Leitor", não passa de propaganda enganosa.
A revista ainda teve o requinte de afirmar nesta carta, sob o título "De que lado está Veja?", que a "Veja sempre esteve entre as forças da nação que se unem em torno dos valores éticos comuns às sociedades civilizadas e avançadas".
Para reforçar a afirmação anônima, o editor republicou anúncios de uma campanha publicitária de 1999 com frases como "A esquerda acha que a Veja é de direita" e "A direita, que é esquerdista". Nem se trata de ser de esquerda ou de direita, mas apenas de ser honesta com seu leitorado, tratando de todos os fatos e personagens com as mesmas medidas, não manipulando nem omitindo informações.
É sintomático que, na mesma semana, Veja e Folha, líderes de mercado em seus segmentos, questionem-se sobre o próprio comportamento editorial.
Mantenho o que escrevi aqui em post anterior sobre a vida privada dos homens públicos, que deve ser preservada, até o limite do interesse público. Outra coisa é esta cobertura parcial e seletiva da velha imprensa familiar, em que uns são sistematicamente atacados e, outros, defendidos. O que vale para um, não vale para outro; são mil pesos e mil medidas.
Chega até a dar vergonha de ser jornalista.
Vida que segue.
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